O Rio que passou na vida de Paulinho da Viola
Estrela do samba e do choro, o músico atravessou 2015 à frente da concorrida turnê comemorativa dos cinquenta anos de carreira
O artista anda cansado. “Primeiro foi um problema na vista, depois o braço. Comentei com o médico que a culpa é dessa correria”, desabafa. Pudera. Paulinho da Viola, ícone do samba, do choro e da serenidade, teve uma temporada movimentada. A celebração de seus cinquenta anos de carreira, completados no ano passado, avançou por 2015. Em março, ele enfrentou a bateria de entrevistas provocada pelo lançamento de Ruas que Sonhei, caixa de onze CDs com versões remasterizadas da sua produção entre 1968 e 1979, além de um disco com faixas raras, pela gravadora Universal Music. Antes e depois, peregrinou com a turnê comemorativa por todo o Brasil, de Natal a Porto Alegre, de Trancoso a Sorocaba, passando por Fortaleza, Vitória e Belo Horizonte, entre outras cidades. Experimentou longos e cansativos períodos longe de casa, da coleção de 3 000 discos de vinil, da oficina onde costuma gastar horas mergulhado nas artes da marcenaria. Após um breve descanso, quando pretende curtir as festas em família, o show voltará ao Rio, para uma sessão de despedida, em janeiro. Mais emoções estão reservadas para 2016: “Faço planos de lançar um novo disco, já tenho algumas músicas prontas”, conta, depois de se surpreender ao constatar que seu último disco de inéditas, Bebadosamba, é de 1996. “Como o tempo passa rápido.” Esse senhor sossegado, hoje com 73 anos, foi um garoto inquieto. Zanzava pendurado no estribo do bonde e levou dois tombos feios — deslocou o maxilar em um e quebrou o braço no outro. “Eu dava muito trabalho”, reconhece, com uma pontinha de orgulho. A música o acalmou. Filho de César Faria (1919-2007), violonista do grupo Época de Ouro, o menino cresceu entre rodas em que tocavam portentos do choro como Jacob do Bandolim e Pixinguinha. No samba, as muitas influências incluem os antigos blocos de rua de Botafogo, o bairro onde passou a infância, a Portela, sua escola de coração, e mestres como Cartola, de quem ele recebeu o primeiro cachê, em 1964, marco inicial de uma bela trajetória.