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Museu da Cidade será reaberto no dia 16 de julho após seis anos fechado

Instituição que guarda precioso (e curioso) acervo sobre a cidade promete recuperar o brilho perdido de um dos recantos mais bonitos do Rio, na Gávea

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 2 jun 2017, 12h04 - Publicado em 2 jul 2016, 01h00

Em meio à herança de obras e projetos de requalificação urbana a ser deixada pelos Jogos Olímpicos para os cariocas, os museus que a cidade ganhou recentemente chamam atenção. O MAR e o Museu do Amanhã, na Praça Mauá, não apenas se consolidaram como atrações culturais de primeira linha como também se tornaram opções de lazer e alavancaram a recuperação de áreas antes degradadas. A expectativa agora é que o mesmo fenômeno se repita com o Museu da Cidade, no Alto da Gávea. Fechado ao público desde 2010 e instalado em um pitoresco conjunto arquitetônico formado por um palacete e um casarão do século XIX e ainda por uma capela dos primórdios do século XX, o complexo tem sua reabertura marcada para 16 de julho. Na ocasião, um dos prédios do conjunto, o casarão de três andares com linhas coloniais, sediará uma exposição temporária concebida por Oskar Metsavaht, o criador da grife Osklen. A mostra terá como tema o Cristo Redentor e incluirá peças do espetacular acervo de 24 000 itens da instituição — um tesouro repleto de pinturas, gravuras, fotografias, esculturas, armas históricas, porcelanas e mobiliário. “Essa é mais uma joia do município que precisava ser revitalizada. E a exposição é emblemática ao aliar a cultura ao símbolo de maior representatividade mundial do Rio”, diz o prefeito Eduardo Paes.

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Se o evento de abertura foi pensado para se tornar um atrativo a mais para os visitantes que estarão na cidade para a Olimpíada, a mostra permanente instalada no palacete vizinho ao casarão proporcionará aos cariocas a oportunidade de conhecer a própria história por meio de peças que há anos estão fora da vista do público. Com inauguração prevista para o fim do ano, completando o projeto de restauração orçado em 4,2 milhões de reais, a ampla construção é uma atração à parte, com suas sacadas ornadas por rebuscadas grades de ferro batido. Atualmente cercado por andaimes, o prédio deve ser entregue em dezembro. “Esse é o museu que detém o maior patrimônio sobre o município. Reabri-lo é restituir à população carioca sua identidade”, explica o secretário municipal de Cultura, Junior Perin, que espera receber 150 000 visitantes até outubro.

museu da cidade acervo
museu da cidade acervo ()

Encravado em meio a uma reserva ambiental de 470 000 metros quadrados cortados pelo Rio Rainha, o museu e a área de lazer contígua enfrentaram uma longa decadência nas últimas décadas. Com o museu fechado e alternando períodos de boa conservação com outros em que o ar de abandono dava o tom, o parque foi perdendo frequentadores. Paralelamente à restauração dos prédios, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente executou ações como manejo de vegetação, limpeza, recuperação de monumentos e plantio de mais de 2 000 mudas nativas. Quem visita o local encontra trilhas ladeadas por uma mata exuberante e, com sorte, consegue avistar animais como macacos-prego, tucanos-de-bico-preto e sabiás-laranjeira. Assim como o conjunto arquitetônico principal, os banheiros e o sistema de fornecimento de água estão sendo recuperados, além do portal de entrada, tombado pelo Patrimônio Histórico. Em paralelo às ações no parque propriamente dito, a Secretaria de Conservação Pública tem realizado operações de limpeza e reordenamento urbano na Estrada Santa Marinha, o acesso ao museu que corta a Favela Parque da Cidade. “Com a reativação do museu, vamos estimular o aumento do movimento na região e torná-la mais segura”, promete o secretário Perin.

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Diferentemente de seus congêneres do Centro, sediados em prédios de arquitetura arrojada, o Museu da Cidade ocupa uma área que mantém fortes traços de seu passado rural. Conhecida no início do século XIX como Chácara do Morro do Queimado, então dedicada ao cultivo de café, a propriedade teve vários donos até ser adquirida pelo diplomata e político José Antônio Pimenta Bueno, o marquês de São Vicente (1803-1878). Em 1889, outro nobre obteve o domínio das terras, dessa vez o arquiteto português Antonio Teixeira Rodrigues, o conde de Santa Marinha. Autor dos projetos do Palácio da Liberdade e do 1º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, ambos em Belo Horizonte, ele se dedicou a embelezar o parque e o palacete, que ganhou um segundo pavimento, além de um bonito avarandado. O conde foi o responsável, ainda, pela construção do casarão de três andares destinado a abrigar os empregados da casa principal. Em 1911, um comerciante carioca, João de Carvalho Macedo Júnior, sucedeu o aristocrata lusitano e tornou-se o novo senhor do lugar, rebatizado de Villa São João. Sua maior contribuição foi a construção da capela dedicada ao santo que dava nome à propriedade ­— e que também será reaberta em 9 de julho. O último proprietário privado do complexo foi o milionário Guilherme Guinle, que adquiriu a chácara em 1929. Além de instalar um elevador no palacete, ele fez várias melhorias no prédio e no parque até vender tudo à prefeitura, em 1939, com portas fechadas. “O Guinle foi um grande colecionador de arte, um dos maiores do país. A coleção que ficou para a instituição inclui peças como porcelanas, moedas, medalhas, pinturas e gravuras”, resume a gerente de museus da Secretaria Municipal de Cultura, Heloisa Helena Queiroz.

museu da cidade história
museu da cidade história ()

Com a compra do antigo refúgio de verão da família de Guilherme Guinle, o município passou a dispor de um espaço privilegiado para consolidar um antigo projeto do prefeito Pedro Ernesto, que governou a cidade em dois períodos, entre 1931 e 1934 e entre 1935 e 1936. No último ano de seu primeiro mandato, ele criou o Museu da Cidade para abrigar a coleção municipal de peças históricas. A primeira sede foi no antigo Palácio da Prefeitura, na Praça da República, posteriormente transferida para a Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana. Mas foi apenas em 1948 que os objetos migraram em definitivo para o Alto da Gávea, onde se juntaram à vasta coleção de Guinle. Com o fechamento da área de exposição, em 2010, o acervo foi guardado em um almoxarifado, de onde começa a sair agora, às vésperas da reabertura. No processo, foram resgatadas preciosidades como plantas originais da antiga Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco; uma coleção de estandartes, entre eles o utilizado na recepção da família real portuguesa, em 1808; uma armadura da expedição de Estácio de Sá ao Rio, no século XVI; e uma cabeça de Cristo esculpida pelo francês Paul Landowski. Com 70 centímetros de altura por 50 de largura, ela serviu de estudo, na década de 20, para a estátua do Corcovado. “O Cristo Redentor só existe graças ao que hoje chamamos de crowdfunding, ou financiamento coletivo. Pessoas das mais variadas classes sociais, raças e religiões se uniram para construir o nosso maior símbolo”, conta Oskar Metsavaht, que está finalizando 24 obras inéditas, entre fotos, pinturas, vídeos e uma instalação, para a sua mostra temporária no museu. “Acredito que esse lugar se tornará mais um destino cultural e de lazer para os cariocas, inclusive por estar próximo ao Instituto Moreira Salles”, completa.

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Fonte Wallace, feita na França (uma das poucas remanescentes no Rio); ladrilhos originais; capela de São João: detalhes do novo Museu da Cidade
Fonte Wallace, feita na França (uma das poucas remanescentes no Rio); ladrilhos originais; capela de São João: detalhes do novo Museu da Cidade ()

Todas as grandes metrópoles do mundo têm instituições dedicadas a reunir, conservar e exibir objetos e documentos ligados à sua história. Cumprem esse papel o Musée Carnavalet, em Paris, o Museum of London, em Londres, e o Museum of the City of New York, em Nova York. Todos se valem de suas coleções para documentar a evolução urbana e cultural da cidade. No caso do Rio, além das preciosidades propriamente ditas, o acervo do Museu da Cidade guarda curiosidades como o menu do jantar servido durante o último baile do Império, realizado na Ilha Fiscal, seis dias antes da proclamação da República, e um exemplar dos antigos carrinhos usados pelos primeiros garis, no século XIX. “A própria denominação gari tem origem bastante pitoresca, criada a partir do nome do francês Aleixo Gary, comerciante de produtos químicos e farmacêuticos que, em 1876, teve sua empresa contratada para realizar a limpeza da cidade”, explica a museóloga Claudia Porto, ex-diretora da Casa da Marquesa de Santos e responsável pelo novo site do Museu da Cidade, em que imagens das obras estarão disponíveis para consulta virtual. 

Na categoria dos objetos com histórias inusitadas enquadra-se uma embalagem antiga do Leite de Rosas. Produzido a partir de 1929 em uma pensão de Laranjeiras por um seringalista falido com a crise da borracha, o cosmético rapidamente se tornou um ícone carioca e chegou a ter Carmen Miranda como garota-propaganda. Ainda no rol das curiosidades, uma nova atração deve chegar em breve. Trata-se de uma maquete de 30 metros quadrados que retrata a cidade e seus principais pontos turísticos, montada com milhares de peças plásticas coloridas de Lego, doada pela empresa dinamarquesa em homenagem à Olimpíada. Um presente à altura para celebrar a reabertura do museu.

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