Mostra revela como um trio de cronistas via o Rio
Exposição no Arte Sesc, no Flamengo, revela como a cidade era vista de modo distinto por três autores — Mário Lago, Rubem Braga e João Antônio
Não há registro de que os três tenham se encontrado, nem que fosse uma única vez na vida. Mas havia muito em comum entre eles, a começar pela admiração mútua e pelo fato de o Rio ser o cenário principal em várias de suas crônicas, tanto em jornais como em livros. Mário Lago (1911-2002), mais conhecido por seu trabalho como ator, Rubem Braga (1913-1990) e João Antônio (1937-1996) formam o trio em cartaz na sede do Serviço Social do Comércio (Sesc), apelidada de “palacete cultural”, oficialmente Arte Sesc, no Flamengo. Reuniram-se documentos e objetos pessoais e foram produzidos curtas e vídeos para compor a exposição O Rio de Mário, Rubem e João, que estreou nesta semana e vai até setembro. Há ainda a ambientação de um bar típico dos anos 60, mas decorado com livros e papeladas, como cabe a escritores. O visitante perceberá que a cidade era vista de modo diverso pelos três.
Enquanto Rubem Braga enxergava o Rio com romantismo, Mário Lago, mais contestador, costumava retratar a boemia com passionalidade, e João Antônio, por sua vez, sempre mostrava o submundo, o underground, nossos personagens marginalizados. Compositor de mão cheia e pouco lembrado como cronista, Lago, comunista histórico, é autor de duas canções conhecidas por qualquer brasileiro: o samba Ai, que Saudades da Amélia (com Ataulfo Alves) e a marchinha Aurora. Era cria da Lapa, frequentava seus bares, mas curiosamente não bebia. Varava noites à base de cafezinho e água mineral. Descrevia-se assim: “Eu nasci inconformado. Sou vocacionalmente rebelde e endocrinologicamente carioca”. Na foto maior, ele está ao lado da esposa, Zeli, com o filho Antônio Henrique no colo, em 1948, na Lagoa. Quem joga frescobol em Ipanema é Rubem Braga, nos anos 60. E, entre livros e revistas, aparece João Antônio, nessa mesma década.