“Posso inspirar outras mulheres”, diz Anielle sobre denúncia de assédio

Ministra da Igualdade Racial falou ao Fantástico sobre o caso envolvendo Silvio Almeida, que respondia pela pasta de Direitos Humanos: 'a vítima é a vítima'

Por Da Redação
7 out 2024, 13h26
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Anielle Franco: 'Tem uns estágios ali que fazem você se sentir culpada, insegura, vulnerável, e eu decidi que falaria primeiro nas instâncias devidas'. (TV Globo/Reprodução)
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Um mês após virem à tona denúncias de que o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, a teria importunado sexualmente, e na semana em que prestou depoimento sobre o caso à Polícia Federal, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, veio à público em rede nacional para falar sobre o assunto. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, ela explicou que tomou esta decisão porque pode inspirar outras mulheres. Anielle falou sobre os episódios de importunação, que segundo ela foram vários e começaram há mais de um ano, pouco tempo depois de ambos, que não tinham qualquer tipo de relação antes, assumirem seus cargos, em 2022, na posse do presidente Lula.

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Na entrevista, a ministra da Igualdade Racial contou que tudo começou com “falas e cantadas mal postas”. “E vai escalando para um desrespeito pelo qual eu também não esperava. Até situações que mulher nenhuma precisa passar, merece passar ou deveria passar”, relatou. Emocionada, ela evitou comentar o que teria sido a gota d’água para que ela não ficasse mais calada. De acordo com pessoas que tiveram acesso à denúncia, Almeida teria tocado Anielle por debaixo da mesa durante uma reunião realizada em maio de 2023.

“No primeiro momento, eu optei pelo silêncio. A exposição indevida faz com que a gente repense, pense. Então, tem uns estágios ali que fazem você se sentir culpada, insegura, vulnerável, e eu decidi que falaria primeiro nas instâncias devidas“, disse a ministra, ao falar sobre a a demora em fazer a denúncia, que levou à demissão de Silvio Almeida. “Sabia que não era só por mim também. Era, sim, pela Anielle que foi vítima, mas também pela Anielle ministra de estado que precisa inspirar e cuidar de outras mulheres. Então, foi um depoimento onde dou todos os detalhes, onde relembro cada momento e cada ato de violência que eu passei”, acrescentou.

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Anielle reforçou que nunca teve nenhum tipo de intimidade que pudesse a levar à “qualquer tipo de condição para ele fazer o que ele fez”: “Existe uma coisa na sociedade que a gente precisa diferenciar: o que é se aproximar ou cantar uma pessoa com respeito, e o que é violentar, importunar e assediar uma pessoa. É bem diferente isso. E a gente precisa parar de normalizar quando uma mulher fala que passou por alguma coisa desse tipo e falar: ‘Ah, mas ela não deu condição? Ah, mas será que…’. Será nada. A vítima é a vítima. A palavra da mulher precisa valer“, enfatizou.

O Fantástico também ouviu Marina Ganzarolli, advogada de gênero e presidente do Me Too Brasil. Ela explicou que a demora na denúncia é muito comum nos casos de violência sexual: “O ato de revelação nunca é um evento único e, sim, um processo. Na maioria das vezes, esse processo sequer acontece. A maioria das mulheres nunca denuncia o estupro ou a violência sexual que sofreu. Mas quando uma mulher rompe o silêncio e levanta sua voz com muita coragem e com um altíssimo custo, em especial para ela, ela inspira muitas mulheres a fazê-lo”. Desde que o escândalo veio à tona, o número de ligações ao Me Too, que apoia mulheres vítimas de violência sexual, subiu quase 80%.

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No mesmo dia em que a denúncia contra ele se tornou pública, Silvio Almeida usou o site do Ministério dos Direitos Humanos para publicar uma nota e postou um vídeo nas redes sociais negando as acusações. “Em primeiro lugar, ele nega veementemente todas essas referências feitas em desfavor dele. Em segundo lugar, e o mais importante, é que essa investigação, para a defesa, continua sigilosa. Nós não tivemos acesso a nenhum depoimento — nem da ministra, nem de outras pessoas. Sabemos através da imprensa. O que não é razoável é que, em plena vigência da Constituição, que se chama de ‘Constituição Cidadã’, a defesa saiba de episódios esparsos a partir do noticiário, da imprensa escrita, falada, televisada.  Evidentemente, quando esses fatos forem impostos – esses fatos não, essas versões -, vamos contraditar todos eles e a verdade vai prevalecer“, disse ao Fantástico Nélio Machado, advogado de Silvio Almeida.

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