Setembro Amarelo começa sob o impacto da morte de família na Barra
O episódio de tristeza indizível ocorreu pouco antes do início da campanha do Setembro Amarelo, mês internacional de prevenção ao suicídio
A primeira reação, de compreensível incredulidade, não impediu que a notícia se alastrasse rápido. Das investigações emergiu o quadro inverossímil, de tão funesto: na manhã da segunda-feira 29 de agosto, Nabor Coutinho de Oliveira Júnior, 43 anos, esfaqueou a mulher, Laís Khouri, 48, que, aparentemente, dormia quando foi atacada. Depois, ele atirou os filhos, Henrique, 10, e Arthur, 7, da varanda do apartamento no 18º andar onde viviahavia dez anos. Em seguida, também pulou para a morte. A polícia encontrou uma carta atribuída a Nabor na unidade do Edifício Lagoa Azul, no condomínio Pedra de Itaúna, na Barra. No texto, ele manifesta forte preocupação com a possibilidade de não ter mais “como sustentar a família”. Ele tinha deixado havia semanas o emprego na TIM, onde trabalhava desde 1998, e feito uma aposta profissional que, pelo menos na sua cabeça, ameaçava dar errado. Acabam aí as informações. “Qualquer explicação foi embora com essa parte de nossa família, deixando tristeza e saudade”, leu, em nota à imprensa, Juliana Costa Khouri, no enterro de sua tia Laís e dos dois meninos em Formiga, em Minas Gerais, a cidade natal dela. No mesmo dia, Nabor foi sepultado sem velório em Belo Horizonte. O episódio de tristeza indizível ocorreu pouco antes do início da campanha do Setembro Amarelo, mês internacional de prevenção ao suicídio. No consenso de especialistas, tratar do assunto como tabu prejudica o combate a um mal que ceifa 800 000 vidas por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. É doloroso, mas o choque da tragédia na Barra, envolvendo uma família como tantas outras, pode inspirar esclarecedores debates sobre o tema. Albert Camus (1913-1960), o escritor para quem o suicídio era o único problema filosófico verdadeiramente sério, deu a pista no livro O Mito de Sísifo — Ensaio sobre o Absurdo: “Matar-se é de certo modo, como no melodrama, confessar. Confessar que se foi ultrapassado pela vida ou que não se tem como compreendê-la”.