Há uma década, a atriz decidiu se afastar da carreira para dedicar-se à então pequena Clara, sua primeira filha. Nesse período, teve mais três rebentos e só atuou na série Um Menino Muito Maluquinho, baseada na obra de Ziraldo. Aos 39 anos, ela volta aos palcos na sexta (14), no monólogo Barco de Papel, que escreveu e dirigiu sob a supervisão do pai, Domingos de Oliveira. Em cena, Maria Mariana vive quatro mulheres em um texto sobre buscas pessoais. Curiosamente, o espetáculo estreia na Casa de Cultura Laura Alvim, o mesmo lugar onde, há vinte anos, ela integrou o elenco do sucesso Confissões de Adolescente, também de sua autoria, que, depois de ser transformado em livro e série de TV, está a caminho do cinema.
Para alguém que foi criado no teatro, com um pai dramaturgo e diretor, tanto tempo longe dos palcos foi sofrido? Afastar-me foi uma decisão consciente, motivada pelo valor que dou à maternidade. A cada filho eu tinha vontade de ter outro, e esse período se alongou. Tinha saudade de atuar, mas nunca me arrependi da minha escolha. Ter filhos é mergulhar em um processo de autoconhecimento. Na correria do dia a dia, a gente não tem condições de parar tudo e se descobrir. Um filho consegue colocá-lo diante de você mesmo. Isso foi importante para fazer Barco de Papel.
A peça tem um tom pessoal. Podemos relacioná-la de alguma forma com Confissões de Adolescente, que também tinha esse enfoque? Barco de Papel fala de sentimentos, mas não conta nada especificamente sobre mim. É diferente de Confissões de Adolescente, em que o texto foi extraído diretamente dos meus diários. Agora, todas as personagens que eu interpreto na peça têm algo a ver comigo, mas não me sinto exposta. Estou satisfeita, acho que consegui um equilíbrio.
Sua primeira filha está com 12 anos, quase na adolescência. Para quem retratou tão bem essa fase da vida, como é lidar com isso? Sempre me perguntam o que mudou na adolescência desde a minha época. E eu sempre respondi de maneira genérica, mas agora tenho um envolvimento direto, sou mãe de uma menina que tem todas as características de uma pré-adolescente. Eu reconheço na Clara algumas coisas sobre as quais escrevi. Há algo que nunca muda, não importa a geração: esse desafio de, pela primeira vez, se posicionar diante do mundo.