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No limite do cronômetro

A três semanas do desfile, Mangueira e Portela, as maiores campeãs do Rio, têm o desafio de recuperar o atraso nos barracões para não decepcionar na avenida

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h12 - Publicado em 23 jan 2013, 16h13

Dois versos de sambas notórios ?”Mangueira, teu cenário é uma beleza” e “Portela, eu nunca vi coisa mais bela” ? perigam ficar sem sentido neste Carnaval. A três semanas do desfile na Marquês de Sapucaí, as duas escolas mais tradicionais do Rio correm contra o relógio para pôr de pé seu cortejo. Falta pouco tempo e ainda há muito a fazer em seus barracões na Cidade do Samba, onde fica a linha de montagem de alegorias e fantasias. Cada uma delas levará à Passarela do Samba 4?000 integrantes e oito carros, em tese, de encher os olhos. O problema é que, a esta altura, não há nenhuma alegoria pronta e as fantasias também sofrem com o descumprimento de prazos. Até a semana passada havia pouco material armazenado, o que sugere que nem tudo está comprado, aumentando o clima de apreensão nos barracões, com movimentação diuturna nesta reta final. Dificilmente Portela e Mangueira escaparão ilesas do atraso. “A escala de exigência de decoração carnavalesca é desumana, pois sua linguagem é a opulência, o brilho e o detalhe”, afirma o carnavalesco e comentarista Milton Cunha. “Se as alegorias ainda estão no ferro, o projeto original certamente será mutilado.”

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Com sua parte artística cada vez mais suntuosa e esmerada, as escolas cariocas precisam ter fluxo de caixa para começar seus preparativos com antecedência. Porém, salvo raras exceções, as administrações são amadoras e nada transparentes, o que leva as escolas a viver à base de improvisos e medidas paliativas. Cada uma das doze integrantes do Grupo Especial teve a receber nesta temporada uma verba em torno de 5,5 milhões de reais, vinda de variadas fontes. O aporte inicial ocorreu em agosto, quando entrou a primeira das cinco parcelas dos direitos de TV. Dois meses depois, elas começaram a receber a cota referente à comercialização de ingressos. Só em janeiro, já em cima do Carnaval, é que costuma chegar o dinheiro da Petrobras, via Secretaria Estadual de Cultura, e da prefeitura. Para piorar a situação neste ano, a estatal reteve a verba de 1 milhão de reais que dá a cada escola porque a Verde e Rosa não prestou conta de repasses anteriores.

Sem um bom planejamento, a fonte de renda seca e resta às escolas ficar na mão de um patrono endinheirado ou iniciar mais tarde seus trabalhos. Com o cerco do Ministério Público e da Polícia Federal à turma da contravenção, a primeira opção ficou mais difícil. “Somos uma fábrica de Carnaval que precisa de recursos. Quando eles demoram, o cronograma atrasa”, admite o vice-presidente da Portela, Nilo Figueiredo Júnior. Recentemente, a escola de Madureira, que completa noventa anos em abril, teve a luz e a água cortadas devido à inadimplência com a Light e a Cedae. Não é a única encrenca. A agremiação continua na lista do Cadastro de Entidades Privadas sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim) por irregularidades na prestação de contas referente a patrocínios públicos em 2006 e 2007. Como a desvalorização do produto não é bom negócio para ninguém ? patrocinadores, TV e organizadores ?, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), promotora do espetáculo, saiu em socorro da Mangueira e providenciou na semana passada um adiantamento de 1 milhão de reais para a escola.

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Não é de hoje que Mangueira e Portela exibem na avenida desempenho muito aquém de sua gloriosa história. São as duas maiores vencedoras do Carnaval, com 38 títulos somados, e celeiro de talentos como Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia e Paulinho da Viola. Desde 2000, no entanto, os campeonatos das duas rarearam e apenas em 2002 a Verde e Rosa venceu a disputa. Para o desfile de agora, a escola de samba mais popular do país renovou as esperanças do torcedor ao escolher como enredo a cidade de Cuiabá e acertar um patrocínio de 3,6 milhões de reais com a prefeitura da capital mato-grossense. Mas a penúria financeira permaneceu. Tanto Mangueira quanto Portela ainda atravessam uma turbulência política. Depois de uma batalha judicial, a eleição da primeira está marcada para abril. No mês seguinte será a vez de a rival escolher seu mandatário. Procurado por VEJA RIO, o presidente mangueirense, Ivo Meirelles, candidato à reeleição, não retornou o contato.

Enquanto as duas patinam com a desorganização, a Unidos da Tijuca segue caminho oposto. Seu barracão exibe quatro alegorias já finalizadas. Vencedora de dois dos três últimos desfiles, ela deve gastar em torno de 12 milhões de reais neste Carnaval. Como as verbas fixas cobrem apenas metade do orçamento, a Tijuca usa a criatividade para ampliar suas receitas. Ao longo do ano, faz parcerias e eventos para grandes empresas. Estrondoso sucesso no desfile de 2010, a comissão de frente, que mostrou um efeito de ilusionismo ao trocar de roupa na avenida, já fez mais de 500 apresentações Brasil afora. Em 2012, a escola recebeu a visita de 4?000 turistas estrangeiros. Assim, com dinheiro em caixa, ela consegue comprar material com muita antecedência. Em julho, costureiros e aderecistas começaram a trabalhar no barracão. Em agosto, chegaram os escultores. “Queria entender a mágica de quem faz Carnaval em dois meses”, diz o presidente da atual campeã, Fernando Horta. “Estamos lutando com toda a nossa força, sem olhar para o relógio. Espero botar na rua aquilo que imaginei. Hoje, não dá para dizer se isso será possível”, reconhece o carnavalesco da Mangueira, Cid Carvalho. Em três semanas, teremos a resposta.

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