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Locavorismo: práticas que podem ir além do consumo nas feiras do bairro

Ações de sucesso do desenvolvimento agrário e escoamento de produtos orgânicos das CSAs ganham espaço no cenário carioca

Por Luiza Frajblat*
Atualizado em 22 dez 2020, 11h12 - Publicado em 17 dez 2020, 14h17
frutas e verduras
Alimentos orgânicos do projeto AChA (Francine Xavier/Divulgação)
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Do latim locus (lugar) e vorare (engolir), o locavorismo, hábito de comprar alimentos de produtores ou pequenos comércios locais, tem ganhado cada vez mais adeptos. Francine Xavier e Flavia Brito, sócias da Cambucá Consultoria, que trabalham com gestão de gastronomia e meios sustentáveis, observaram a chegada desse movimento no Rio de Janeiro e criaram o projeto A.Ch.A, para promover a interação dos agricultores orgânicos com os chefs de cozinhas da Zona Sul carioca com a metodologia CSA (Community Supported Agriculture, ou Agricultura Suportada pela Comunidade). Originado nos Estados Unidos na década de 1980, a CSA tem como princípio a associação entre quem planta e quem consome.

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Depois de aproximar o público de restaurantes do modelo que beneficia a agricultura familiar, o foco das sócias agora é o projeto Escolas que Sustentam a Agricultura (ESCOA), em que as escolas particulares do Rio de Janeiro serão a principal ponte de divulgação das CSAs para pais de alunos, com intuito de formar novas parcerias entre participantes e agricultores. O projeto foi recém contemplado pela Faperj em um edital de inovação, e as sócias aguardam a saída do fomento para darem os próximos passos.

“A ideia é conectar escolas que queiram abraçar a ideologia do CSA e que possam oferecer às famílias dos alunos a oportunidade de ter essa parceria com a agricultura familiar, e disponibilizar essa rede. A escola é um espaço de discussão sobre a nossa sociedade, e podemos aproveitar este lugar para falar sobre alimentação além da comodidade e da questão econômica, mas também pela questão ambiental e social”, afirma Francine.

“O sistema conta com planos semestrais de cestas de alimentos que chegam toda semana na casa das famílias. O agricultor recebe um salário fixo e tem a garantia de escoamento e possibilidade de produção”, explica Julio Dain, fundador da Organicamente, outro núcleo carioca de CSA que começou com ponto agricultor. Outros pontos foram surgindo, e agora são quatro no Rio, entre 150 no Brasil.

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Apesar de ser um modo de consumir orgânicos, o sistema envolve outros fatores, como não ter controle dos itens da cesta, que varia de acordo com a colheita; e se comprometer a participar da rede por pelo menos seis meses.

“É um conceito complexo que envolve mudança de hábitos, mudança da relação com o consumo. Tem muita gente que não está disposta a isso, porque envolve não poder escolher os produtos que irão chegar semanalmente, e ter comprometimento a longo prazo com a cesta,” completa Julio.

O sistema é feito de forma flexível e revisado a cada seis meses para serem resolvidas adaptações requisitadas por alguma das partes do processo, como foi o caso da entrega em domicílio durante a pandemia do coronavírus na CSA criada por Julio Dain. Aproximadamente 200 cestas são entregues semanalmente, produzidas por três famílias de agricultores e com a ajuda de entregadores, que têm seus direitos garantidos assim como todos os participantes do sistema.

As sócias Flávia Brito e Francine Xavier, e o agricultor Flavio Lourenção, no sítio que faz parte do projeto AChA, em Seropédica
As sócias Flávia Brito e Francine Xavier, e o agricultor Flavio Lourenção, no sítio que faz parte do projeto AChA, em Seropédica (Flávia Brito/Divulgação)
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“O projeto não é simplesmente um comércio de mercadoria. Tratamos além disso: a maneira de se alimentar mais conectado com a natureza, com o alimento, com quem produz, e o que tudo isso significa. É importante procurar privilegiar o local onde você está inserido. O locavorismo traz a busca pelo desenvolvimento daquela localidade, para manter e fomentar o avanço social, econômico e cultural. Não estamos falando só de comida, estamos falando de sociedade. É o que o CSA procura”, comenta Francine.

O modelo ainda traz, além da troca dos alimentos, um vínculo pessoal, com participantes e agricultores que se conhecem.

“Essa é a principal diferença para outros sistemas. Era fundamental a ligação dos chefs com os agricultores. Era comum o grupo ir até os campos de produção visitar os produtores, passar as tardes e fazer atividades que integravam o grupo, conhecer mais a família que produzia os alimentos.

A rede da comunidade criada pelas CSAs vai além da necessidade da comida, e sim para encontros de amizades, parcerias e até para o trabalho, com networking.

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“O modelo das CSAs é uma nova forma de organização social produtiva. Significa entender as necessidades de cada família, preservando o meio ambiente. Não é algo imediato, como estamos acostumados a ter no nosso dia a dia, em que somos ensinados a olhar para a agricultura como uma indústria de alimentos. O trabalho do agricultor é de alto risco”, pondera o agroecólogo Ariel Molina, membro fundador da CSA Brasil.

Foto 3 – Julio
Fundador do CSA Organicamente, Julio Dain, em palestra no evento Gaia Education Rio, no Rio de Janeiro (Maria Clara Sanae/Divulgação)

Por isso, há a partilha de riscos e benefícios. Se, por acaso, parte da plantação for perdida por um desastre natural, as famílias recebem alimentos a menos por algumas semanas, sem deixar que o agricultor seja prejudicado. Por outro lado, pode acontecer de uma cesta vir mais recheada, e todas as famílias serem beneficiadas.

“O consumidor e participante não está somente comprando o produto de forma impessoal, não tem um papel passivo. Ele está envolvido com o processo. As pessoas participam pela ideia”, define Dain.

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*Por Luiza Frajblat, aluna de Comunicação Social da PUC – RJ 

 

 

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