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Jornalista publica livro em homenagem ao filho

Após a dolorosa perda do primogênito Rafael, Ricardo Gonzalez lança nesta terça Nem a Morte Nos Separa

Por Pedro Tinoco
Atualizado em 5 dez 2016, 12h34 - Publicado em 18 nov 2014, 12h40

 

Após dez meses de calvário por consultas médicas, hospitais e tratamentos, numa montanha-russa entre a esperança e o desespero, o jornalista Ricardo Gonzalez perdeu o filho, Rafael, aos 21 anos, vítima de câncer linfático. Depois da tragédia em que se transformou aquele ano de 2010, ele reuniu forças para seguir em frente e, generosamente, dividir suas duras experiências. “Com o livro eu quis, além de homenagear o Rafa, fazer um convite a todos os pais. Cuidem muito bem dos seus filhos, façam dos filhos uma prioridade total em suas vidas”, conta Gonzalez, autor de Nem a Morte Nos Separa (Mauad Editora, 232 págs., R$ 54,00). Rafael foi um filho daqueles de dar orgulho. Cursou história e jornalismo. Seguindo os passos do pai, começava o estágio na editoria de esportes de uma grande emissora de TV. Era bom de bola, tinha namorada e parentes que o cobriam de carinho. Com orelha assinada por uma solidária Lucinha Araújo, mãe do cantor Cazuza (1958-1990), o relato corajoso de Gonzalez ganha sessão de autógrafos nesta terça (18), a partir das 19h, na Livraria Argumento (Rua Dias Ferreira, 417, Leblon). Abaixo, o autor conta um pouco mais sobre sua vivência do luto à luta.

O luto é associado a um sentimento de tristeza profunda, recolhimento, consternação. O que o encorajou a, num sentido quase oposto ao do senso comum, abrir o coração nas páginas de um livro?

Cito dois pontos básicos, não únicos, porque é uma situação complexa. O primeiro é a necessidade pessoal muito forte de homenagear Rafael, a valentia e dignidade com as quais enfrentou a doença, os ensinamentos que ele foi deixando ao longo daqueles 10 meses, e torná-lo, de certa maneira, numa obra de arte, eterno. A segunda, o desespero de perceber quão comum é essa doença e dar um grito de alerta a todos os pais do planeta para que façam dos filhos a prioridade única em suas vidas. Eu fiz isso desde que ele nasceu, e aí quando a tragédia me atingiu não precisei ficar corrigindo erros ou arrependimentos, pude me concentrar na luta. O câncer é democrático, não escolhe dia, endereço, classe social. Pra enfrentar um monstro desse tamanho é preciso preparar-se durante toda a vida. Sem contar que se todos fizerem isso, cuidar dos filhos como se cuida de uma joia rara, o planeta ficará naturalmente muito melhor.

Em uma conversa hipotética, o que você diria para um pai que tenha acabado de passar por uma situação terrível como a sua?

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 O livro não é de auto-ajuda, é o relato de uma intensa e incondicional paixão entre um pai e filho. É a minha história com Rafael. Mas, respondendo especificamente essa pergunta, diria ao pai o seguinte: agora há dois caminhos básicos: parar ou seguir em frente. Parar significa desde tirar a própria vida até se entrevar em casa e esperar o seu dia chegar. Seguir em frente foi minha opção. Mas como? Sem algum impulso é impossível. É preciso estabelecer focos, metas que te empurrem pra frente. Não podem ser metas simples, como passar um mês em Búzios pra esquecer, quando o mês acaba você estará no chão de novo. Não podem ser metas inatingíveis, como pegar um foguete e ver a Terra da perspectiva de Marte, porque você não consegue realizar e a frustração é mais dura porque já parte machucado pela tragédia. É preciso, portanto, achar metas que te empurrem à frente mas que sejam atingíveis. Eu estabeleci três: escrever e publicar o livro, está feito; ter um outro filho, pois não acredito no sentido da vida sem que deixemos uma herança humana para o planeta, está feito; e uma meta profissional, comentar futebol, que me dá muito prazer e para a qual eu me preparei muito, com tratamento ortodôntico, fonoaudióloga, estudando a fundo o futebol, os jogos, os times, aprendendo a colocar a voz. Este objetivo está a caminho. Quando fechar o ciclo, estabeleça outros, eu farei isso, e também agora minha filha não me deixa mais a opção de recuar.

 Você teve sua filha, a risonha Maria Luísa, há seis meses. A chegada dela ajuda de alguma forma a diminuir a dor da partida do Rafa?

Não colocaria dessa forma, eles são irmãos mas cada um tem sua história. A dor da partida de um filho nunca acaba. Não gosto da palavra superação para definir minha trajetória recente. O melhor verbo é ressuscitar. Eu morri um pouco com Rafael. Eu segurava o pulso dele quando parou de pulsar. Três anos depois, ouvi no exame o coração da Malu batendo pela primeira vez, no ventre de Luciana, minha segunda esposa. A vida da minha filha ressuscitou minha condição terrena de pai. Mas pelo que ela é, independentemente do irmão.

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