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Polêmica no prado

Em meio ao bem-sucedido processo de revitalização de suas instalações, o Jockey atrai a fúria dos moradores da região

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h02 - Publicado em 13 ago 2014, 16h12

O clima não anda dos melhores entre os moradores do entorno do Jockey e a administração do clube. Também pudera. Desde que as tribunas foram reformadas e começaram a abrigar casamentos e recepções corporativas, as festas abertas ao público ocuparam o imenso gramado no centro da pista de turfe, a céu aberto. Durante os trinta dias da Copa do Mundo, quase que diariamente, a vizinhança da Gávea, Leblon (mais especificamente o conjunto de prédios conhecido por Selva de Pedra) e Jardim Botânico se sentiu incomodada com a agitação que tinha início no meio do dia e ia até a madrugada. Nesse período, 180?000 pessoas passaram por ali. Não é só. Com a inauguração do restaurante Rubaiyat, em frente ao parque centenário, a fila que se forma para a entrada e a saída de veículos no local, na Rua do Jardim Botânico, se juntou ao já caótico trânsito da via, cuja velocidade média no rush beira os 6 quilômetros por hora. “Todos os problemas são de resolução fácil, mas a diretoria do Jockey age na surdina e se recusa a dialogar com a vizinhança”, ataca Nelson de Franco, da Associação de Moradores da Gávea (AMA Gávea). “Não nos deixam alternativa a não ser partir para as vias legais”, completa.

A abertura da churrascaria paulistana no fim de junho foi apenas a primeira de uma série de novos empreendimentos naquela parte do clube, que passa por um ambicioso processo de revitalização. A previsão é que o espaço também receba duas galerias de arte, a Fortes Vilaça e a Laura Marsiaj, a livraria Blooks, o restaurante japonês Gurumê e ainda uma nova empreitada do chef Felipe Bronze. Para receber os visitantes, uma providência já foi tomada: a área onde funcionavam os guichês externos de apostas foi reformada para abrigar 400 carros. O medo das associações, porém, é que um velho problema ? a fila de automóveis para entrar no Jardim Botânico, que trancava a rua nos fins de semana até o estacionamento do parque ser fechado, em junho ? apenas mude de lado. Com relação às festas que incomodaram os vizinhos durante a Copa, o receio é que elas se tornem rotina, firmando o local como ponto de noitadas e música alta na Zona Sul. No primeiro fim de semana de agosto, o prado já foi palco do Arraial da Providência, que recebeu 20??000 pessoas em três noites. E o movimento só deve crescer daqui para a frente. Dentro de dois anos, por exemplo, deve acontecer ali um evento similar ao da Copa e de proporções até maiores. “O som reverbera e se amplifica nos prédios do Leblon e na encosta da Floresta da Tijuca. Quem autoriza esse absurdo?”, indaga Denise Corrêa, presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Selva de Pedra.

Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()

A resposta do clube para a pergunta de Denise é muito simples: todos os órgãos competentes. Os dirigentes das associações de moradores alegam que o Jockey, localizado em um terreno de 630?000 metros quadrados com construções em estilo Luís XV, é tombado, o que impediria sua exploração econômica com festas ou restaurantes. Isso não é endossado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Em nota, a instituição informou que uma equipe técnica própria acompanhou as intervenções e que todas foram aprovadas pelo Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. Quanto à Secretaria de Ordenamento Público, à CET-Rio e à subprefeitura, elas também concederam o alvará necessário. “Seria ótimo viver do turfe, mas é impossível. Fazemos o que é preciso para manter as contas em dia, como todos os clubes no entorno da Lagoa, e o fazemos dentro das leis estabelecidas”, afirma Antônio Fleury, superintendente-geral do Jockey.

A convivência entre vizinhos é complicada em qualquer lugar do mundo. A melhor maneira de dirimir eventuais conflitos é sentar para conversar, o que as associações reclamam que o Jockey se recusa a fazer. Um exemplo de política da boa vizinhança aconteceu não muito longe dali. A rede de academias Bodytech vai abrir uma filial na Rua Maria Angélica e, a pedido dos moradores em reuniões com a prefeitura, incluiu um estacionamento subterrâneo no projeto. O mesmo acordo não vingou com a incorporadora João Fortes, que está construindo um edifício de nove pisos em frente ao Hospital da Lagoa, com apenas 84 vagas para carros. Sem interlocutores na empresa, os moradores criaram na internet um abaixo-assinado pedindo a paralisação das obras e a revogação dos licenciamentos. Medida idêntica foi adotada em relação ao Jockey, com o intuito de forçar um estudo do impacto global dessas novidades nos arredores. “A prefeitura analisa essas questões como casos isolados, mas na prática os transtornos se acumulam e podem levar o bairro a um colapso sem volta”, reclama Rodrigo Mattos, vi­­ce-presidente da AMAJB. Se problema com vizinho já é ruim, problema com a vizinhança inteira é encrenca na certa.

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