“Humilhação”, diz pai de menino negro sobre vídeo de influenciadoras
'Meu filho virou as costas chorando', contou ele à Polícia; Kérollen e Nancy serão intimadas a prestar depoimento na próxima semana
Os pais do menino negro que aparece recebendo uma banana em vídeos das influenciadoras Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves contaram a agentes da 74ª DP (Alcântara) que não autorizaram a exposição do menor nas redes sociais. Eles prestaram depoimento nesta quinta (1º), assim como a família da menina que recebeu um macaco de pelúcia das duas. “Meu filho virou as costas apenas triste, chorando, chegou em casa me avisando”, disse o pai do menino, chamando a situação de “humilhação”.
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O caso é investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), mas os depoimentos aconteceram na 74ª DP (Alcântara), que também participa da apuração. Os investigadores já sabem que as imagens foram gravadas em São Gonçalo. As influenciadoras nasceram e moraram no município. Segundo o delegado Luis Maurício Armond, titular da 74ª DP, o depoimento indicou que as abordagens acontecem há pelo menos três anos. A Decradi afirmou que vai intimar Kérollen e Nancy para que elas prestem depoimento na próxima semana.
O caso foi registrado como injúria racial com a pena majorada em razão das redes sociais, que ampliaram a divulgação. “A partir do momento que nós ouvimos uma mãe com um filho que participou dessa filmagem, nós tomamos pé que esses fatos vêm ocorrendo há bastante tempo”, afirmou o delegado. A delegada Rita Salim, titular da Decradi, acrescentou que é importante que as mães ou representantes legais dessas crianças compareçam à especializada para que seja relatada toda a dinâmica desde o início até o fim do vídeo. “Esses vídeos possivelmente foram editados para serem postados em redes sociais. Queremos saber os cortes. Queremos entender a dinâmica: como foi a abordagem, como eles finalizaram isso, por exemplo”, disse Rita.
De acordo com as investigações, a abordagem do menino que apareceu no vídeo ganhando uma banana aconteceu na rua, quando ele vendia balas em um sinal, há três anos. O vídeo foi publicado em uma rede social como um “Dia de Príncipe”, em que ele não precisaria vender os doces. “Bati de frente com ela. Ela me parou. Aí, ela falou: ‘Ah! Bora fazer um vídeo! Aí, eu fiz um vídeo com ela no pátio’. Cada fruto que jogava que acertava. Eu acertei quatro. Aí ganhei R$ 20. Ela mandou tudo que a gente tocasse, ia levar. Aí, nós tocamos tudo e ela falou: ‘só posso comprar duas coisas’. Aí, pegamos. Eu peguei uma bola e outro brinquedo lá. E meu amigo pegou duas bolas’”, contou a criança.
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Nancy e Kérollen se apresentam como “mãe e filha divertindo você”, mas em diversos vídeos afirmam ser meias-irmãs de pais diferentes — em um deles, Nancy conta ter pegado a caçula para criar depois que a mãe das duas avisou que daria Kérollen para adoção. Em outra publicação, Nancy afirma ter sido garota de programa “por necessidade” e “para cuidar de Kérollen”.