O Rio em minuatura
Chegou à internet na semana passada um filmete de seis minutos que mostra o Rio capturado pela técnica do tilt-shift ? que faz com que tudo pareça miniatura, como se o espaço urbano fosse recheado de maquetes. Nessa cidade de brinquedo surgem, em ritmo acelerado, imagens das praias, de navios deslizando pela baía (ou seriam barquinhos de criança na banheira?) e dos desfiles da Sapucaí, especialmente dos carros de Paulo Barros. The City of Samba é assinado por Keith Loutit (australiano) e Jarbas Agnelli (paulista) e tem clara inspiração em Koyaanisqatsi, documentário do americano Godfrey Reggio, com música de Philip Glass. Produzida em 1982 por Francis Coppola, a fita (tida como um “poema sinfônico”) trazia denúncias ecológicas, valendo-se, tal como o atual clone, de sons minimalistas, propositalmente repetitivos.
Assista ao vídeo abaixo.
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Memória da cidade
Quem será este elegante senhor do início do século XX, portando bengala, chapéu e charuto?
a) O pai do pai da aviação, Santos Dumont.
b) O fundador da charutaria alemã Dannemann, em fracassada visita de negócios ao Rio.
c) O prefeito Pereira Passos experimentando um panamá.
d) Auguste Charles, figurão francês que fundou a primeira confeitaria da cidade, chamada Cavé.
e) O ator Osmar Prado, com maquiagem de envelhecimento, caracterizado como um figurão da alta sociedade de 1900, seu personagem em nova peça.
Acerta quem optou pela letra D, pois a foto é realmente de Auguste Charles Felix Cavé, empresário que trocou Paris pelo Rio com a ambição de montar nos trópicos uma loja de salgados e doces. Aberta em 1890 na esquina das ruas Sete de Setembro e Uruguaiana, no Centro, a casa ganharia seu sobrenome e, posteriormente, a fama de produzir o melhor pastel de belém da cidade (hoje a R$ 4,50). Costuma receber 2?000 clientes por dia e agora está entrando no e-commerce: em breve o site venderá delícias como a polka (massa de choux com chantili) e o ratinho (bolo de coco recheado com mel e canela). Monsieur Cavé ficou à frente do negócio até 1922.
A força das pioneiras
O quadro se chama Canto do Rio e mostra duas moças batendo papo em Icaraí, Niterói. É um óleo sobre tela de Georgina Albuquerque, que tem ao fundo o Corcovado ainda sem Cristo, na década de 20. Anos antes de pintá-lo, a autora, que morava em São Paulo, desejava estudar no Rio, na Escola Nacional de Belas Artes, e tinha enviado alguns trabalhos para avaliação. O diretor gostou, mas duvidou que a obra fosse de uma mulher. Ela, então, viajou com seus pincéis e, na frente dele, mostrou o que sabia fazer. A história de Georgina e de outras pioneiras (como Chiquinha Gonzaga e Gilka Machado) está na exposição e no filme Mulheres Luminosas, a partir de quarta (7), no Museu da República, no Catete.
Senhora, é por aqui
Quase 30% dos 150?000 moradores de Copacabana estão na terceira idade. Foi exatamente por isso que um decreto da prefeitura nomeou o bairro como a Capital Turística do Idoso. A resolução foi publicada em dezembro no Diário Oficial e, de lá para cá, a Guarda Municipal vem tomando lições específicas de como proceder com as pessoas mais velhas da região. Os agentes são treinados, por exemplo, para falar pacientemente e repetir suas frases tantas vezes quanto for necessário. Também estão craques na arte de embarcar vovôs e vovós em ônibus, levando-os até os assentos que lhes são assegurados por lei, e sabem a orientação que lhes deve ser dada no caso de uso de caixas automáticos. Além dos guardas, também os porteiros dos prédios passaram a participar, desde o início do ano, de oficinas sobre o assunto ? eles foram apontados como os “melhores amigos” do pessoal que já passou dos 65.
No bate-estaca das ondas
Recantos e paisagens do Rio costumam inspirar os compositores de samba, da MPB e, vá lá, também a galera do pagode e do funk. Novidade é a música eletrônica bebendo do cenário da cidade. Pois essa é a proposta do DJ Daniel Oliveira, conhecido na noite como Danny Loko, ou DNYO ? é assim, aliás, que está na capa do EP Aquatika, produzido no Canadá, recém-lançado pelo selo MicroCastle. As belezas naturais cariocas não são, evidentemente, citadas em letras, até porque não há letras, mas, segundo o artista, perpassam pelo clima da obra inteira. Dá como exemplos Belvedere, que fez após curtir uma tarde no Mirante do Leblon, e a faixa-título, um remix com o som de ondas captado de avenidas como Vieira Souto e Delfim Moreira. Habitué dos bares da Lapa, ele define seu estilo como “um groove cinematográfico, melódico e futurístico”.