A geriatria não se restringe ao cuidado com a saúde dos idosos
"O foco sai dos diagnósticos e exames pontuais para enxergar o paciente em sua totalidade", explica a presidente da SBGG-RJ

Cansada dos atendimentos rápidos e impessoais em consultórios médicos, a especialista em marketing Raquel Machado, 38 anos, levava a mãe de 76 anos em um consulta com um geriatra quando passou de acompanhante a paciente. “Tirei uma dúvida sobre a minha própria saúde e perguntei a ela se poderia me atender também. O carinho, respeito e a escuta ativa me impactaram. Hoje em dia parece que o profissional da saúde não tem tempo para ouvir o paciente”, conta Raquel.

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O caso pode parecer atípico, mas reflete um fenômeno muito maior: com o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida, vem crescendo a busca de pacientes adultos pela especialidade, que se debruça sobre doenças e condições ligadas ao envelhecimento de forma geral, e não só relacionadas aos idosos.
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Brasil dispõe atualmente de 3 226 geriatras, sendo 1 886 com o título emitido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), criada em 1961.
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A atuação desses profissionais se torna essencial por aqui para atender, de forma integrada, uma parcela da população que não para de crescer: o Rio é o segundo estado brasileiro com maior percentual de população idosa, perdendo apenas para o Rio Grande do Sul. Os 60+ já equivalem a 19% da população fluminense de acordo com o Censo de 2022, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremeri) diz que a especialidade vem atraindo o interesse também de médicos de outras áreas. Ao longo de 2024, foram emitidos quinze registros de especialização e, só nos quatro primeiros meses deste ano, mais onze deles. “Durante anos essa opção sequer aparecia nas grades curriculares das faculdades de saúde. Na última década, as perspectivas mudaram e agora não sobram vagas”, ressalta Luciana Branco da Motta, integrante da Comissão de Residência da SBGG.
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Para se especializar na área, o médico deve cumprir dois anos de formação clínica e mais dois anos em geriatria. O campo de atuação é amplo, dos hospitais às casas de permanência, incluindo atendimento domiciliar. Nos consultórios, a cena costuma se repetir: os idosos, geralmente acompanhados dos filhos, chegam com prescrições de diferentes especialistas — muitas vezes conflitantes.
É nesse momento que o geriatra entra em ação como um verdadeiro “maestro”, orquestrando os exames e as formas de tratamento. “O foco sai dos diagnósticos ou exames pontuais para enxergar o paciente em sua totalidade, com dores físicas, sim, mas também emocionais, sociais e existenciais”, explica a geriatra e paliativista Anelise Fonseca, presidente da SBGG-RJ.
Nesse contexto, o trabalho do geriatra também depende de uma rede de apoio multidisciplinar, composta de fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos. “Envelhecer de forma saudável é manter um propósito”, resume Anelise. Em um mundo acelerado, não existe idade para buscar uma vida melhor.
