Infestação de ‘gato’: Bombeiros registram 66 casos de choques em 2024
Duas pessoas morreram no Rio em decorrência de incidentes relacionados a instalações elétricas em pouco mais de uma semana
Ligações clandestinas e precárias; falta de manutenção preventiva; postes sobrecarregados; e furto de cabos e fios que deixam pontas energizadas expostas, inclusive dentro de bueiros. A série de problemas que salta aos olhos de quem anda pelas ruas do Rio já provocou, direta ou indiretamente, 42 mortes no ano passado na cidade, de acordo com dados do DataSUS. Só no dois primeiros meses de 2024, já foram sete óbitos, dois deles em pouco mais de uma semana. Segundo o Corpo de Bombeiros, de janeiro para cá foram registradas 66 ocorrências relativas a choques elétricos no estado – em 2023, foram 251. Até animais domésticos estão recebendo descargas elétricas. Moradores relataram ao jornal O Globo choques elétricos sofridos por seus cães ao passarem por bueiros na esquina das ruas Santa Clara e Barata Ribeiro, em Copacabana, e nas ruas Bento Lisboa (Catete) e Senador Vergueiro (Flamengo).
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O mais recente registro aconteceu na manhã deste domingo (17), quando o porteiro Leonardo Monsores da Silva, de 45 anos, teria levado uma descarga elétrica ao encostar no poste que fica na calçada em frente ao prédio onde trabalhava, na Rua Barão da Torre, em Ipanema. Segundo vizinhos, ele estava sentado e, ao encostar na estrutura, caiu e bateu a cabeça no chão. O poste foi isolado por equipes da concessionária Smart Luz, responsável pelo serviço de iluminação pública, que na segunda (18) retornaram e isolaram mais um poste, na Rua Teixeira de Melo, a 200 metros do local onde acontece o acidente com o porteiro. A 14ª DP (Leblon) investiga o caso para confirmar a causa da morte. “Ainda precisamos do laudo para afirmar. Até amanhã (hoje), acreditamos que esteja pronto. Hoje (ontem) foram coletados os elementos no local e também intimadas novas testemunhas“, disse ao jornal a delegada Thaianne Pessoa.
No domingo anterior à morte do porteiro, João Vinícius Ferreira Simões sofreu um choque e morreu ao encostar num food truck instalado na área do Riocentro, na Zona Oeste, durante a realização de um festival de música. Ao Globo, Edson Martinho, diretor executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) aconselhou que não se encoste em postes metálicos, que podem estar energizados por uma falha de manutenção ou um roubo de fios e cabos, por exemplo. “Já em ambientes onde você tem food trucks ou barraquinhas, fique sempre atento para ver se tem fio desencapado ou se alguém reclamou de um choque, tudo isso são sinais de que você vai ter problema. E aí você precisa alertar as autoridades para que elas tomem as devidas providências”, disse ele. “Os acidentes acontecem pela falha no aterramento desses postes metálicos, que não foram feitos para provocar um choque. Importantíssimo ficar atento também às fiações que caem no chão pela ação do vento ou por um acidente. Nestes casos, o ideal é atravessar a rua, passar bem distante“, alertou o major Fábio Contreiras, porta-voz dos Bombeiros.
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Sobre o caso do porteiro, a Smart Luz, por meio de nota, informa que “o acidente foi causado por uma ligação clandestina na rede de iluminação pública”. A concessionária cobrou mais rigor na fiscalização e punição das pessoas que fazem os chamados “gatos”: “além da melhoria na educação e consciência social de que ligações clandestinas podem energizar tampas, bueiros, postes e demais itens no seu entorno, é imprescindível que as autoridades governamentais implementem medidas eficazes de fiscalização e punição de quem faz ligação ilegal, a fim de desencorajar a prática que gera perigo”, diz o comunicado. Também em nota, a Companhia Municipal de Energia e Iluminação (RioLuz) informa que há previsão de que sejam substituídos 18 mil postes de aço por outros de fibra “em locais de grande circulação de pessoas”. De acordo com a empresa, “a concessionária Smart Luz já trocou dez mil postes”.