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Único fiorde brasileiro, Saco do Mamanguá atrai visitantes em busca de paz

Ainda pouco explorado, o paradisíaco recanto movimenta o turismo ecológico na Costa Verde

Por Carol Zappa
Atualizado em 21 fev 2022, 17h57 - Publicado em 18 fev 2022, 06h00
Pico do Pão de Açúcar: trilha de 1,5 quilômetro e uma paisagem de tirar o fôlego -
Pico do Pão de Açúcar: trilha de 1,5 quilômetro e uma paisagem de tirar o fôlego - (iStock/Getty Images)
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Mar de água esverdeada e cristalina, praias desertas de areia clara, cachoeiras em abundância, trilhas por florestas exuberantes, muito sol e a sensação de que o tempo não passou. Poderia ser no Caribe ou em algum paraíso escondido no surpreendente Sudeste asiático, mas fica logo ali, na Costa Verde, a 270 quilômetros do Rio. Este recanto à beira-mar gerou mais interesse em meio aos sacolejos pandêmicos, quando o agito das cidades grandes e balneários badalados cedeu lugar à procura por destinos mais quietos e isolados. E assim muita gente vem descobrindo o idílico Saco do Mamanguá, na região de Paraty, considerado o único fiorde tropical do mundo — um braço de mar que se estende por 8 quilômetros entre um vale de montanhas, formando dezenas de microenseadas. Mas, diferentemente da gélida paisagem dos países nórdicos pontuada por essa formação geológica, as rochas ali são cobertas pelo esplendoroso verde da Mata Atlântica. “Embora o turismo tenha aumentado nos últimos tempos, a área permanece preservada”, garante Gabriela Temer, apresentadora do programa de TV Juju na Trip.

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Como outros frequentadores nos dias de hoje, Gabriela conheceu a região no passado, lá se vão mais de dez anos, e voltou a ela nos meses de isolamento. Na primeira visita, em 2009, as casas de veraneio eram poucas e o progresso não tinha dado as caras por ali. Aí ela regressou agora ao cartão-postal e o viu praticamente intocado. “Tive uma boa surpresa. Continuava tudo muito parecido, conservado e limpo, com os mesmos vilarejos de pescadores”, conta a viajante profissional. A estrada não chega até lá — é preciso ir até Paraty-­Mirim, a 10 quilômetros do centro histórico de Paraty (e a pouco mais de quatro horas de carro do Rio) e pegar um barco para fazer a travessia, que dura cerca de trinta minutos. O acesso restrito colabora para a preservação do clima bucólico, embora uns suntuosos casarões tenham aparecido aqui e ali nos últimos tempos. Um deles serviu até de cenário para a lua de mel da jovem Bella com o vampiro Edward no filme Amanhecer, da saga Crepúsculo. Não teve jeito: virou point turístico para as embarcações que circulam pela área.

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O tempo ali é definitivamente outro. A energia elétrica só aportou naquelas areias há cinco anos e volta e meia falta luz. Os sinais de wi-fi e de celular mal pegam. Este foi, aliás, um fator decisivo para a roteirista Julia Evangelista, 37 anos, que visitou o lugar com a mulher e duas amigas, se apaixonar ainda mais pela localidade. Há anos frequentadora de Paraty, ela descobriu o destino por indicação de outra amiga. “Ficamos tão agarradas às telas durante a pandemia que tudo o que queríamos era estar imersas na natureza, sem nenhuma internet”, diz Julia. Uma vez lá, a natureza impressiona. Em meio à vegetação preservada da Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, há dezenas de praias de água límpida, acessadas por trilhas bem pavimentadas — de tranquilas a moderadas. A mais concorrida, saindo da Praia do Cruzeiro, onde fica o maior povoado, leva ao Pico do Pão de Açúcar, uma das principais atrações além-mar. A subida de 1,5 quilômetro pela floresta é um tanto íngreme, mas a esplendorosa vista do alto compensa o esforço.

A piscina natural do Mamanguá Eco Lodge: banho de água doce garantido depois da praia
A piscina natural do Mamanguá Eco Lodge: banho de água doce garantido depois da praia (Mamanguá Eco Lodge/Divulgação)

As surpresas que brotam pelo caminho são muitas. Logo na entrada do Mamanguá, o Saco da Velha esconde uma pequena faixa de areia que só emerge na maré baixa, com uma grande gruta. Há ainda as praias do Buraco, de mar turquesa, do Engenho, coberta pelas sombras de amendoeiras, e a Jurumirim, cercada por florestas, entre muitas outras. Programa imperdível é contratar um passeio de barco (os mais atléticos encaram a travessia de caiaque) pelo extenso manguezal situado dentro da reserva estadual da Juatinga, que desemboca em uma trilha que vai dar na Ca­choeira do Rio Grande. Em compensação, as opções de hospedagem ainda são poucas: além de alguns albergues, encontram-se por lá duas pousadas mais confortáveis — o Refúgio Mamanguá, que exibe o selo do Circuito Elegante, e o Mamanguá Eco Lodge, cuja propriedade, de 230 000 metros quadrados, inteiramente reflorestada com vegetação nativa, já abrigou plantações de cana-de-açúcar, mandioca e café. Para quem busca ainda mais sossego, uma alternativa é alugar uma casa. No Airbnb, há ofertas das mais modestas às luxuosas, que oscilam entre 390 e 1 500 reais por noite. “A dica nesse caso é levar os acessórios e mantimentos necessários para a estadia, pois não há comércio próximo”, aconselha Julia.

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A procura por paraísos como o Saco do Mamanguá reforça a tendência dos chamados “destinos hiperlocais”, a até 500 quilômetros de casa, em ascensão depois que a pandemia tornou mais difícil viajar para fora e os brasileiros voltaram a atenção para o que havia de bom por aqui. “Muitas famílias vêm buscando refúgios que, antes, estariam fora do roteiro”, reconhece Bárbara Molina, porta-voz do Airbnb no Brasil. Outra opção para conhecer a região é fazer um bate e volta de lancha de Paraty, com paradas nas praias do Engenho, do Costa e do Cruzeiro. “Fiz o passeio e fiquei encantada, nem parecia que estava no Rio”, lembra a servidora pública Maria Eduarda Brasil, 30 anos. Embora o verão seja mais concorrido pelo clima quente e pelas férias, dá para aproveitar esta maravilha de cenário o ano todo — entre abril e junho chove menos e o tempo fica mais firme, proporcionando dias de céu azul e menos turistas. “A gente viaja para tão longe para ver essas paisagens na Tailândia ou na Costa Rica, sendo que para estas praias nem precisa pegar avião e ainda tem moqueca e peixinho na rede”, brinca a especialista Gabriela. O paraíso, definitivamente, é aqui.

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Boa viagem
Dicas de hotéis, passeios e restaurantes na região

arte mapa Paraty
(./Divulgação)

COMO CHEGAR
O Saco do Mamanguá só é acessível por barco ou trilha, saindo de Paraty-Mirim. Pela rodovia BR-101 Rio-Santos, são cerca de 270 quilômetros (pouco mais de quatro horas de carro) até o distrito, a 10 quilômetros de Paraty, de onde partem as embarcações. O trajeto por mar leva cerca de trinta minutos e custa em torno de 150 reais.

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ONDE FICAR
Mamanguá Eco Lodge
Localizado na Praia Grande, a confortável pousada tem vinte apartamentos equipados com ar-con­dicionado, camas king-size e chuveiro a gás. Diárias em torno de 1 000 reais por pessoa, com café da manhã e jantar. https://www.mamangua.com.br.

Refúgio Mamanguá
Refúgio Mamanguá – (./Divulgação)

Refúgio Mamanguá
Oito suítes com ventiladores, deques de madeira suspensos em palafitas e varandas com rede, próximas ao mar ou à floresta. Uso gratuito de canoas e aluguel de stand up e caiaques. Diárias a 540 reais, com café da manhã e jantar incluídos. https://www.refugiomamangua.com.

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Casa Palafita (Airbnb)
Próximo à Praia Grande, toda de madeira e vidro em meio à mata e de frente para o mar, acomoda até quatro pes­soas em dois quartos com uma cama queen em cada um. Cozinha equipada e caiaques à disposição. Diárias a partir de 714 reais.

Casa de Vidro (Airbnb ou Booking)
A confortável hospedagem de 1 550 metros quadrados recebe dez pessoas em três suítes e um quarto. Em estilo balinês e integrada à natureza, tem piscina com spa e borda infinita. Diárias a partir de 2 243 reais.

O QUE FAZER

Passeios de caiaque
Passeios de caiaque – (Breno Madeira/Juju na Trip/Divulgação)

Passeios de caiaque, canoa ou trilhas para Saco da Velha, praias do Engenho, do Cruzeiro, do Buraco, do Costa e Jurumirim. Travessia de barco pelo manguezal na Reserva da Juatinga e trilha para a Cachoeira do Rio Grande. Subida ao Pico do Pão de Açúcar.

ONDE COMER
O Restaurante do Dadico é parada obrigatória e unânime na Praia do Pontal. No ambiente rústico, em um aprazível deque de madeira sobre o mar, são servidos peixes, camarões e ostras fresquíssimos, por vezes pescados na hora, a preços amigáveis.

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