Festa de bicheiro tem artistas, políticos e membros do Judiciário
Anísio celebrou nesta quarta (7) os 80 anos no MAM, com 400 convidados. Em agosto, TRF manteve bloqueio de suas contas
Com parte dos bens bloqueados pela Justiça, um dos principais nomes do jogo do bicho no Brasil, Aniz Abrahão David, o Anísio, patrono da escola de samba Beija-Flor, previa comemorar seus 80 anos nesta quarta-feira, 7, em um dos espaços mais refinados do Rio: os salões do Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, com vista para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar e cercado pelos jardins de Burle Marx. Foram convidadas para a festa 400 pessoas, entre artistas, políticos e até integrantes do Poder Judiciário.
Anísio foi apontado como um dos chefes de organização criminosa conhecida como Clube Barão de Drummond, espécie de tribunal informal responsável por julgar aqueles que exploram o jogo ilegal, ao lado de Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, e Antônio Petrus Kalil, o Turcão. Em 2012, eles foram condenados pela 6.ª Vara Criminal Federal do Rio a 48 anos de prisão cada um. Anísio recorre em liberdade. O bicheiro já havia sido preso em 1993, por decisão da juíza Denise Frossard, por contravenção. Na ocasião, cumpriu 3 anos.
O contraventor deve gastar cerca de R$ 1 milhão com a festa de aniversário, segundo informou o jornal O Dia nesta quarta. Ele contratou o prestigiado cerimonialista Roberto Cohen para cuidar da lista de convidados. Entre as “surpresas” previstas estão apresentação de passistas e da bateria da Beija-Flor, além de exibição de um documentário que conta a trajetória do bicheiro de origem libanesa, que começou a trabalhar ainda na infância. Dedicado ao jogo do bicho desde a década de 1960, Anísio e sua família ganharam prestígio social como patronos da Beija-Flor, escola de samba que presidiu a partir de 1965.
Questionado, o advogado Ubiratan Guedes foi enfático ao repudiar questionamentos sobre os gastos feitos pelo seu cliente. Em agosto, o Tribunal Regional Federal (TRF) manteve, em decisão unânime, o bloqueio das contas do contraventor. Ex-procurador-geral de Justiça do Estado do Rio e responsável na década de 1990, quando era promotor, por duas das maiores investigações sobre Anísio, Antônio Carlos Biscaia afirma que a situação do patrono da Beija-Flor “revela a impunidade que impera no País”. “Como Anísio, todo bicheiro é apresentado apenas como contraventor, o que parece uma conduta menos grave, mas essa atividade envolve uma esteira de outros crimes.”