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Estudo da Uerj aponta que facções e milícias do Rio estão mais parecidas

Pesquisadores apontam como funcionam as dinâmicas de controle territorial de grupos armados e o efeito delas na rotina dos moradores de seis áreas da cidade

Por Da Redação
28 mar 2023, 13h57

Independentemente do grupo armado que controla cada território, os moradores dessas regiões se habituaram a viver sob o cerco de organizações criminosas, sejam elas facções de tráfico de drogas ou das milícias. Esta é a principal conclusão da pesquisa “Milícias, facções e Precariedade: um estudo comparativo sobre as condições de vida nos territórios periféricos do Rio de Janeiro frente ao controle de grupos armados”, desenvolvida pelo Cidades – Núcleo de Pesquisa Urbana da Uerj e financiada pela Fundação Heinrich Böll Brasil. O principal objetivo do levantamento, feito através de trabalho de campo realizado em seis áreas da cidade, é descrever o funcionamento das dinâmicas de controle territorial de grupos armados e o efeito causado na rotina dos moradores de bairros periféricos como Batan, Caju, Campo Grande, Ilha do Governador, Praça Seca e Tijuquinha. Na prática, o comportamento de traficantes e milicianos está cada vez mais parecido.

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Segundo os cinco pesquisadores, “viver sob cerco” é estar submetido a uma força coercitiva e violenta de forma cotidiana, em ato ou potência e, por conta disso, estar em permanente estado de preocupação com manifestações violentas que impedem a circulação e a manutenção de uma rotina segura aos moradores de favelas e periferias cariocas. É o que acontece tanto em áreas de milícia quanto do tráfico. E a atuação desses grupos é determinada pela presença ou ausência de confrontos nos territórios onde a pesquisa de campo foi realizada. O estudo aponta que, em regiões onde não há confronto policial, os grupos armados têm uma presença mais difusa no território e, diante disso, os moradores sentem o impacto do controle de forma diferente dos moradores de locais onde a presença desses grupos é mais ostensiva.

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O que também chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato de que a frequência dos confrontos ou a ameaça constante de que eles aconteçam acabam produzindo uma sociabilidade local mais conflituosa, através de altos graus de vigilância e monitoramento por parte dos grupos armados, fato que tem gerado constante reclamação de moradores por conta da ausência da “paz” que teria caracterizado momentos anteriores, seja em regiões dominadas por grupos de milícias ou por facções de traficantes de drogas. Nos locais considerados “mais tranquilos” (Campo Grande e Tijuquinha), os pesquisadores conseguiram identificar que a superexploração econômica por parte das milícias (cobrança de taxas abusivas e monopólio de serviços) tornou a relação desses grupos com os moradores muito mais violenta e conflituosa. Nas áreas onde as milícias são consolidadas, além da exploração econômica, também foram expandidos os tipos de recursos explorados por esses grupos, ou seja, não existem mais atividades econômicas que não sejam exploradas por eles.

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Durante o trabalho de campo, também foram identificados novos fenômenos que podem ser classificados como “empreendedorismo parasitário”, ou seja, quando todos os grupos armados compartilham do mesmo método de domínio dos territórios de pobreza por meio do uso da violência generalizada ou pontual, para garantir a submissão de moradores a elevados níveis de exploração através do pagamento de taxas sobre as mais diversas atividades econômicas. Outra prática identificada na pesquisa é a “operação consorciada entre milícias e facções”, uma superexploração econômica e extorsiva que não só deixou de ser uma atuação exclusiva das milícias, mas se tornou uma operação feita em conjunto entre traficantes e milicianos. Eles podem estar revertendo o lucro dessa exploração para a compra de armamentos, fato que pode ajudar a explicar tanto o aumento no número de confrontos como do poderio bélico desses grupos.

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