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Estudantes e pesquisadores lutam contra falta de apoio às pesquisas

"No meu grupo nós somos 12, mas só um tem direito a financiamento com bolsa. O investimento governamental é um problema", diz aluna de psicologia da UFF 

Por Maria Eduarda Jerke*
Atualizado em 6 jan 2023, 14h59 - Publicado em 6 jan 2023, 14h58
Foto mostra pesquisadora fazendo teste em laboratório
CBPF: pesquisas voltadas às áreas de biologia, medicina e engenharia sofreram paralisação após pandemia (./pixabay)
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Estudar as narrativas produzidas por um passado traumático, como a recente experiência brasileira de disseminação do ódio na vida pública, é um dos objetivos do projeto “Políticas e Poéticas da transmissibilidade em Psicologia Social”, que reúne doze estudantes do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense. Embora sirva à produção de conhecimento sobre um período agudo, que entrará para a história do país, apenas um dos doze envolvidos obteve bolsa de estudos para conduzir o trabalho.

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“Políticas e Poéticas” não é um acontecimento isolado. O caso, comum especialmente nas áreas ligadas à Humanas, revela a distância que ainda separa o Brasil da meta estabelecida pela ONU durante a Cúpula das Nações Unidas em 2015. Na lista das 17 “Metas do Milênio” estabelecidas pela “Agenda 2030”, a de número nove trata de indústria, inovação e infraestrutura, onde prevê o fomento do conhecimento científico.

É impossível discutir inovação no Brasil sem passar pelo maior centro de pesquisas nacionais, o CNPQ, a FAPERJ/FAPESP, PIBIC e CBPF. Esses centros de inovação são responsáveis por abrigar, impulsionar e financiar pesquisas por todo o território nacional na educação superior. Nesse processo, alunos, professores, bolsistas, pesquisadores, mestres, doutores e pós-doutores foram heróis brasileiros no combate à desinformação, e, agora, se veem mais uma vez na luta contra os cortes de incentivos educacionais como bolsas de iniciação científica para o financiamento de pesquisas, tanto acadêmicas teóricas, quanto tecnológicas práticas. 

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Sucesso não garante recursos

Ana Clara Cruz, 22 anos, é estudante da graduação do curso de psicologia da UFF, atualmente no sexto período, e participante do projeto “Políticas e Poéticas da transmissibilidade em Psicologia Social”, orientado pelo professor Marcelo Santana Ferreira no Instituto de Psicologia do campo de psicologia social. Ela conta que o desenvolvimento da pesquisa é realizado com encontros semanais, presencialmente na UFF, onde acontecem debates sobre os textos a serem trabalhados, e demais temas com relação a psicologia social e o movimento de insurgência. Além disso, também são produzidos artigos, resumos e comunicações orais que já foram apresentados em eventos tais quais o Colóquio LatinoAmericano e, esse ano, na Mostra Regional do 6º Conselho Regional de Psicologia.

Foto mostra estudante apresentando pesquisa
Pesquisa: Ana Clara fez apresentação no 6º Congresso Brasileiro de Psicologia, em 2022 (./Reprodução)

Ao contrário da niteroiense, Luana Viana, 21 anos, formada em Letras Português e Respectiva Literatura na Universidade de Brasília (UNB), apresentou seu projeto de pesquisa no fim da graduação. Ela participou do Projeto de Iniciação Científica (PROIC), cujo foco foi “O Objeto na Literatura Brasileira Contemporânea”, em que foi realizada a interligação e aproximação da Arte Visual Brasileira Contemporânea e a Literatura Brasileira Contemporânea, por meio do projeto “Entre histórias e paredes”, orientada pela professora doutora Regina Dalcastagnè. 

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Mesmo sem nenhuma dificuldade relacionada ao recebimento da bolsa de pesquisa, Viana entende que a problemática se estende ao cenário dela, que, diante de um panorama nacional, foi a exceção. “Hoje a questão do investimento governamental é nula, com cortes de gastos ainda muito presentes. Eu já terminei meu projeto, mas muitos dos meus amigos perderam as bolsas pois não há sequer dinheiro para pagar professores, luz ou instalações em faculdades federais, o que dirá bolsistas acadêmicos. Muitos projetos foram interrompidos, prejudicados. Eu, felizmente, não fui, porque terminei antes da Covid”, conta Luana. 

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Medicina sem fronteiras financeiras

No Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, a era das vacas magras já existia desde antes da pandemia. O CBPF é responsável por abrigar, incentivar e educar milhares de jovens e adultos no âmbito da pesquisa nacional voltada às áreas de biologia, medicina e engenharia. Com a Covid-19 e a necessidade de isolamento, muitas das aulas presenciais oferecidas a alunos desde o ensino médio à pós-graduação foram paralisadas, assim como as pesquisas. Além disso, a falta de concursos públicos voltados ao ingresso no órgão ajudou a prejudicar ainda mais o andamento e desenvolvimento de projetos.  

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Recentemente, a pesquisa oriunda do CBPF, “A Associação de antibióticos à Fosfatos de Cálcio para o tratamento de infecções”, de Andréa Machado Costa, Luís Felipe Morgado Alves, Victor Hugo Souza Lima, Carlos Alberto Soriano de Souza, Elena Mavropoulos e Alexandre Malta Rossi, foi divulgada no Rio Innovation Week, o maior evento nacional sobre inovação e desenvolvimento tecnológico. 

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Foto mostra painel de pesquisa grande na parede
Rio Innovation Week: instituição teve painel para exibir pesquisa (./Reprodução)
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A gestora de inovação do núcleo de inovação tecnológica que fica no CBPF, Mônica Ramalho, explicou que o projeto envolve a utilização de biomateriais, como a hidroxiapatita, extraída da medula bovina, como enxertos ósseos e odontológicos, e que a produção é totalmente nacional e realizada internamente. “Nós temos laboratório de bio materiais, dentro do CBPF, que fabrica essa hidroxiapatita em vários formatos (em pó, combinada com cobre, em grânulos, tabletes, pastilhas)”.

*Maria Eduarda Jerke, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.

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