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Estado do Rio lidera ranking de acessos a fake news por habitante

Os fluminenses clicaram 383 505 vezes em links de notícias mentirosas entre janeiro e março de 2018

Por Saulo Pereira Guimarães e Gustavo Côrtes
Atualizado em 11 jun 2018, 18h42 - Publicado em 8 jun 2018, 12h00
Pabllo Vittar, cantora, compositor e drag queen. (Laílson Santos/Divulgação)
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Thales Bretas atende pacientes em Belo Horizonte, em Niterói e no Rio. Na rotina dos consultórios espalhados por três cidades, o dermatologista identificou um curioso surto intermunicipal: o das vítimas de notícias falsas. Com frequência, o doutor Bretas se vê obrigado a desmentir supostos benefícios para a saúde oriundos de receitas milagrosas e hábitos alimentares esdrúxulos, entre outras fórmulas mágicas de efeito nulo — ou perigoso. “Já recebi gente convencida de que poderia curar seu câncer com uma dieta específica”, conta. O paciente com ares de especialista, formado em hipocondria na internet, não é um personagem novo, mas ganhou força assustadora em tempos de fake news. Razões para preocupação não faltam entre a população fluminense. O Estado do Rio registrou 383 505 cliques em histórias da carochinha entre janeiro e março de 2018. São 23 visualizações por 1 000 habitantes, o maior índice do país, quase o dobro da média nacional.

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Rio de janeiro: 04-05-2018: Dr. Thales Bretas. (Felipe Fittipaldi/Divulgação)

Os dados são da PSafe, startup especializada em aplicativos para celular. No levantamento, analistas investigaram acessos bloqueados pelo antivírus da empresa. Endereços de notícias falsas foram visitados e examinados. Em geral, exibem textos confusos, com erros gramaticais e dados inconsistentes, inseridos em páginas de visual que copia o layout de portais jornalísticos. Muita gente cai no truque, apesar dos fartos indícios suspeitos. Falsos alertas médicos são os atuais campeões de público, mas podem vir a perder a hegemonia. “Até o fim do ano passado a política predominava, e deve voltar ao topo com a proximidade das eleições”, afirma Emílio Simoni, coordenador da pesquisa. Há mentiras para todos os gostos. “Quanto mais chocante for o assunto, maior o apelo para os criadores de notícias falsas”, resume Simoni. Aos produtores dessas montanhas de lixo virtual interessa, e muito, causar sensação e faturar alto com a audiência on-line.

quadro
(Arte/Veja Rio)

Na corrida para tapear o maior número de leitores possível, um recurso comum é o pedido de compartilhamento. “Repasse para pelo menos 10 amigos ou 3 grupos. Logo o Brasil inteiro ficará ciente desta safadeza”, pede o autor de “Pabllo Vittar ganha programa infantil na Globo”, um dos links mais vistos (e falsos) do ano até o momento (veja o quadro). O WhatsApp é o principal canal de divulgação das chamadas fake news. “Hoje, mais de 95% das mentiras virtuais lidas no país chegam pelo aplicativo. Fora do Brasil, esse índice é de cerca de 50%”, informa Simoni. Dito popular pré-internet, o “me engana que eu gosto” funciona às mil maravilhas nas redes. Boa prova disso é uma pesquisa produzida no conceituado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) entre 2006 e 2017. A análise de 126  000 mensagens no Twitter levou à conclusão de que uma manchete falsa tem probabilidade 70% maior de ser compartilhada do que uma reportagem verdadeira. A extensão do fenômeno já se nota em momentos de inegável peso histórico — como a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. O curioso é que, nos dias de hoje, buscar os fatos, as fontes fidedignas, nem é tão difícil assim. A checagem de dados e a consulta a fontes confiáveis são alguns caminhos. “O maior dano de uma notícia falsa é à imagem de quem a compartilha”, adverte Emílio Simoni.

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