
Instalada em uma área de 18?000 metros quadrados à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, a Estação do Corpo sempre se destacou da concorrência. Além do acesso às salas de aula e musculação, seus alunos usufruem um amplo espaço a céu aberto equipado com piscina, quadras e campo de futebol, inclusive nos fins de semana. Um conforto a mais é o estacionamento gratuito para 300 carros, facilidade inexistente em academias. Com jeito de clube, chega a ser uma opção às associações recreativas da vizinhança, com títulos de sócio que chegam a ultrapassar a faixa de 100 000 reais. Com esse perfil singular, o maior complexo do gênero da Zona Sul agoniza. Por decisão da Justiça, o terreno, ocupado até então em regime de concessão, será devolvido ao governo estadual no dia 29 de fevereiro.
A notícia do encerramento das atividades motivou um abaixo-assinado dos frequentadores, numa tentativa infrutífera de manter aberto o ponto, inaugurado em 1997 pelo empresário Ricardo Amaral e vendido cinco anos depois. Como esperado, a realocação de seus 3?000 matriculados agita o mercado da boa forma na cidade. “A tendência é que os alunos busquem academias perto de casa e que dispensem o uso do carro”, acredita Alexandre Accioly, um dos sócios da Body Tech, com dezesseis unidades no Rio. Ele vive a expectativa de absorver 60% desses atletas sem teto. Para isso, inaugura em abril o terceiro endereço da rede no Leblon. Também atenta ao previsível crescimento da demanda, a Proforma, que possui dois pontos no mesmo bairro e um terceiro em Ipanema, está comprando equipamentos e contratando professores, muitos deles egressos da própria Estação do Corpo. “Pelo número de visitas que recebemos de quem saiu de lá, a procura vai disparar a partir de março”, aposta André Leta, sócio da rede.
Com a reintegração de posse pelo estado, que repassará a área à prefeitura para a criação de um parque, encerra-se um histórico de polêmicas. Cedido em 1965, o terreno já abrigou um drive-in e um parque de diversões. Antes mesmo de a academia nascer, sua ocupação já provocava protestos, e, em 1996, uma ação popular tentou, sem sucesso, barrar a construção do complexo de malhação, alegando que se tratava de área tombada. Em 2004, o Ministério Público tentou de novo, apontando irregularidades como a obstrução do acesso ao espelho-d?água. O despejo resulta de uma ação do MP de 2008, embasada na falta de licitação para as renovações do contrato de cessão. Com a retomada do terreno, resta aos clientes procurar outro lugar para se exercitar – sem estacionamento de graça, piscina ensolarada ou vista privilegiada.