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Empresas travam queda de braço para receber pagamentos da Rio 2016

Comitê organizador do Jogos está atrasado para honrar seus contratos e tenta renegociar os valores acordados

Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 11h56 - Publicado em 22 out 2016, 00h00
Fábio Lopes
Fábio Lopes (Felipe Fittipaldi/)
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A festa foi bonita, recordes foram batidos e sobraram motivos para o carioca se orgulhar de receber a Olimpíada. Mas, para um grupo de empresários e prestadores de serviços, a celebração do esporte acabou em ressaca. O comitê organizador da Rio 2016 não tem cumprido prazos estipulados em contrato para pagamento dos serviços, criando uma situação de incerteza para parte dos fornecedores dos Jogos. Alguns chegam a temer um calote e a possibilidade de ter de assumir todo o prejuízo. Fábio Lopes, dono da empresa Pontal Esportes, vive essa situação. Responsável pela instalação do gramado sintético que margeia o campo do Maracanã, ele acreditava que a Olimpíada seria a vitrine perfeita para o seu negócio. Cumpriu à risca todas as (muitas) exigências contratuais e concedeu um desconto de 18% sobre o valor final do serviço. A surpresa veio quando a fatura no valor de 272 700 reais venceu, em meados de agosto. Passados mais de quarenta dias sem nenhum sinal do dinheiro, Lopes se reuniu com o comitê para renegociar o débito. “Pediram um novo desconto, de 15%. Mas é impossível para mim. Se eu o conceder, não ganharei nada com o trabalho, pois minha margem de lucro nesse projeto foi de 12%”, explica Lopes.

Desde o fim dos Jogos Paralímpicos, em setembro, as reclamações sobre o não cumprimento de prazos de pagamento dos organizadores da Rio 2016 só aumentam. Um grupo de prestadores de serviço da empresa Sunplus, responsável pela limpeza de 27 instalações olímpicas, chegou a organizar um protesto em frente à sede da instituição, no Centro, no último dia 5. Naquela ocasião a promessa foi de que a dívida de 6 milhões de reais seria paga no dia seguinte, mas até o fechamento desta edição, no dia 20, o valor ainda não tinha sido quitado. Ao assumir o negócio, a empresa contratou 2 500 pessoas e comprou material de limpeza e higiene. “Acabamos pagando os trabalhadores com recursos próprios, mas não cumprimos os compromissos com outros fornecedores”, explica Danielle Vasconcelos, gerente geral da Sunplus. A empresa de alimentação e serviços Masan, que empregou 4 000 pessoas nos Jogos, ainda aguarda o pagamento de metade do contrato de 20 milhões de reais. Outras companhias das áreas de segurança, material gráfico, lavanderia e até tradução também esperam para receber por seu serviço. E mesmo espectadores que revenderam seus ingressos no site oficial do comitê hoje protestam nas redes sociais por não terem sido reembolsados.

Protesto Rio 2016
Protesto Rio 2016 ()

Os problemas de caixa do comitê Rio 2016 tornaram­se públicos pouco antes da Olimpíada. Na época, o déficit batia em 200 milhões de reais por dificuldade de obter receita, principalmente com a venda de cotas de patrocínio. O governo federal, através de empresas como a Caixa e a Petrobras, fez aportes emergenciais por meio de contratos publicitários. Ainda assim, os problemas de caixa persistiram. Hoje, uma equipe de negociação tenta convencer os fornecedores a reduzir o valor das dívidas. Em alguns casos, os pedidos de desconto chegam a 30% para aqueles que já receberam parte do pagamento. “Prestamos o serviço corretamente e agora não querem pagar o combinado. Vamos exigir nossos direitos nem que seja na porta da casa do presidente da Rio 2016, o Carlos Arthur Nuzman”, diz o responsável por uma empresa de segurança que preferiu não se identificar. Os organizadores dos Jogos reconhecem que há dívidas e afirmam que todas serão quitadas. “As contas estão sendo processadas, mas buscar reduções nos contratos e parcelamentos faz parte. O comitê ainda receberá recursos e até dezembro tudo será pago”, afirma Mário Andrada, diretor executivo de comunicação da Rio 2016.

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Organizar um evento da envergadura de uma Olimpíada exige uma complexa rede de contratos. Na edição brasileira, mais de 11 000 fornecedores prestaram serviços para os Jogos, que custaram 2,8 bilhões de dólares. Antes de serem admitidas, as empresas cumprem um protocolo rígido de exigências. Nos Jogos do Rio, as diferentes esferas governamentais assumiram o papel de avalista do projeto. No entanto, em meio à crise econômica, algumas regras mudaram. Em nota, o Ministério do Esporte afirma que “não compete à União qualquer responsabilidade quanto a eventuais dívidas do Comitê Rio 2016”. A regulamentação que instituiu o Ato Olímpico foi revogada por outra, a Lei no 13.161, de agosto de 2015. Responsável pela marca global, o Comitê Olímpico Internacional lava as mãos. “Estamos orgulhosos por ter contribuído para a realização bem-sucedida da Rio 2016, financeira e operacionalmente. A Rio 2016 está atualmente em processo de liquidação e quaisquer questões relacionadas devem ser dirigidas a esse comitê”, justificou o COI. Ou seja, os fornecedores com contas a receber vão precisar de boas doses de paciência.

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