Nos anos 80 ele ganhou o apelido de “kit samba”, por carregar para cima e para baixo um naipe de instrumentos de percussão. Nunca era pego de surpresa e armava a batucada onde quer que estivesse. O carioca Eduardo Gallotti, 48 anos, foi fundador de algumas das rodas de samba mais concorridas do Rio, como a do Sobrenatural, em Santa Teresa, a do Candongueiro, em Niterói, e a do Empório 100, pioneira incursão na Rua do Lavradio, que atraíam artistas do calibre de Zeca Pagodinho, Monarco, Wilson Moreira, Jovelina Pérola Negra e o grupo Fundo de Quintal. “Seu Jorge chegava com o clarinete e tocava com a gente no Sobrenatural”, recorda ele, que pensa em lançar um livro para narrar todas essas histórias. Figura de proa para o ressurgimento musical da Lapa, Gallotti constata com preocupação que esse tipo de formação, com os músicos em torno da mesa, está minguando no pedaço mais boêmio da cidade. Para reavivar a tradição, ele se apresenta com seu quinteto, Anjos da Lua, toda quinta de maio no Clube dos Democráticos. Na véspera do Dia do Trabalho, divide a batucada no Trapiche Gamboa com o grupo paulista Inimigos do Batente.
No princípio era a roda. E agora?
Sinto que o samba está perdendo espaço. Talvez porque as pessoas saiam pouco nos dias de semana. Antes, havia público o ano inteiro. Não existe mais samba de roda na Lapa, as casas privilegiam o palco. Há programação de qualidade, mas não na mesa.
Qual é a bossa desse formato?
É um espaço democrático, diferente de um show ou de um baile em que o artista fica isolado no palco. Permite uma participação maior das pessoas e é mais flexível. Os músicos podem emendar uma canção na outra de acordo com o tema e variar o repertório. Uma roda nunca é igual a outra.
Quais são as três obras que não podem faltar de jeito nenhum?
Canto sempre Estrela de Madureira, de Acyr Pimentel e Cardoso, Falange do Erê, que se tornou um sucesso de Zeca Pagodinho, e Com que Roupa?, do mestre Noel Rosa. Não tem erro.