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Clube dos desquitados

Com o aumento do número de divórcios entre os cariocas e o valor do aluguel cada vez mais alto, eles estão de volta às repúblicas

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 2 jun 2017, 13h19 - Publicado em 6 nov 2013, 19h25

Casar, ter filhos e formar uma família feliz digna dos comerciais de margarina. Era assim que o gerente comercial Fred Belisário se imaginava aos 30 e poucos anos. De fato, parte dos planos se concretizou, e ele saiu da casa dos pais para viver com a mulher na Tijuca. O que não estava previsto, no entanto, era um divórcio antes da hora. Três anos depois de unir as escovas de dentes, ele arrumou a mochila e se mudou para Laranjeiras, onde passou a dividir um apartamento de sala, dois quartos e cozinha com um colega de infância. “Queria morar na Zona Sul. Rachando os gastos, o orçamento do mês não ficou tão comprometido”, argumenta Belisário, de 33 anos. Levando em conta que o Rio tem o metro quadrado mais caro do país, com preço médio de 9?534 reais para compra e 42 reais para locação, a justificativa dele faz todo o sentido. Mas essa é só a parte técnica da explicação. Para os recém-separados, voltar a morar com um bando de amigos (também solteiros, de preferência) pode transformar a vida em uma grande festa. E das mais animadas, que entram noite adentro.

Na casa de Afonso Tresdê, Lincoln Quinan Junior e Daniel Simões, a regra é clara: quem chega primeiro do trabalho põe a cerveja para gelar. A bebida é o ingrediente número 1 na lista de compras do trio, para abastecer as conversas que se estendem até de madrugada ou os churrascos, sem hora para acabar, realizados no terraço do apartamento deles, na Tijuca. “Montamos uma república dos divorciados”, diverte-se Tresdê, que, aos 32 anos, já foi casado duas vezes. “Aqui, fazemos tudo o que as nossas ex-mulheres não deixavam.” Isso inclui deixar os copos e pratos sujos para lavar só no dia seguinte, passar horas a fio jogando vi­­deo­game sem ouvir reclamações ou ficar deitado no sofá o sábado todo sem ter a obrigação de visitar os pais de ninguém. “Minha ex não deixava nem que meus amigos sentassem no sofá, porque era branco e iria sujar”, reclama Quinan, também de 32 anos. Não é preciso chegar a esse extremo, mas alguns mandamentos básicos sempre facilitam a convivência: quem cozinha, em geral, não lava a louça. É assim na comunidade em que se instalou o chef Ricardo Lapeyre, de 25 anos. Após se separar, há seis meses, o cozinheiro estava prestes a ir morar sozinho no Jardim Botânico, mas preferiu ocupar o quarto vago num casarão de dois es­trangeiros na Urca, conhecidos de longa data. “Não deu nem tempo de curtir uma fossa. Eles têm sempre uma programação diferente”, conta.

Selmy Yassuda
Selmy Yassuda ()

Com o aumento do número de divórcios, que cresceu 45,6% em 2011, os clubes dos desquitados estão se tornando cada vez mais comuns na cidade. É um fenômeno que atinge principalmente os homens de 30 a 34 anos, a faixa etária com o maior número de processos de separação. Segundo a psicóloga Andrea Seixas, professora da PUC-Rio, os jovens adultos estão trilhando o que ela chama de trajetória ioiô. “Eles vão e voltam de um casamento, assim como mudam de emprego e de país sem muita preocupação com o futuro. Voltar a morar com os amigos reforça essa sensação de liberdade, que hoje é mais valorizada que a estabilidade”, explica Andrea. Por outro lado, para felicidade geral dos solteirões mais animados, uma pesquisa realizada pela Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, concluiu que as pessoas rodeadas de amigos e vizinhos podem viver até 50% mais do que as solitárias. A solidão, de acordo com o estudo, faria mais mal à saúde do que a obesidade e o tabagismo. Casado ou solteiro, não tem jeito. No fim das contas, tomando emprestadas as palavras de Tom Jobim, impossível, mesmo, é ser feliz sozinho.

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