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Mudança de hábito

Obra de maior impacto dos últimos dezesseis anos no trânsito da cidade, a demolição do Elevado da Perimetral transforma a rotina dos cariocas

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 13h17 - Publicado em 27 nov 2013, 18h44

Em metamorfose acelerada após décadas de marasmo, a paisagem urbana do Rio sofre neste domingo (24), às 7 da manhã, sua mudança mais radical. Na data, deverá ser implodido o trecho de 1?050 metros do Elevado da Perimetral entre a Avenida Professor Pereira Reis e a Rua Silvino Montenegro, na Zona Portuária. Ao contrário de outras intervenções históricas da malha viária carioca, como a inauguração das linhas Vermelha, em 1992, e Amarela, em 1997, o fim do elevado, em vez de ampliar, vai restringir a circulação de veículos, um panorama que deve perdurar na região central pelos próximos dois anos, até que as obras estejam prontas. Sem a via expressa elevada que é uma das principais ligações entre o Centro e a Zona Norte, bem como acesso à Ponte Rio-Niterói, deixa de existir uma artéria nevrálgica do já obstruído trânsito carioca. Para evitar o colapso, está em vigor desde o início do mês um conjunto de medidas excepcionais, que inclui a redistribuição de linhas de ônibus, a restrição ao estacionamento de veículos particulares e o reforço no sistema de transporte público.

O novo esquema já provocou grande mudança na rotina de quem passa ou tem como destino o coração econômico do Rio. Até o momento, o caos esperado não se confirmou, e a adesão em massa aos transportes coletivos foi apontada como a principal responsável pela fluidez do tráfego. Após sucessivos apelos pelo uso de coletivos por parte das autoridades, registrou-se um aumento de 27% na quantidade de passageiros nas barcas na manhã da última segunda (18), o primeiro dia em que as interdições incluíram outra importante rota do porto, a Avenida Rodrigues Alves. No mesmo período, caiu em um terço a quantidade de veículos que cruzou a Ponte Rio-Niterói. Nos horários de pico, o tempo médio de travessia foi reduzido de 25 para dezoito minutos. “O pior não aconteceu, e não há dúvida de que o carioca teve grande participação nesse processo”, diz o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório. “Essa consciência permitiu que a cidade não enfrentasse uma situação que poderia ser grave”, acredita.

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Trafegar pelo elevado era parte da rotina de milhares de passageiros e motoristas. Diariamente, 78?000 veículos em média circulavam pela via expressa. Um número excessivo, considerando-se a estrutura do elevado, projetado na década de 50 e concluído em 1978. Procurar alternativas ao seu uso torna-se agora uma necessidade, motivada não só pela conscientização como também pelo pragmatismo. Nesse caso inclui-se a estudante de direito da UFF Cristiane Chaché. Após demorar duas horas para percorrer 20 quilômetros entre sua casa, na Tijuca, e o câmpus de Niterói, ela se convenceu a alterar a rotina. “O trânsito na Leopoldina, que já era ruim, ficou ainda pior”, constata. “Passei, então, a fazer a travessia de barca.” Em pouco tempo ela já pôde perceber as mazelas do novo meio. A despeito do reforço de embarcações, com a oferta de mais 4?000 lugares nos horários de pico, Cristiane sofre com a superlotação na travessia. “Se eu chegar à estação da Praça XV às 7 da noite, preciso esperar pelo menos quarenta minutos até embarcar. Um absurdo”, queixa-se. Nos dias de chuva o desconforto se agrava. “Como as filas se prolongam para fora do terminal, a gente fica encharcada.” Queixa semelhante faz o advogado Jonas Cantarelle, morador de Niterói que trabalha no centro do Rio. Desde o primeiro dia de esquema especial, ele vem deixando o carro na garagem e passou a adotar o coletivo. “O ônibus tem ficado lotado já no início da viagem. Não era assim”, compara. Mas, como há menos veículos circulando pela ponte, ele ganhou trinta minutos no trajeto completo. “Antes, demorava uma hora e meia”, diz.

Trata-se de um caminho sem volta. A partir de domingo, todos terão de se acostumar com a nova paisagem da orla portuária, sem o Elevado da Perimetral no contorno. Para derrubar uma estrutura de tal magnitude, a operação envolverá 500 pessoas, entre agentes de trânsito, engenheiros e policiais militares. O trecho de 1 quilômetro a ser implodido neste domingo foi separado do restante do viaduto, que totaliza 4 quilômetros de extensão. Ele cairá após a detonação de 1?200 quilos de explosivos, instalados dentro de orifícios escavados em 31 pilares (veja o quadro acima). “É um processo mais simples que a implosão de prédios”, compara José Renato Ponte, presidente da Concessionária Porto Novo. Apesar da surpreendente tranquilidade registrada até aqui, ainda há várias etapas a percorrer antes da conclusão das obras. Os túneis subterrâneos que substituirão o elevado devem ser inaugurados no primeiro semestre de 2016. Até lá, corre-se sempre o risco de o trânsito desandar, especialmente se a opção pelo transporte individual voltar ao patamar anterior. Na cidade que tem o terceiro pior tráfego do mundo, segundo pesquisa da empresa holandesa TomTom em 169 metrópoles, a pronta adesão do carioca aos meios coletivos, independentemente de suas motivações, é um alento.

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