Delegacias do Rio registram, em média 16 casos de desaparecimento por dia
Apenas 10% dos registros se transformam, efetivamente, em inquéritos na Polícia Civil. Banco de dados do Ministério Público acompanha 24000 casos
Um levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostrou que, nos primeiros meses de 2024, 2.533 famílias registraram o desaparecimento de algum parente em delegacias do estado do Rio. Na média, são 16 desaparecimentos a cada dia.
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A falta de um banco que integre dados da polícia, dos hospitais e do IML dificulta a eficiência das buscas, aumentando a agonia de pais, mães e amigos de quem, do dia para a noite, sumiu.
“É a mesma história, só muda a idade, só muda a cor, o bairro, mas as histórias são sempre as mesmas: mau atendimento na delegacia, abandono do poder público e por aí vai”, desabafou a presidente da ONG Mães Virtuosas do Brasil, Luciene Pimenta Torres, à TV Globo.
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Ela procura a filha, Luciane, há 14 anos. À época, a jovem tinha 8 anos de idade quando desapareceu em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no caminho para a padaria. “O delegado me mandava ir atrás das pistas. O descaso fica muito claro”, diz Luciene. O caso acabou sendo arquivado.
O desaparecimento não é um crime, e sim um fato atípico. Por isso mesmo, muitas vezes, é negligenciado nas delegacias, segundo as famílias. Apenas 10% dos registros se transformam, efetivamente, em inquéritos na Polícia Civil.
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O Ministério Público do Rio de Janeiro lançou, em 2012, um banco de dados mais completo sobre pessoas desaparecidas no estado. O Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), pioneiro, conta com 36000 casos — 24000 ainda são acompanhados pelo órgão, em busca de uma solução definitiva.
“Cerca de 43% dos casos solucionados contaram com uma atuação efetiva do Plid para que a localização do desaparecido acontecesse”, explica a promotora Roberta Rosa Ribeiro.
O Plid não é só um banco de dados. O esforço é articular uma rede de instituições comprometidas em detectar casos suspeitos de desaparecimentos. A ideia central é não depender apenas do registro e da investigação policial.
De 2020 para cá, 11% das pessoas desaparecidas no estado do Rio foram localizadas pelos hospitais.
A Delegacia de Descoberta de Paradeiros na capital (DDPA) foi criada em 2014 e, dez anos depois, é a única delegacia especializada no estado.
De janeiro de 2023 a abril de 2024, entre as cinco delegacias com maior número de registros de desaparecimentos no estado, quatro estão fora da capital. Ficam na Baixada, onde as investigações ficam a cargo das delegacias de homicídios.
Em nota à TV Globo, a Polícia Civil informou que todos os casos registrados são investigados e que 95% dos desaparecidos na Região Metropolitana do Rio em 2024 foram encontrados.