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A manifestação que virou agito

Os que esperavam encontrar em Copacabana a energia dos antigos atos das Diretas Já tiveram que se contentar com um show embalado por pouca política de fato

Por Redação VEJA RIO Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 Maio 2017, 01h12 - Publicado em 30 Maio 2017, 15h44
 (Divulgação/Agência Estado)
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A névoa que tomou a orla do Rio no lugar do dia ensolarado que se imagina de um domingo à beira-mar já indicava que aquela manifestação seria diferente. O ato Rio Pelas Diretas Já, que aconteceu em Copacabana no último domingo (28), começou estranho com a escolha do local, o palco preferido da turma do “Fora Dilma” e a favor do impeachment – a ala pró-PT preferia o Centro ou a Lapa. De qualquer forma, se a ideia era passar a imagem de evento sem partido – se é que isso existe – funcionou. Tão sem partido que, a partir de determinado ponto da manifestação, o foco de atenção se dirigiu inteiramente para os artistas que ocuparam o trio elétrico estacionado no posto 4.

Nos primeiros 50 minutos de ato, quando as pessoas ainda estavam chegando à concentração, políticos como Jandira Feghali (PCB), Marcelo Freixo (PSol) e Alessandro Molon (REDE) desfiaram, de forma pouco entusiasmada, para animar o público composta pelos grupos sindicais que chegaram mais cedo.  Também tiraram muitas selfies no cercadinho vip montado atrás do caminhão de som, franqueado apenas por políticos cuidadosamente selecionados. Alguns nomes famosos vetados tiveram que ficar no meio do vuco-vuco mesmo. Mas não dispensaram as fotos.

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(Veja Rio/Veja Rio)

Depois que o host do evento, Wagner Moura, chegou — atrasado — começou-se a delinear o que de fato aconteceria ali: um belo show gratuito. O início foi morno, com o Bloco de Carnaval Cordão de Bola Preta. Melhorou com a chegada de Mart’nália, Otto e Teresa Cristina. Quando subiram ao palco os paulistanos Mano Brown e Criolo, o povaréu nem lembrava mais que aquilo era uma manifestação pelas eleições diretas – uma possível solução para a crise política. De vez em quando, alguém lembrava que aquilo era um ato político e soltava, no palco, um “Fora Temer”, ao que a audiência (já embalada por muita cerveja) respondia sem muita animação. Mas foi no show de Caetano que a coisa ficou boa: fãs choravam e se descabelavam para ver de perto o ídolo.

Entre as diversas tribos presentes, chamava a atenção um grupo de senhoras de Copacabana, que desceu dos prédios da quadríssima acompanhadas de seus poodles e shih-tzus para “tietar” os famosos que ocuparam a Avenida Atlântica. Em pequenos grupos, estavam ansiosas pelo show do musico baiano, que de vez em quando sussurrava no microfone um “Fora Temer” em meio à letra. As mulheres, várias delas paneleiras anti-Dilma e pró-Temer, não se incomodavam. “Toca Sozinho”, gritou uma delas. “Toca Fina Estampa”, berrou outra um pouco mais alto.

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Quem procurava celebridades pôde ver de longe Sophie Charlotte e o marido Daniel Oliveira, Maria Casadevall, Humberto Carrão, Julia Lemmertz e Gregório Duvivier, patota que ocupou o trio elétrico. Já o casal Laura Neiva e Chay Suede (disfarçado com uns óculos escuros e boné) decidiu curtir com a multidão. Quando a fanbase descobriu, foi correria de pré-adolescente querendo tirar foto com o galã da novela das 6 para tudo quanto é lado. Sim, as mocinhas também desceram dos prédios.

Já à noite, ninguém parecia lembrar mais de Temer, Lula ou Dilma. Na verdade, só um grupo de mulheres, que pedia a anulação do “golpe” e não por eleições diretas. “Tem que anular o golpe!  Aí a Dilma volta. Muito mais rápido”, gritava uma delas. Mas a multidão foi à loucura com a entrada em cena de Milton Nascimento. “Eu não acredito que estou vendo este ícone tão perto de casa”, desabafou uma moradora da Atlântica com uma Heineken gelada na mão.

No fim dos shows principais, os cantores foram embora e, com eles, a multidão. Os 18 graus marcados nos termômetros indicavam muito frio para uma noite de maio – sem contar a nebulosidade que não se dissipou. Mas foi ótimo, ninguém reclamou. “A voz do Milton estava espetacular, mas ele estava frágil”, disse um rapaz. “Adorei que o Caetano só cantou sucessos”, entusiasmava-se sua acompanhante. “Criolo é um gênio”, disse um adolescente, de skate na mão. E no meio da dispersão, um senhor de barba grisalha, já meio trôpego por conta das cervejas, gritou: “Diretas Já!”. Ninguém o acompanhou.

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