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Chaim Zaher estreia no Rio com novidades na educação privada

A compra do Colégio e Vestibular de A a Z é só a primeira aposta do empresário, dono de um dos maiores conglomerados de ensino do país

Por Carolina Barbosa e Daniela Pessoa
Atualizado em 3 fev 2018, 10h00 - Publicado em 3 fev 2018, 10h00

O namoro foi longo e cheio de idas e vindas. Teve jantares regados a vinhos caros, encontros no Rio e em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. As afinidades eram óbvias, mas sempre algo emperrava a união — e dinheiro era uma questão. Ao todo, foram cinco anos de um jogo de sedução que terminou no fim do ano passado em um prédio de formato ovalado, na Avenida Faria Lima, centro financeiro da capital paulista. Ali, em uma sala reservada do Octavio Café, uma espécie de contrato pré-nupcial selou o destino da rede carioca Colégio e Vestibular de A a Z, com sete unidades de ensino em cinco bairros e 3 000 alunos, que passava a fazer parte do conglomerado SEB (Sistema Educacional Brasileiro), um dos mamutes do ensino privado nacional, com mais de três décadas de atuação, 39 escolas e 45 000 alunos em dezesseis cidades de nove estados. Os sócios-fundadores do AZ, Bruno Rabin, 43 anos, Carlos Ferrão, 42, Naun Faul, 41, e Felipe Sundin, 40, finalmente disseram o tão esperado “sim” ao empresário Chaim Zaher, dono do SEB, com direito a espocar de rolha e champanhe francês Veuve Clicquot jorrando pela sala. A operação seria anunciada ao público no dia 22 de janeiro, no hotel Hilton, em Copacabana. Os valores não foram divulgados, mas especula-se que o SEB tenha desembolsado 45 milhões de reais pela rede carioca. Para Zaher, libanês que chegou ao interior de São Paulo ainda criança e se tornou um magnata do ensino, a compra marca sua presença no setor de educação básica no Rio. “O Chaim é um empreendedor sui generis: ele não faz contas pensando no dia seguinte”, elogia Rabin.

Nascido em Beirute, Zaher desembarcou com a família em Araçatuba, no extremo oeste paulista, nos anos 60. Costuma recorrer à origem árabe para justificar o tino para os negócios e consequentemente a posição de colosso da educação básica no Brasil. “Já viu árabe fazer mau negócio?”, dispara com seu largo sorriso nos lábios. O bom humor é uma das marcas registradas do empresário, que, em 2014, entrou para a lista de bilionários da Forbes com uma fortuna avaliada em 1,5 bilhão de reais (“A conta está errada. É mais”, diz, em meio a risadas). Muito antes de se tornar bilionário, no entanto, vendeu catálogos, doces e até limpou orelhões da antiga estatal de telefonia paulista. Sua história no setor de educação começou quando, aos 18 anos, foi trabalhar como porteiro e bedel em um cursinho pré-vestibular. Em pouco tempo, ele vendia matrículas como ninguém. A partir do momento em que concorrentes da capital, como Anglo e Objetivo, começaram a chegar ao interior, Zaher viu a chance de se tornar parceiro de um dos grandões paulistanos — e foi atrás logo do maior de todos, o Objetivo. Aproximou-se do fundador da rede, João Carlos Di Genio, virou sócio, amigo e compadre, até partir para voo próprio e comprar uma escola em Ribeirão Preto, o Colégio Oswaldo Cruz (COC), em 1986. Nesse ponto, já era um especialista no sistema de ensino apostilado, uma das grandes tendências da década, e que foi o ponto de partida para o SEB.

Escola Concept, em Ribeirão Preto: o modelo vai ser trazido para o Rio em 2019 (Fabiano Accorsi/Revista Veja/Veja.com)

Ousado, ambicioso e fã doente do cantor Roberto Carlos, Zaher pôs na cabeça que se tornaria uma potência no ensino privado brasileiro. Em meio à euforia do mercado de capitais no país, foi à bolsa de valores, abriu o capital de sua empresa, em 2007, captou 400 milhões de reais e adquiriu doze instituições de ensino, entre elas o Grupo Dom Bosco, de Curitiba, e o Pueri Domus, de São Paulo. Três anos depois, Zaher vendeu tudo para a inglesa Pearson Education, dona do jornal Financial Times e da revista The Economist, por 888 milhões de reais. “Lembro que me alertaram para, quando fosse participar de reuniões no exterior, sempre chamar minha empresa de ‘Ci-­Ou-Ci’, jamais de ‘Cóque’, como a gente falava lá em Ribeirão, porque ‘cock’, em inglês, você sabe o que é, né?”, explica, referindo-se à palavra usada para qualificar o órgão sexual masculino. Em 2013, mais uma grande sacada: vendeu a divisão de cursos superiores do grupo à Universidade Estácio de Sá, por 615 milhões de reais. Na época, tornou-se o principal acionista do conglomerado carioca, com um assento no conselho de administração, onde ficou até agosto do ano passado. Depois, vendeu sua participação ao fundo Advent por 430 milhões de reais. A saída se deu após capitanear a frustrada tentiva de fusão com a mineira Kroton, vetada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que criaria o maior grupo de educação do país e um dos maiores do mundo. “Meu tempo ali havia se esgotado, era hora de partir para novos projetos”, diz Zaher.

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De 1,3 milhão de alunos matriculados no ensino fundamental e médio da capital fluminense, 37% (ou 480 000) estudam na rede privada. É um contingente que busca por ensino de qualidade e está disposto a pagar, mas apenas uma pequena parcela consegue ter suas expectativas atendidas. Capitalizado e ancorado em um grande grupo, Zaher tem planos ambiciosos para sua chegada ao Rio através do AZ. De imediato, a rede deve ganhar uma unidade em Botafogo, ainda neste ano. Nos próximos meses, terá início uma ampla estratégia de reformulação. A ideia é injetar 30 milhões de reais na expansão da grade para abarcar o ensino fundamental completo. O projeto prevê ainda opção de tempo integral e educação bilíngue, além da instalação de modernos laboratórios — o que significa a abertura de outras unidades provavelmente na Barra da Tijuca, a área da cidade com a maior oferta de espaço. Em longo prazo, pensa-se até em criar uma faculdade com a marca. “O AZ tem de tudo para ser maior do que o pH, nosso principal concorrente”, cutuca Zaher, referindo-se à escola que hoje é parte do grupo Somos (veja o quadro abaixo) e onde trabalhavam os quatro fundadores do AZ antes de criarem sua rede. Com seu novo AZ, Zaher pretende cutucar, além do pH, escolas tradicionais da cidade e também os colégios bilíngues e internacionais. “Quando me perguntam sobre concorrência, gosto de contar uma anedota: ‘Um avião caiu em uma floresta com dois executivos e apareceu um leão. Um deles tirou um par de tênis da mala e começou a calçá-lo. O outro falou: Você acha que vai correr mais do que o leão com esses tênis? O dos tênis respondeu: eu não quero correr mais do que o leão, só quero correr mais do que você’.”

Sala de aula do AZ: criado em 2006 por professores que saíram do pH (Selmy Yassuda/Divulgação)

Para mostrar que não está de brincadeira, o libanês também promete fazer frente a outra estrela da educação carioca, o Colégio Eleva. Zaher planeja, já em 2019, trazer para o Rio a escola Concept, aberta no ano passado em Ribeirão Preto e com uma filial em Salvador, na Bahia. Com um modelo de ensino inspirado nas instituições mais modernas do mundo, principalmente da Finlândia e dos Estados Unidos, a escola tem uma proposta arrojada. “A meninada de hoje em dia é high-tech, não aceita mais o professor de frente para a lousa despejando conteúdo. É uma geração que precisa, mais do que de professores, de mentores”, explica Zaher. Ancorada em tecnologia, com laboratórios para a garotada pôr a mão na massa, a escola, com mensalidade média de 4 200 reais, prepara os pequenos para enfrentar os desafios de um mercado de trabalho em constante e acelerada mudança. “É consenso entre especialistas que metade das profissões que estarão em alta daqui a cinquenta anos ainda nem existe hoje”, diz Zaher, um aficionado de inteligência artificial. Não à toa, ele investiu 150 milhões de reais em pesquisa e viagens de seus especialistas a oito países e na construção da sede em Ribeirão Preto. O grupo adquiriu ainda 50% da americana Digital Media Academy — plataforma que oferece cursos de verão nas principais universidades dos Estados Unidos —, que funcionará como um posto avançado para novas experiências e metodologias no Vale do Silício, na Califórnia.

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Na posição de gigante de uma área estratégica, Zaher é bem relacionado e priva da intimidade dos círculos do poder. Já esteve com o ministro da Educação, Mendonça Filho, algumas vezes. “Dei sugestões para o setor e recomendei a criação de um Fies e um ProUni para o ensino básico”, conta o libanês. Secretária executiva do MEC, que assume a pasta em eventuais ausências do ministro, Maria Helena Guimarães de Castro atribui a Zaher, amigo de mais de 25 anos, adjetivos como dedicado e inteligente. “Ele é um grande batalhador, tem feito um trabalho muito importante na educação, setor que necessita de muitos investimentos não apenas na esfera pública, mas também na privada.” Zaher é fã também do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, a quem o bilionário chama de Zé e cumprimenta com beijo na bochecha (hoje, Cardozo dá aula de direito em uma das universidades do Grupo SEB). Por causa de outro grande amigo, Gabriel Chalita, ex-secretário de Educação de São Paulo, Zaher já foi alvo de investigação em 2015, acusado de pagar, supostamente, a reforma do apartamento de Chalita em troca de vantagens. Zaher nega veementemente. “Não sou político, só a educação me interessa”, diz.

(Felipe Fittipaldi/Veja Rio)

Em meio à ofensiva planejada para o Rio, Zaher tem especial carinho por uma modalidade de curso superior que pretende trazer para a cidade já a partir do ano que vem. Trata-se de um novo modelo de universidade, nos mesmos moldes da Singularity University. Localizada em um centro de pesquisa da Nasa, no Vale do Silício, a instituição foi fundada em 2009 pelo engenheiro Peter Diamandis e por Ray Kurzweil, diretor de engenharia do Google e um dos maiores gurus de inteligência artificial (IA) do planeta. “Cursos como direito, jornalismo, administração e engenharia serão focados na interpretação de dados, porque a IA vai dominar o mundo. Então, a gente precisa de profissionais que saibam ler números”, explica Zaher, que tenciona abrir várias unidades no país. “Muita gente me acha louco de investir na cidade neste momento, mas eu digo o seguinte: na maré a favor, até peixe morto nada. Quero ver é nadar contra, para, aí sim, aproveitar a corrente favorável depois.” Se depender do entusiasmo do libanês, a concorrência que se prepare.

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