Adeus, calhambeques

O Detran conduz uma grande operação para se livrar de 24 500 carros velhos abandonados em seus depósitos

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 13h48 - Publicado em 6 mar 2014, 21h55
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ambiente-01-abre.jpg (Fernando Lemos (foto principal), Sebastião gomes / ascom detran/)
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Enfileirados em um terreno poeirento no município de Itaboraí, região metropolitana do Rio, 5?900 veículos fora de uso empilham-se em montanhas de vidros quebrados e ferro retorcido. Lado a lado, há dinossauros da indústria automobilística como Belina, Corcel, Brasília, Opala e Monza que foram objeto do desejo de dez entre dez motoristas dos anos 1970 e 1980. Das gerações mais recentes, são frequentes exemplares como Corsa e Mille, que cercam raridades como um carro funerário da Santa Casa de Misericórdia do Rio. Os automóveis, em avançado estágio de deterioração, compõem um insalubre cemitério de carcaças transformadas em criadouros de ratos e insetos, como o mosquito da dengue. Pertencente ao Detran, o terreno é, há anos, um monumento à burocracia que atravanca os órgãos públicos. Até o segundo semestre, no entanto, esse cenário desolador deve mudar. Desde dezembro, uma lei estadual autoriza transformar em blocos metálicos e vender como ferro-velho todos os veículos armazenados há mais de noventa dias e considerados inúteis. Os que ainda tiverem condições de rodar deverão ser leiloados para novos donos. A operação de faxina começou em janeiro e deve transformar em sucata 24?500 veículos estacionados em dez depósitos em todo o estado. Um feito de proporções inéditas, que corresponde a 77% dos 31?500 automóveis hoje sob a custódia pública. “Esses terrenos são um exemplo de má gestão”, diz Fernando Avelino, presidente do Detran-RJ. “Vamos eliminar o problema, respeitando o meio ambiente e protegendo a saúde da população”, afirma.

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Livrar-se de toda essa velharia é tarefa relativamente simples, realizada por meio de uma prensa hidráulica móvel que se desloca entre vários depósitos. Primeiro, o veículo tem todos os resíduos de combustível e óleo lubrificante drenados por um maquinário especial, que os separa para posterior reciclagem. A medida impede vazamentos e contaminação por tais produtos, considerados altamente nocivos ao meio ambiente. Em seguida, o carro é suspenso por um braço mecânico dotado de garras. A carcaça é, então, cuidadosamente introduzida dentro da prensa para ser esmagada. Concluído o serviço, o resultado é um cubo pronto para ser reprocessado e transformado em aço por indústrias siderúrgicas. Cada tonelada de lataria compactada vale, em média, 270 reais. O primeiro lote vendido pelo Detran, com 5?000 carros e motos, foi adquirido pela Gerdau por 330?000 reais.

Além de render dinheiro ao governo, a medida servirá para coibir o comércio ilegal de peças. No estacionamento de Itaboraí, marcas de tiros em um dos portões comprovam que o depósito costuma ser alvo da ação de bandidos que invadem a área e depenam o que podem dos veículos. A operação também ajudará o Detran a gerir melhor as áreas que ocupa com estacionamento. Alugados, os espaços atuais, que nem sequer contam com pavimentação, serão fechados. A ideia é subs­ti­tuí-los por terrenos menores e menos onerosos. Até o fim do ano, a faxina automobilística será informatizada, e os veículos sob custódia do estado terão uma ficha on-line. Através dela, será possível acompanhar todos os trâmites legais de cada um deles. “Em conjunto com os órgãos de Justiça, vamos dar agilidade e transparência ao processo”, acredita Avelino. É um fim digno para nossos calhambeques.

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