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Nossa praia em Minas

Os cariocas são os forasteiros que mais visitam o Instituto Inhotim, complexo artístico que é referência mundial

Por Rachel Sterman
Atualizado em 2 jun 2017, 13h10 - Publicado em 9 abr 2014, 19h33
FOTOS VICTOR SCHWANER/ODIN
FOTOS VICTOR SCHWANER/ODIN (Redação Veja rio/)
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Logo no balcão de entrada o visitante começa a ter uma ideia de como será seu passeio pelo Instituto Inhotim, localizado na cidade mineira de Brumadinho, a 60 quilômetros da capital, Belo Horizonte. Na entrada, entre uma espiada e outra no mapa, é possível avistar um dos quatro lagos espalhados pelo terreno que abriga o maior centro de arte ao ar livre da América Latina, uma harmônica mistura entre museu e jardim botânico. A grandiosidade da empreitada, inaugurada em 2006 pelo empresário do ramo da mineração Bernardo Paz, é justamente o que justifica o fascínio que Inhotim exerce além dos limites das suas fronteiras: no ano passado, nada menos que 30?000 cariocas foram conhecer as 5?000 espécies de plantas catalogadas e as 170 obras de arte em exposição. Esse número representa o maior público de fora de Minas Gerais a visitar o parque, deixando São Paulo em um distante terceiro lugar. “Inhotim não é uma coleção, é um destino. Fico muito feliz quando vejo que o carioca está saindo da sua cidade maravilhosa para conhecer esse lugar único”, comenta Bernardo, irmão do publicitário Cristiano Paz, preso em razão do mensalão petista.

Mesmo com todas as menções já recebidas pelo parque em sites e guias turísticos, o boca a boca é o que leva mais visitantes a Inhotim. Cerca de 63% do público que desembarca por ali chega por indicação de colegas, parentes e vizinhos que estiveram no parque. Foi assim com as amigas Júlia Werneck e Laura Viana, ambas com 25 anos, moradoras de Ipanema e Leblon respectivamente. Enquanto caminhava, Júlia, estudante de cinema e atriz, disparava freneticamente sua câmera fotográfica. “O que mais me impressionou foi a natureza em meio à arquitetura das galerias. Cada trecho entre um lugar e outro é um passeio à parte”, resume. De fato, mesmo acostumados com a exuberância da vegetação carioca, os visitantes partem dali maravilhados com a perfeita integração entre os densos jardins e a arte, tanto a exposta ao ar livre como a abrigada em galerias. “Acreditamos nessa troca com a natureza e encontramos um lugar para repor as energias”, diz Evelyn Gonçaves Vieira, moradora da Tijuca, que visitou o lugar junto com a irmã Ellen no mês passado. Em ambos os casos, das amigas da Zona Sul e das irmãs tijucanas, há planos concretos para voltar ao instituto em breve, o que também se confirma nas estatísticas: 26,5% do total de visitantes pretendem retornar, uma taxa que pode ser comparada à dos grandes museus mundo afora.

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O ineditismo do espaço encravado em uma cidadezinha pouco conhecida de Minas Gerais consiste em uma combinação de fatores que não se resume à fórmula de misturar arte e natureza. Alguns dos principais trabalhos expostos em Inhotim foram pensados especialmente para o espaço em que se encontram. “Muitas obras que estão no parque não poderiam ser realizadas em nenhum outro lugar”, explica Paz. É o caso da galeria de sua ex-mulher, a carioca Adriana Varejão, uma das mais populares entre os visitantes, ou do conjunto da obra de Cildo Meireles, que dividem a atenção com ícones internacionais como Yayoi Kusama, uma das maiores artistas pop japonesas. Além disso, a sustentabilidade permeia cada hectare do terreno e a integração com a população local se dá de forma efetiva: a maioria dos 1?000 funcionários são jovens da região oriundos das quatro comunidades quilombolas locais ou filhos de trabalhadores das mineradoras ? muitos deles em seu primeiro emprego. Para alcançar o padrão de atendimento digno dos centros culturais lá de fora, todos são submetidos a rigorosos treinamentos, que incluem aulas de inglês e lições sobre biodiversidade, passadas do jardineiro ao vendedor de ingressos.

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VICTOR SCHWANER/ODIN
VICTOR SCHWANER/ODIN ()

Embora projetos como o Benesse Art, um conjunto de museus e instalações na ilha japonesa de Naoshima, também exibam instalações ao ar livre, Inhotim é visto como um exemplar raro no mundo das artes contemporâneas, tornando-se um dos mais relevantes centros do planeta. “Esse diálogo entre arquitetura, paisagismo e trabalhos fundamentais de cada artista confere a Inhotim uma dimensão visionária”, afirma Luiz Camillo Osório, curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Mencionado pelo jornal americano The New York Times como um sopro de megalomania, o instituto não para de se expandir. Existem projetos em desenvolvimento com grandes nomes como o dinamarquês Olafur Eliasson e o indiano Anish Kapoor, e um dos cinco hotéis em projeto já está sendo construído. Estão previstas, ainda, a implantação de um centro de convenções com 1?600 lugares, uma rua do comércio e a ampliação do número de pavilhões de arte ? serão necessários, segundo os ousados planos de Bernardo Paz, dez dias para percorrer a totalidade de Inhotim. Se seus devaneios vão se concretizar, é difícil saber. Mas certamente uma leva enorme de cariocas estará lá para conferir.

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