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Cariocas sofrem para se adaptar à racionalização de ônibus

Depois de  cinco meses, a mudança nas rotas dos coletivos ainda causa dúvidas e gera problemas mas ainda dá tempo para ajustes

Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 12h12 - Publicado em 12 mar 2016, 01h00
Nicole ônibus
Nicole ônibus (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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Menos de 2 quilômetros separam o Leme da Urca. Uma reta, formada pelas avenidas Princesa Isabel e Venceslau Brás, com o Túnel Novo no meio, une os dois bairros. Nicole Lima conhece bem o percurso — ela o atravessa de segunda a sexta, de casa para o trabalho e a faculdade. Por isso mesmo, não entende como hoje chega a gastar uma hora na viagem simples que, até outro dia, não demorava vinte minutos para completar. A estudante de 22 anos engrossa uma legião de descontentes com os resultados do chamado projeto de racionalização das linhas de ônibus. Entre outubro de 2015 e o último dia 27, a iniciativa de nome promissor avaliou 124 linhas em circulação pela Zona Sul. Em ações promovidas ao longo de dez etapas, setenta delas saíram de cena, 41 tiveram o itinerário mudado e outras dezesseis foram criadas. Velhos conhecidos da população, o nome e o número grafados na identificação dos veículos foram substituídos por novos códigos, e até um neologismo, o notório “troncal”, ganhou as ruas. Resumo da ópera: o carioca precisa reaprender a andar de ônibus, mas não tem contado com muita ajuda do poder público e das concessionárias de transporte.

+ Cerca de 70% dos ônibus municipais circulam sujos

Nicole que o diga. “Antes, eu podia escolher entre três linhas. Agora, só há uma, a 538 (Rocinha-Leme), que demora, e ainda preciso fazer uma baldeação até chegar à Urca. A volta, à noite, é ainda pior, e acabo caminhando da Praça Cardeal Arcoverde até minha casa, no Leme, para poupar tempo”, relata. A confusão atual começou com a derrubada da Perimetral, iniciada em novembro de 2013. A implosão do viaduto, marco da reurbanização na Zona Portuária, foi condicionada, por exigência do Ministério Público do estado, à criação de um grupo encarregado de elaborar um plano de mobilidade para a cidade. Em busca de formas de reordenar o tráfego no Centro, os técnicos concluíram que as mudanças passavam pelo traçado rodoviário da Zona Sul, onde 64% das linhas apresentavam mais de 75% dos seus trajetos sobrepostos. Na hora de desemaranhar esse nó, deu-se o rolo. O próprio Ministério Público, hoje, através do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema), cobra da prefeitura, em ação na Justiça, estudos técnicos que tenham servido de lastro ao projeto implantado. “Nunca discordamos sobre a necessidade da racionalização, mas a participação da população foi suprimida, com a ausência de audiências públicas, por exemplo. Por isso, agora buscamos dar transparência ao processo”, diz o promotor Marcus Leal, coordenador do Gaema.

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CIDADE QUADRO
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O novo sistema, de linhas troncais, integradas e circulares, não agradou — ou não foi compreendido, dependendo do lado em que se está na contenda. Pouco acostumado a fazer baldeação, o passageiro da Zona Sul agora se vê obrigado a trocar de veículo em trajetos curtos. Acumulam-se nas redes sociais reclamações sobre a diminuição na oferta de transporte ou a simples ausência dela, em localidades como Cosme Velho, Urca e Leme. Há ainda quem passou a gastar mais com passagem, mesmo usando o bilhete único. “Falta comunicação. Os avisos não estão disponíveis em alguns pontos. Também surgiram linhas irracionais, como o Troncal 10, que dá a volta ao mundo, do Centro à Praça General Osório, passando pelo Jockey”, queixa-se o engenheiro Licinio Machado Rogério, representante da Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro no Fórum Permanente da Mobilidade Urbana da cidade. Rafael Picciani, secretário municipal de Transportes, é todo ouvidos. Ele reconhece que o planejamento, mesmo já implementado —pela secretaria e pela empresa Sinergia Estudos e Projetos —, ainda precisa de ajustes. “Toda mudança causa transtornos. Tivemos problemas de comunicação, mas estamos abertos a ouvir as reclamações e resolver as demandas da população. Nas ruas, as pessoas vêm falar comigo, e devem continuar a fazer isso”, convida. “Trabalho com a meta de que, em um mês e meio, o sistema estará ajustado”, promete Picciani. Ao cidadão, portanto, cabe o papel do cobrador (com trocadilho).

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