Câmeras se multiplicam pela cidade e ajudam a elucidar crimes
Equipamentos são interligados a software de inteligência artificial que mantém canal direto com a segurança pública

Um dos romances mais emblemáticos do século XX, 1984 é uma distopia futurista sobre uma sociedade vigiada pelo Grande Irmão. A obra foi a inspiração para o Big Brother Brasil, reality que encerrou a sua 25ª temporada no final do último mês. Se na trama de George Orwell a ideia era manter o controle de um regime totalitarista, hoje outro tipo de vigilância chegou com o intuito de proteger da violência urbana. Espalhados por toda a cidade, câmeras e totens de luz verde chamam a atenção e despertam a curiosidade dos cariocas em portões e fachadas de prédios no Rio. Trata-se dos equipamentos da Gabriel, start-up de câmeras de segurança interligadas a um software de inteligência artificial, que mantém um canal direto com a Polícia Militar e a prefeitura, enviando alertas automáticos de veículos suspeitos e atendendo a pedidos de imagens. “Temos desempenhado um papel importante com as autoridades públicas. Nossa tecnologia fornece inteligência para os órgãos competentes, ajudando na resolução de crimes de forma mais eficiente”, defende Erick Coser, co-fundador e diretor executivo da empresa.

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Na noite do dia 3 de julho do ano passado, as câmeras capturaram imagens de uma abordagem policial truculenta a um grupo de cinco jovens em Ipanema, quatro deles filhos de diplomatas. O caso ocorreu enquanto os adolescentes visitavam a cidade durante as férias e ganhou repercussão internacional.

Poucos dias depois, quatro criminosos armados invadiram casas, fizeram reféns e roubaram itens de valor em residências no Jardim Botânico. Através das imagens, as autoridades conseguiram mapear a movimentação suspeita no dia anterior ao crime, registrar o momento exato da invasão, identificar as placas dos veículos utilizados e efetuar a prisão de dois dos envolvidos.
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As câmeras de alta definição possuem visão de 180 graus, e enviam dados em tempo real para a nuvem, apoiando investigações. “Perdi a conta de quantos casos já conseguimos elucidar, dos mais simples, de identificação de suspeitos, até os mais complexos, envolvendo organizações criminosas de grande porte”, afirma Ângelo Lages, delegado da 12ª DP, de Copacabana. Desde a implantação do sistema, a empresa já auxiliou em mais de 10 000 solicitações das autoridades, colaborando para a prisão de 600 pessoas, a recuperação de 52 veículos — graças à tecnologia de leitura automática de placas —, e o reencontro de dez pessoas desaparecidas.
Inicialmente instaladas no Leblon em 2020, as 300 unidades saltaram para mais de 7550 em 2025, e hoje estão espalhadas por bairros como Ipanema, Copacabana, Barra da Tijuca, Freguesia e Grande Tijuca, além de pontos estratégicos como os quiosques na orla do Leme ao Leblon, por onde passam muitos turistas. Isso equivale ao monitoramento direto de aproximadamente 293 000 pessoas. Um crescimento que acompanha uma triste estatística, a do aumento da criminalidade no Rio: de acordo com os dados mais recentes do Instituto de Segurança Pública (ISP), os roubos de celulares aumentaram 48% no estado, passando de 1 671 casos em março do ano passado para 2 479 no mesmo período de 2025.
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Com o objetivo de reforçar a segurança no Parque Lage, a Associação de Moradores e Amigos da Escola de Artes Visuais (Ameav) contratou o serviço da Gabriel no início de abril, logo depois que bandidos fortemente armados invadiram o palacete durante a noite. Foram instalados cinco totens com visão estratégica ao longo do muro externo, enquanto o sistema interno de câmeras do palacete e do parque também foi ampliado.

“Essa era uma demanda antiga, com o objetivo de proteger alunos, professores e turistas”, afirma Tânia Queiroz, diretora interina da instituição no Jardim Botânico. Com mensalidades a partir de 699 reais, além do custo de instalação, a empresa ainda armazena todas as imagens por um período de catorze dias corridos. Já os registros de placas de veículos ficam guardados por cinco dias. “O compartilhamento de informações com a polícia só ocorre mediante solicitação oficial e dentro dos parâmetros legais”, ressalta Coser.
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Na cruzada pela segurança, a prefeitura do Rio monitora as imagens geradas por 3800 câmeras na Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia em Apoio à Segurança, a Civitas, inaugurada em junho de 2024. Há ainda 2000 equipamentos instalados no MetrôRio, fora os de outros meios de transporte, como os ônibus, trens e VLT, os das polícias e de outras empresas privadas de videomonitoramento – elas chegam a quase 2000 só no Rio segundo a Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos (Abese).
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Somando as esferas pública e privada, o Estado hoje lidera o ranking nacional com 3,3 câmeras para cada 1000 habitantes. Na Tijuca, síndicos de um condomínio na Rua Delfina conseguiram elucidar um crime usando imagens de duas câmeras recém-instaladas. “Assaltos e furtos são muito frequentes nessa região, que fica erma à noite. No dia que instalamos o sistema, o condomínio vizinho foi roubado e fomos até a polícia, que conseguiu identificar o bandido através dos vídeos”, conta a moradora Celise Moraes. De olho em todos os lances, a cidade vai ficando um pouco mais segura.