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A cada hora, quatro carros são roubados ou furtados no Rio

Crimes dispararam na cidade no último ano, deixando nos cariocas uma sensação de insegurança

Por Ernesto Neves
20 abr 2023, 19h00

A semana do dia 12 de fevereiro começou com um baita susto para o empresário e influenciador carioca Rafael Studart. Ao sair do apartamento da namorada, na Rua dos Carijós, no Méier, ele foi vítima de um crime que a cada dia atormenta mais cariocas — seu carro, um Honda Fit, havia sido arrombado durante a noite e todos os itens que repousavam lá dentro acabaram surrupiados. O prejuízo, Studart calcula, superou os 600 reais. “Ele carregou tudo o que encontrou pela frente”, conta o empresário, que já havia perdido um veículo ao ser rendido no Largo do Machado.

Do outro lado da cidade, no Recreio, a professora de artes Samara Viana também teve seu Corsa levado por bandidos. Ela havia estacionado na Rua Guiomar de Novaes, uma das artérias do bairro, por vinte minutos, enquanto buscava uma encomenda. Ao voltar, veio a má surpresa: o veículo tinha desaparecido, deixando a dona espantada com a rapidez dos larápios. Na mala estava seu material de trabalho e as compras do mês feitas num mercado próximo. “Fiquei tão atordoada que não conseguia acreditar”, conta ela, que instalou um rastreador no novo carro e revela a tensa rotina que passou a adotar. “Passo o dia checando se ele continua lá. Estou traumatizada”, acrescenta.

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(./Veja Rio)

Os dois relatos compõem estatísticas alarmantes. Segundo dados coletados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP), 14 064 carros foram roubados na capital do estado ao longo de 2022, uma subida de 16% em um ano. Houve também um salto na quantidade de furtos a automóveis — 7 534 pessoas registraram esse tipo de queixa no mesmo período, o que equivale ao crescimento de 18%. E as engrenagens criminosas seguem a todo vapor: em janeiro, todos os dias, mais de 3 000 veículos foram roubados ou furtados na cidade, o equivalente a quatro carros por hora, uma marca inaceitável.

O ex-capitão do Bope Paulo Storani: traficantes de drogas passaram a atuar no roubo de cargas e veículos
O ex-capitão do Bope Paulo Storani: traficantes de drogas passaram a atuar no roubo de cargas e veículos (./Divulgação)

De acordo com as autoridades, o avanço reflete um leque de fatores, a começar pelo fato de a população ter voltado a circular normalmente no cenário pós-pandêmico. Mas o enrosco é bem maior — e remete a nós apertados que precisam ser desatados na segurança pública do Rio. As quadrilhas, notoriamente centradas no tráfico de drogas, estão diversificando os negócios para outras searas. “Traficantes do Rio passaram a copiar o modelo de São Paulo, aumentando seu portfólio de atividades criminosas”, afirma o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Bope, a tropa de elite fluminense, e consultor da sequência cinematográfica Tropa de Elite. O roubo de carga e de automóveis consta no rol agora ampliado de crimes cometidos pelos marginais do Rio.

Ao levar um veículo, eles conseguem obter lucro de inúmeras formas, entre elas a revenda de peças, a clonagem da placa e até a exigência do pagamento de dinheiro para resgate do carro. Esse modus operandi é usual em bandos como o do Complexo do Lins, na Zona Norte, uma das poderosas gangues de traficantes do Rio, que pratica assaltos em bairros como Tijuca, Engenho Novo, Méier, Jacarepaguá, Barra e Recreio. A atuação da bandidagem é tão intensa que interfere nos índices de toda a região — entre as dez delegacias com maior aumento de crimes em 2022, oito se encontram justamente na banda Norte carioca.

Já a quadrilha dos morros do Turano e Fallet-Fogueteiro, em Santa Teresa, age especialmente na Zona Sul. Ainda se destacam os grupos de marginais do Morro da Serrinha, em Madureira, e do Complexo de Senador Camará, na Zona Oeste, onde policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos recentemente encontraram quarenta carros arrancados de seus donos, incluindo modelos de luxo, como um Jeep Renegade e um Toyota Corolla Cross.

Morro do Turano: bandidos da favela na Tijuca agem especialmente na Zona Sul
Morro do Turano: bandidos da favela na Tijuca agem especialmente na Zona Sul (Custódio Coimbra/Agência O Globo)

O governo do estado tem enfrentado dificuldades para conter o problema que tanto afeta o dia a dia. No ano passado, a Polícia Civil conseguiu recuperar apenas 31% dos carros roubados — número bem abaixo da média usual, de 50%. A minguada taxa não só passa a sensação de impunidade, como também se reflete no mercado de seguros. Segundo dados do IBGE, o valor das apólices acumula alta de 32% nos últimos doze meses. “As seguradoras acompanham a curva de crescimento desses roubos com muita atenção”, diz Ronaldo Vilela, diretor-executivo do Sindicato das Seguradoras (SindSeg-RJ).

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(./Veja Rio)

O combate ao crime consiste em ações de inteligência para desbaratar as quadrilhas que se escondem nas favelas cariocas. Também é preciso aprimorar a legislação que pune a receptação e o desmanche de automóveis, hoje considerada frouxa. A Polícia Militar afirma que intensificou o patrulhamento das ruas com a compra de 1 000 novas viaturas e mais 800 PMs. Também informa que, em janeiro, houve queda de 2,6% nessa modalidade de crime, o que já seria resultado do recrudescimento do cerco aos bandidos.

A Polícia Civil, por sua vez, criou a Operação Torniquete, uma força-tarefa que já se desdobrou em 92 prisões e oitenta veículos recuperados. Segundo as investigações, a favela Vila Aliança, na Zona Oeste, se tornou uma das bases operacionais de uma facção criminosa que fornece armamento pesado — como fuzis, pistolas e granadas — para a prática de roubos de veículos e de cargas em diversas regiões do Rio. Acossado pela violência, resta ao carioca torcer para que as iniciativas ganhem escala e rapidez, e que as ruas fiquem mais seguras.

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