Salvem os botos-cinza: só restam mais trinta animais na Baía de Guanabara

Cientistas da Uerj alertam para riscos da poluição, tanto da água quanto sonora; espécie, que era contada aos milhares no século XVI, nos anos 80 caiu a 400

Por Da Redação
2 Maio 2022, 14h47
DivulgaçãoInstituto Boto-Cinza
Boto-Cinza: poluição ameaça espécie na Baía de Guanabara. (Instituto Boto-Cinza/Divulgação)
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Já não chegam a 30 os botos da Baía de Guanabara. Há três décadas, cientistas do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua) da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) estudam e tentam salvar os botos-cinza (Sotalia guianensis) por ali. Mas, à medida que a poluição – tanto da água quanto sonora – avança, os riscos aumentam.

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“As águas da Guanabara ainda guardam imensa riqueza, mas as agressões só aumentam e afetam a todos nós. Os botos, animais do topo da cadeia alimentar, são as suas sentinelas e o seu maior símbolo. A poluição que os afeta também nos atinge. Salvar os oceanos é salvar a nós mesmos e é possível”, disse ao Globo José Lailson Brito Junior, oceanógrafo, doutor em biofísica e um dos fundadores e coordenadores do Maqua.

O grupo de botos acompanhado pelo Maqua tem indivíduos como uma fêmea de 20 anos apelidada de Titia pelos cientistas, que está próxima do fim da vida, pois sua espécie não costuma passar dos 30. Mas os botos mais jovens têm reduzidas as chances de chegar a 6 ou 7 anos, idade em que começam a se reproduzir, afirma ao jornal Alexandre de Freitas Azevedo, especialista em comportamento e bioacústica de cetáceos e também um dos fundadores e coordenadores do Maqua. É essa morte precoce que, ano a ano, coloca o boto da Guanabara cada vez mais perto do fim. Segundo a reportagem, alguns botos apresentam comportamentos peculiares na baía: parecem se divertir capturando pedaços de lixo plástico com o focinho ou a ponta de cauda e os atirando para outros membros do grupo, o que os expõe a engolir e sufocar com detritos contaminados.

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Quando os primeiros europeus chegaram, os botos se contavam aos milhares. No século XVI, o missionário francês Jean de Léry (1536-1613), autor de “História de uma viagem à terra do Brasil”, escreveu que os botos “reuniam-se não raro em tão grande número em torno de nós e até onde alcançava a vista”. Mas a espécie foi caçada à beira do extermínio, e teve seu habitat progressivamente destruído. Porém, até o início do século XX ainda eram relativamente comuns, ao ponto de estarem no brasão e na bandeira do município do Rio de Janeiro.

Na década de 1980, no entanto, não havia mais que 400 animais. Em 1992, ano em que o Maqua foi fundado, esse número havia caído para pouco mais de uma centena. Em 2014, só 40 foram registrados pelos cientistas do Maqua. Este ano, eles não chegam a 30. São os últimos. E quase não são vistos, pois, diferentemente dos golfinhos, oceânicos e desinibidos, os botos costeiros são tímidos, evitam se aproximar do ser humano. Estão praticamente confinados num canto da baía junto à Estação Ecológica da Guanabara e à Área de Proteção Ambiental de Guapimirim.

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Na Guanabara sem saneamento, há esgoto doméstico e poluentes industriais tão agressivos e letais quanto PCBs, ascarel, dioxina (resultado da queima de lixo doméstico e industrial), retardantes de chamas, que persistem por anos após o lançamento. “Os cetáceos do Brasil têm a maior taxa de contaminação já registrada em um animal do mundo”, afirma José Lailson Brito Junior.

 

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