Um cronista do Rio Boêmio
A biografia de Wilson Baptista, que chegou a rivalizar com Noel Rosa como letrista de sambas
Acaba de chegar às livrarias O Samba Foi Sua Glória, biografia de Wilson Baptista (1913-1968) escrita pelo pesquisador Rodrigo Alzuguir, um lançamento da Casa da Palavra. O Rio da Lapa, do burburinho da Praça Tiradentes, do antigo Café Nice, de malandros e valentões, permeia suas 600 páginas. Nascido em Campos, no norte fluminense, Baptista era ainda adolescente quando fugiu de casa rumo à capital, escondido num trem de gado. Veio no meio dos animais e, como gostava de dizer, chegou ao Rio “lambido de vaca”. Aqui, morou em Santa Teresa e no Centro. A partir do fim da década de 20, passou a compor sambas e marchas, interpretados por artistas do calibre de Sylvio Caldas, Francisco Alves, Aracy de Almeida e Orlando Silva. Sua estampa, no entanto, não se tornou tão popular. “Ele não era bom de marketing, tinha horror a patotas e hierarquias. Politicamente incorreto, sofreu muito preconceito”, diz o autor da obra, que para escrevê-la contou com a autorização e o apoio do filho do sambista, o motorista de táxi Vílson Baptista de Oliveira, também já falecido. Rubro-negro doente, polêmico pelo costume de vender composições, Wilson Baptista acabou se transformando num grande cronista do cotidiano carioca (falava de trânsito, Carnaval, personalidades), rivalizando com Noel Rosa na vida e nas letras, e tendo inúmeros parceiros (de boemia e de canções), como Ataulfo Alves e o caricaturista Antônio Nássara.
Músicas famosas de um autor quase desconhecido
? Acertei no Milhar “Etelvina, acertei no milhar / Ganhei quinhentos contos / Não vou mais trabalhar”
? Mundo de Zinco “Aquele mundo de zinco que é Mangueira / Desperta com o apito do trem”
? Louco “Louco, pelas ruas ele andava / O coitado chorava / Transformou-se até num vagabundo”
? O Bonde São Januário “Quem trabalha é que tem razão / Eu digo e não tenho medo de errar”