Ai, como eu tô bandida!
Conheça Rodrigo Sant'Anna, o intérprete da transexual Valéria, sucesso do programa Zorra Total

“Essa menina passa o dia inteiro te imitando!”. Foi com essa frase que uma jovem de seus 20 e poucos anos denunciou a amiga. “Tira uma foto com a gente?”, pediu a seguir. Bastaram dez minutos na calçada da Praia de Botafogo para que outras cinco pessoas fizessem o mesmo pedido. Tem sido assim desde que Rodrigo Sant’Anna apareceu pela primeira vez como a transexual Valéria na TV, há dois meses. Sucesso no programa humorístico Zorra Total, da TV Globo, o primeiro quadro gravado tem hoje mais de 700 mil acessos no YouTube. O personagem agradou o público e disseminou pelas ruas o bordão “Ai, como eu tô bandida!”.
Aos 30 anos, Rodrigo Sant’Anna ainda parece assustado com a repercussão tão repentina de seu novo trabalho. Nos últimos quatro anos, ele atuou em A Turma do Didi e, desde o início de 2010, vive o malandro Admilson no quadro Lady Kate, também no Zorra. Nada que chegasse perto do sucesso alcançado por Valéria, personagem que ele já vivia no teatro, no espetáculo Os Suburbanos. Foi inclusive depois de assistir à peça que o diretor Maurício Sherman o convidou para atuar no programa global.
A decisão de incluir Valéria no humorístico veio bem depois da estreia de Sant’Anna na atração, mas não foi aleatória. “Quando veio esse momento de Ariadna, da Lea T., da discussão em torno da transexualidade em alta, veio o estalo. Não seria uma hora bacana de colocar uma transexual no programa?”, lembra. A pergunta foi respondida com um sim pelo diretor do programa, que antes de levá-lo ao ar fez certas adaptações ao personagem desenhado originalmente para o teatro.
A tranquilidade em sua fala, um misto de cautela e assumida timidez, contrasta com o jeito expansivo da figura hilária que vem divertindo o público e garantindo ótimos índices de audiência ao quadro. “A Valéria é muito cruel, é tão horrorosa quanto a Janete, mas se acha no direito de acabar com a outra”, diverte-se ele. A presunção com que a “maléfica” Valéria revira os olhos passa bem longe de seu intérprete. “Esse momento é efêmero, sei que ele passa. Eu confesso que fico até com medo, porque o povo enjoa muito rápido das coisas”, diz, ao ser interrompido pelo celular, que tocava pela nona vez durante a entrevista. Do outro lado da linha era a atriz Thalita Carauta (a Janete). “Fala garota!”, exclamou ele. A parceria da dupla, surgida no Tablado e coroada com o êxito de seus personagens, já dura mais de dez anos.
Apenas nove semanas após a estreia de Valéria e Janete, Sant’Anna faz malabarismos para aproveitar a popularidade que o personagem lhe deu. Além de gravar três vezes por semana, está em cartaz de terça a domingo, dividindo-se entre as lonas culturais da cidade e o Teatro dos Grandes Atores, na Barra, com a peça Comício Gargalhada às sextas e sábados. O monólogo cômico já está com as próximas sessões esgotadas. “Tenho que juntar dinheiro pra comprar apartamento”, brinca o ator, que acaba de se mudar do Catete para Laranjeiras e sonha com “um dois quartos de frente pro Aterro, ali na Rui Barbosa. Mas tem que ter vista pra Baía. De fundos eu não quero”.
Entre suas principais referências artísticas estão Chico Anysio (“o maior criador de tipos do país”) e Miguel Falabella, responsável por despertar em Sant’Anna o interesse pelo teatro com o saudoso Caco Antibes, do humorístico dominical Sai de Baixo. Porém, ele admite que ainda precisa evoluir um bocado na carreira de comediante. “Minha maior frustração é não saber imitar alguém”, diz ele. Criando outros personagens tão autênticos como Valéria, nem precisa.