Bancas com cara nova: de venda de jornais a points culturais

Em tempos digitais, as bancas se reposicionam como espaços de socialização e de valorização da arte

Por pedrobragacoutinho
Atualizado em 9 Maio 2025, 09h32 - Publicado em 9 Maio 2025, 08h32
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C.I.N.Z.A.: Jonas Aisengart adotou o espaço defronte ao seu bar e fundou a banca (Rua General Polidoro, 164, Botafogo): prateleiras com artes plásticas, discos de vinil e itens de vestuário  (Daniela Darcoso/Veja Rio)
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Inaugurado no início de 2022, o Chanchada trouxe cor e movimento a um naco até então desvalorizado da Rua General Polidoro, em Botafogo, esticando o já consolidado ponto boêmio da Arnaldo Quintela, alguns metros adiante. Havia, porém, uma pedra no sapato de Jonas Aisengart, Bruno Katz e Edu Araújo, sócios do bar. Uma banca de jornal antiga, suja e jogada às moscas que atravancava o caminho entre o balcão e as mesas.

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No ano passado, os donos do boteco tomaram a frente do espaço, que ganhou um banho de loja e teve as vitrines pintadas de rosa bebê, apesar de ter sido batizado de C.I.N.Z.A., sigla para Cultura Independente Notícia Zines Artes. Nas estantes, periódicos e revistas ganharam a companhia de discos de vinil — a curadoria vai de Chico Buarque a Xuxa —, xilogravuras e até bonés. Um modelo verde, com a frase “Só tem no Brasil”, criado pelo artista gráfico Peu Lima, é vendido a 150 reais. “O astral da calçada mudou completamente e hoje os clientes do bar e da banca se misturam”, define Jonas, que almeja estabelecer um polpudo calendário cultural no espaço, com lançamentos literários e noites de autógrafos.

A transformação de bancas de jornal em agradáveis espaços de convivência, incentivando as trocas “cara a cara” não são exclusividade das descoladas vias de Botafogo. No Horto, a Corcovado Social Club, aberta diariamente das 9h às 14h30, virou ponto de encontro para quem desejar tomar um café fresquinho e jogar conversa fora. Inspirado no Curto Café, no Centro, Bernardo Bravo, dono do empreendimento, reabriu em 2023 a banca que ficava na rua de seus pais.

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Corcovado Social Club: na Rua Corcovado, 95, Jardim Botânico, a banca vende artesanato e ainda reúne vizinhos para tomar um café e ouvir boa música. (./Divulgação)

O cafezinho tem cobrança simbólica: 3 reais. “Sinto que lancei, na verdade, uma rede social. Vizinhos que nunca tinham se falado fizeram amizade por causa da banca”, conta Bernardo, que vem experimentando expandir o horário de funcionamento em algumas noites, promovendo apresentações musicais e até sessões com uma taróloga, tudo isso sem incomodar os moradores da sossegada Rua Corcovado. No Humaitá, o Largo dos Leões ganhou, em março, a Da Fazenda, banca que, no lugar de impressos, vende queijos, doce de leite e outros produtos mineiros.  

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Pioneiro na expansão do estabelecimento como point cultural, André Breves, responsável pela animada banca que leva seu nome na Cinelândia, ao lado da Biblioteca Nacional, iniciou em 2016 um tímido movimento que reunia pessoas com gostos afins para ouvir música na saída do trabalho. A ideia cresceu e, antes da pandemia, os happy hours, com jazz ou rodas de samba, chegavam a reunir 2 000 pessoas numa noite.

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Banca do André: na Rua Pedro Lessa, Cinelândia, a banca promove música ao vivo, do jazz ao samba no disputado happy hour no Centro. (./Divulgação)
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Hoje, os fervos às quintas e sextas, ainda que em tamanho reduzido, trazem alguns embates com a subprefeitura do Centro, de olho no alto volume do som. “Com o aumento do home office, a frequência mudou. Tenho de me virar nos trinta porque não quero descaracterizar o negócio, deixar de vender jornal, revista, mas preciso expandir a fonte de renda”, desabafa o dono da Banca do André. Desde 2021, a cidade perdeu mais de 113 bancas — atualmente são 1 980, de acordo com os cálculos da Secretaria municipal de Ordem Pública. Boa parte dessa queda é explicada pela migração do meio físico para o digital. Mas, em meio a tantas distrações trazidas pela hiperconectividade, nada substitui o prazer de folhear páginas e os encontros tête-a-tête.

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