Luz no fim da pista
Sob nova administração, o Aeroporto do Galeão dá início a um ambicioso projeto de expansão
Apesar de não terem se confirmado as previsões catastróficas para a Copa, ninguém contesta que o Aeroporto do Galeão é um ponto negativo de uma cidade com extraordinária vocação turística. Quem passa pelo terminal depara com incômodos de diversos matizes. Superlotação, filas arrastadas no check-in, falta de opções de alimentação, banheiros sujos e esteiras, escadas rolantes e elevadores enguiçados são alguns dos perrengues constantes. No entanto, a letargia administrativa que deixou o terminal em tal estado pode estar com os dias contados. Na terça passada, uma nova concessionária assumiu a gestão do aeroporto internacional, com a promessa de metamorfoseá-lo. Batizada de Rio Galeão, ela reúne a Odebrecht e a Changi Airports, responsável pela operação do bem-sucedido aeroporto de Singapura. Antiga gestora do Galeão, a Infraero também integra o consórcio, que desembolsou 19 bilhões de reais para administrar o terminal por 25 anos. Os projetos têm envergadura. Até a Olimpíada de 2016 estão previstos investimentos de 2 bilhões de reais. “Queremos resgatar o orgulho do carioca pelo aeroporto e que todo passageiro passe a reconhecer o Tom Jobim como a principal porta de entrada no Brasil”, diz o presidente do Rio Galeão, Luiz Rocha.
Para atingir o objetivo e superar os gargalos que emperram a plena operação do complexo, os planos são ambiciosos. Está prevista uma reforma completa na estrutura (veja o quadro na página ao lado), a começar pelos estacionamentos para veículos, que, em dois anos, terão o número de vagas ampliado de 4?280 para pouco mais de 7?000. Outra intervenção de grande porte contempla a construção de um píer anexo ao Terminal 2 que será dotado de 26 pontes de embarque (os chamados fingers), o que vai duplicar a capacidade atual. Faz parte do projeto também a abertura de um pátio para aeronaves, com acesso por micro-ônibus, e um novo setor de check-in. Estão em estudo a construção de uma terceira pista de pouso e a abertura de um hotel. “Os planos são bem factíveis, o que é algo positivo. A nova gestão não está tentando inventar nada”, avalia Respicio do Espírito Santo, professor de transporte aéreo da UFRJ.
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Recuperar um complexo sucateado há longa data é tarefa complicada e de lento passo a passo. Algumas mudanças, no entanto, já são visíveis. Os estacionamentos ganharam oitenta câmeras de segurança, 4?000 lâmpadas e cancelas automatizadas, num sistema similar ao dos shoppings. Em contrapartida, tiveram a tarifa inicial majorada de 10 para 14 reais. Foram instaladas ainda 250 placas de sinalização e dois balcões de atendimento nos saguões, além de 150 pontos de energia nas salas de embarque e rede de internet sem fio. O setor de serviços está ganhando o reforço de grifes gastronômicas. O Chocolate Q já desembarcou por lá. Até dezembro, a expectativa é pela chegada do Café Suplicy, do 365 Deli, da pizzaria Domino?s e das japonesas Koni e Espaço Sushi.
Situado a 20 quilômetros do centro da cidade, o Aeroporto Internacional do Galeão foi inaugurado em janeiro de 1977. Anunciado como o mais moderno da América Latina, o terminal, entretanto, logo apresentou problemas nos painéis de informação de voos. Sofreu um golpe pesado com a abertura do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em meados dos anos 80. Na década seguinte, a migração maciça de grandes empresas para a capital paulista contribuiu para o esvaziamento do terminal carioca. Dimensionado de início para atender 15 milhões de passageiros por ano, o Galeão recebeu apenas um terço dessa capacidade em 2003. Com a nova leva de consumidores da classe C, a aviação comercial voltou a ganhar impulso no país, superando a marca de 100 milhões de passageiros transportados em 2012. Na temporada passada, o Tom Jobim teve movimentação de 17 milhões de passageiros. Porém, no passado recente, padeceu com a falta de atenção do poder público, sendo tachado de rodoviária de quinta pelo ex-governador Sérgio Cabral. Para transformar uma rodoviária de quinta em um aeroporto de primeira será preciso muito trabalho.