50 cariocas agradecem a ícones que fizeram do Rio um lugar melhor
Nos 453 anos do Rio, a reverência a quem contribuiu para a história da cidade
Uma peculiaridade da cidade do Rio é ter sua trajetória ligada a episódios únicos, que lançam seus moradores em uma vertigem de mudanças e emoções. Assim foi com a perda de status de capital federal, a transformação da cidade em estado (o da Guanabara), a posterior fusão com o restante do território fluminense e, mais recentemente, a realização dos Jogos Olímpicos de 2016. No último dia 16, acrescentou-se mais um “pela primeira vez” ao vasto repertório de novidades cariocas com o anúncio da intervenção federal na área de segurança pública, uma ação drástica e sem parâmetros desde que a atual Constituição entrou em vigor, em 1988.
Com blindados nas ruas e soldados nas favelas, chegamos à comemoração do aniversário de 453 anos de fundação da cidade, no dia 1º, à espera do que virá — até o fechamento desta edição, ainda não existia um plano para a ação militar. Em tempos assim, é comum procurarmos modelos, olharmos para quem nos desperta admiração, orgulho e cujo exemplo nos dê algum alento. Na última semana, VEJA RIO perguntou a cinquenta cariocas quem seriam, para eles, essas pessoas. Personalidades com uma biografia que os levasse não apenas a nomeá-las, mas também a agradecer-lhes o bem que fizeram — e fazem — à cidade, em um gesto que une reconhecimento e homenagem. Agora convidamos você, leitor, a conhecer nas próximas páginas tais personagens e os motivos que os puseram na lista.
1. “A personalidade que recebe meu obrigada é Paulinho da Viola. Por quê? Pelo caráter. Pelo talento. Por sua própria arte de ser absolutamente carioca.” – Fernanda Montenegro, atriz
2. “Seu senso crítico e sua anarquia bem-humorada fizeram sempre o Rio ser mais inteligente na busca pela solução dos seus problemas. Não bastasse tudo isso, o jornalista, escritor, desenhista e humorista Millôr Fernandes (1923-2012) foi o inventor do frescobol, o jogo mais democrático do mundo: você joga para o outro acertar!” – Antônio Fagundes, ator
3. “Ídolo de muita gente, Cico Caseira (1960-2017) foi um professor que teve como missão levar o teatro a pessoas que nunca teriam acesso a essa arte. Ele deu aula em tudo quanto foi lugar: do Tablado ao Nós do Morro, em todas as zonas da cidade, onde tinha e até onde não tinha palco. Ele salvou muita gente em lugares da nossa cidade em que a cultura não está acostumada a chegar. Minha homenagem vai para ele.” – Gregorio Duvivier, ator e escritor
4. “A Princesa Isabel (1846-1921) foi uma mulher que representou esse feminismo para o qual todo mundo agora está acordando. Ela falou disso muito antes, de forma muito potente. Além disso, fez algo definitivo, que foi assinar a lei que aboliu a escravatura no Brasil. Para mim, ela é a grande benfeitora do Rio de Janeiro.” – Amora Mautner, diretora artística da TV Globo
5. “Houve políticos na história da cidade que se destacaram ou por serem grandes líderes ou gestores ou intelectuais ou oradores ou ainda referências em termos de caráter, valores e princípios. Carlos Lacerda (1914-1977) talvez seja o único a atingir excelência em tudo isso. A história do Rio se divide em antes e depois dele, e sua obra ainda está presente em nosso cotidiano. Basta pensar no Aterro do Flamengo, nos túneis Rebouças e Santa Bárbara e na Estação de Tratamento de Água do Guandu.” – Sérgio Sá Leitão, ministro da Cultura
6. “Considerado hors-concours de tanto ganhar concurso de fantasia, o carnavalesco Clóvis Bornay (1916-2005) foi uma das personalidades mais inspiradoras do Rio. Nasceu em Nova Friburgo, mas aqui se tornou a personificação do Carnaval, um carioca-rei! Suas fantasias transcendiam o luxo para afirmar que a maior beleza da cidade é o nosso espírito irreverente.” – Luis Lobianco, ator
7. “Martinho Da Vila foi um dos responsáveis por fazer com que o samba deixasse de ser uma coisa do gueto e se tornasse patrimônio cultural brasileiro. Além disso, emprestou sua poesia a outras áreas, enquanto escreveu livros e crônicas. Ele consegue manter uma simplicidade e uma humildade muito características do carioca. Basta ver o seu jeito de falar,
o samba cadenciado, a falta de deslumbre. Martinho é um artista completo.” – Pedro Salomão, sócio da Rádio Ibiza
8. “Se o cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) acordasse hoje, ficaria chocado. A falta de saneamento básico, a febre amarela, a escassez de vacina, o populismo político, a ignorância e o descaso se mostram ainda presentes e de uma maneira grave e cruel. Decidi elegê-lo pois, há um século, ele enfrentou tudo isso de forma muito contundente. Foi um exemplo de homem que lutou verdadeiramente pelo Rio.” – Fernanda Torres, atriz
9. “Marco da bossa nova, Tom Jobim (1927-1994) teve um significativo reconhecimento internacional e colocou a música brasileira em todos os cantos do mundo. Tornou A Garota de Ipanema um símbolo universal, exaltou a Mata Atlântica —
que foi uma das suas fontes de inspiração e reflexões ecológicas — e celebrou o Corcovado e as nossas belezas naturais, a tal ponto que, desde 1999, o nosso aeroporto internacional tem o seu nome.” – Vanda Klabin, curadora de arte
10. “Francisco Pereira Passos (1836-1913) foi o prefeito do Rio de 1902 a 1906, época em que a cidade passou por suas maiores transformações urbanísticas. Muito mais que o embelezamento e ‘afrancesamento’ duvidoso, herdamos de sua administração o redesenho de toda a região central da cidade e parte da infraestrutura que sobrevive até os dias de hoje. No entanto, admito que é discutível o alto custo social de tais reformas.” – Miguel Pinto Guimarães, arquiteto
11. “Junto com o coletivo Casseta & Planeta, o Bussunda (1962-2006) conseguiu revolucionar o humor brasileiro e ajudou a criar isso que se convencionou chamar de humor carioca. E o que seria do Rio sem humor? São Paulo, talvez?” – Nelito Fernandes, criador do site Sensacionalista
12. “Pouquíssimas pessoas conseguiram mostrar a personalidade de quem nasce no Rio tão bem quanto o cronista, escritor, radialista e compositor Sérgio Porto (1923-1968), mais conhecido pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, personagem de suas crônicas satíricas e críticas. Foi um sujeito que conseguiu reunir em uma só pessoa o bom humor, a alegria e a crítica: três características que sintetizam o espírito carioca.” – Ricardo Amaral, empresário
13. “Apesar de ser capixaba de nascimento, Nara Leão (1942-1989) fez seu nome aqui no Rio, batalhou muito aqui. Além da voz maravilhosa, tinha uma visão muito ampla. Enquanto a turma da bossa nova estava nos apartamentos em Copacabana, ela subiu o morro, descobriu Zé Keti e tantos outros artistas que depois se tornaram importantes nesse intercâmbio entre o asfalto
e a favela.” – Roberto Menescal, compositor
14. “A carioca Dalal Achcar dedicou sua vida ao balé no Brasil, colocando o Rio no cenário internacional de dança. Ela profissionalizou a carreira de bailarina e coreógrafa, promoveu lindos espetáculos durante sua gestão como presidente do Theatro Municipal, formou centenas de jovens bailarinos brasileiros e possibilitou a carreira internacional de vários talentos do país.” – Aniela Jordan, produtora cultural
15. “Quando pensou o conceito da tropicália, Hélio Oiticica (1937-1980) não contava com a repercussão que contagiou o cenário brasileiro. A tropicália inventada por ele não era a criação do mito de araras e bananeiras, como foi divulgado. Era uma posição crítica diante de problemas e impasses na arte, na cultura e na política, advindos do sentimento de culpa da vanguarda em relação à linguagem nacional e do regime político implantado no país a partir de 1964.” – Fábio Szwarcwald, diretor do Parque Lage
16. “Em 1993, o Caio Ferraz criou em Vigário Geral a Casa da Paz, uma ONG que foi a maior referência de favela do Brasil enquanto existiu. Ele era formado em sociologia e era um líder jovem em meio a outros mais velhos, expressando-se com inteligência, correção e em linguagem acessível. Com ele, a cidade finalmente ganhou um favelado que falava de igual para igual com Betinho, Rubem Cesar e demais especialistas. De tanto brigar pela paz, acabou jurado de morte, em 1996, e se mudou para os Estados Unidos.” – José Junior, fundador e coordenador executivo do AfroReggae (veja o item 34)
17. “Destaco o ex-diretor artístico do Museu de Arte do Rio, Fernando Cocchiarale. É um nome que, junto com Paulo Herkenhoff (veja o item 30), defende de forma culta e inteligente a arte brasileira. Curador-chefe do Museu de Arte Moderna, ele vem apresentando essa importante coleção de maneira dinâmica e atual, oferecendo à cidade oportunidades intensas e criativas de conviver com a arte.” – Beatriz Milhazes, artista plástica
18. “Nossa cidade precisa de iniciativas como o trabalho que o biólogo Mário Moscatelli desenvolve em favor do ecossistema da nossa cidade. Ele foi responsável pela recuperação do manguezal da Lagoa Rodrigo de Freitas e, recentemente, liderou um movimento de recuperação de 2 500 metros quadrados em manguezais nas baías de Guanabara e Ilha Grande e no Sistema Lagunar de Jacarepaguá.” – Cauã Reymond, ator
19. “De azulejo em azulejo, Jorge Selarón (1947-2013) construiu um monumento. Hoje, sua escadaria na Lapa é um dos locais mais visitados do Rio, apesar de não contar com nenhuma infraestrutura cedida pelo poder público. A obra já foi cenário de clipes do U2 e do Snoop Dogg, requalificou a área onde está situada e virou patrimônio cultural da cidade. Selarón sofria com o alcoolismo e uma série de problemas que não o impediram de mudar o lugar onde vivia e despertar o interesse do mundo inteiro.” – Washington Fajardo, arquiteto e urbanista (veja o item 25)
20. “Grande nome da arquitetura mundial, Sérgio Bernardes (1919-2002) prova que o olhar, o conhecimento de campo e a busca pela integração da construção com a natureza são valores únicos. Junto com o filho Cláudio, ele presenteou a cidade com projetos irretocáveis. Um dos que melhor refletem esse caldeirão cultural, artístico e de costumes do Rio é o Pavilhão de São Cristóvão. Na década de 70, Sérgio desenhou também os postos de salvamento das praias, procurando interferir o mínimo possível na paisagem da orla.” – Brenda Valansi, presidente da ArtRio
21. “O Delair Dumbrowski é um grande defensor da Barra da Tijuca. À frente da Câmara Comunitária do bairro, sempre traz contribuições e posicionamentos importantes. Uma pessoa que procura filtrar as boas ideias e alertar sobre aquelas que não funcionam.” – David Zee, oceanógrafo
22. “João do Rio (1881-1921) foi o primeiro jornalista brasileiro a fazer reportagem. Antes dele, os jornais só publicavam artigos de opinião. O resultado é que, graças a ele, temos um belo retrato do Rio nos primeiros vinte anos do século XX. Não bastasse isso, João ainda fundou na cidade a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e outras instituições importantes. O fato de ser gordo, homossexual e negro em tempos de preconceito não impediu que ele fosse um agitador cultural e um ídolo carioca.” – Aguinaldo Silva, autor de novelas da TV Globo
23. “O Nelson Pereira dos Santos, além de ter sido um dos precursores do Cinema Novo, fez os maiores filmes sobre o Rio de Janeiro, que são Rio 40 Graus e Rio Zona Norte. Surge no momento em que a capital havia sido transferida para Brasília e a cidade buscava uma identidade. Mostrou aspectos da cidade que ninguém nunca tinha mostrado, como as favelas.” – Cacá Diegues, cineasta
24. “Heitor Villa-Lobos (1887-1959) foi o maior expoente da música de concerto do país. Pela marca que imprimiu à música, pelo resgate do nosso folclore e pela valorização do Brasil e do Rio no exterior, divulgando nossa arte por todo o mundo, Villa-Lobos certamente é um carioca que deixou impressa a sua identidade na cultura brasileira.” – Carlos Eduardo Prazeres, maestro
25. “Gosto muito do trabalho do Washington Fajardo. Tive a oportunidade de conviver com ele recentemente. À frente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, fez muito pelo patrimônio da cidade, sempre preocupado com a preservação. Como urbanista, pensa a cidade além do raio da Zona Sul.” – Patricia Quental, organizadora do Casa Cor
26. “O geógrafo Maurício Abreu (1948-2011) tem uma obra que é obrigatória para quem quer conhecer a história do Rio. Professor generoso, soube construir seu saber e compartilhá-lo junto a toda uma geração de outros estudiosos. Sua última obra, o livro Geografia Histórica do Rio de Janeiro, é um marco. Está tudo sobre o Rio lá.” – Nireu Cavalcanti, arquiteto e historiador
27. “O Roberto Burle Marx (1909-1994) deixou um legado bonito para o Rio e criou um paisagismo com a marca carioca, usando plantas nativas, combinadas com outros elementos daqui. O Aterro do Flamengo e todas as suas obras valorizam a cidade como poucos fizeram.” – Marcelo Spilzman, diretor do AquaRio
28. “Indico uma pessoa que cumpriu papel importantíssimo na urbanização do Rio: o José Isaac Peres. Foi um visionário quando, há quarenta anos, resolveu construir o maior shopping center da América Latina em nossa cidade, trazendo o progresso e integração para a Zona Oeste e ampliando a visão geográfica do carioca sobre a sua própria cidade.” – Marcelo Torres, restaurateur
29. “A modelo Vera Lúcia Couto dos Santos foi a primeira miss negra e acabou inspirando o João Roberto Kelly a escrever uma das marchinhas de maior sucesso de todos os tempos, Mulata Bossa Nova. Foi a Miss Guanabara em 1964 e concorreu ao Miss Brasil em 1965, ficando em segundo lugar. Numa época em que existia muito preconceito, ela foi um exemplo de coragem.” – João Baptista Mello, idealizador do projeto Roteiros Geográficos
30.“O Paulo Herkenhoff é um crítico de arte de projeção internacional, que assumiu como um de seus projetos de vida a valorização do Rio de Janeiro e o posicionamento dos artistas atuantes na cidade no contexto nacional e internacional. Recentemente, quando esteve à frente do Museu de Arte do Rio, estabeleceu uma proposta conceitual altamente inclusiva.” –
Andrea Jakobsson, editora
31. “Darcy Ribeiro (1922-1997) criou os Cieps, o maior projeto educacional que o Rio já teve. Graças à iniciativa, milhares de crianças puderam estudar em horário integral. Se o projeto tivesse sido mantido em funcionamento na concepção original desde sua criação, acredito que hoje a situação da cidade seria bem melhor do que essa que se apresenta.” – Paulo Niemeyer, neurocirurgião
32. “De tantos médicos brasileiros que alcançaram reconhecimento internacional, o Ivo Pitanguy (1923-2016) foi certamente o que mais projetou a cidade. Ele fez da cirurgia plástica um legado do Brasil e particularmente do Rio de Janeiro. Nós nos
tornamos um grande polo, uma referência nessa especialidade.” – Analice Gigliotti, psiquiatra
33. “O Lima Barreto (1881-1922) não só se destacou como um dos escritores mais brilhantes do Brasil como foi um dos mais contumazes críticos das nossas contradições sociais e políticas no surgimento da República. Descreveu a realidade dos subúrbios cariocas com suas belezas e desafios.” – Marcelo Calero, diplomata
34. “O José Júnior, do AfroReggae, é a pessoa mais corajosa que conheço. Na última década foram centenas as vezes em que ele espontaneamente entrou em comunidades e presídios para mediar conflitos e salvar almas. É disparado aquele que mais conhece a nossa cidade, suas coisas e pessoas.” – Rony Meisler, dono da Reserva
35. “A Alice Freitas criou a rede Asta, que foi um meio que ela encontrou de destinar os resíduos da indústria da moda para
pequenas artesãs, dando oportunidade a mulheres talentosas. Está criando o maior portal de artesanato do Brasil para dar ainda mais visibilidade ao trabalho de outras empreendedoras.” – David Herz, diretor do Gastromotiva
36. “Pensei em nomes como Sérgio Cabral (o pai do ex-governador) e Ivo Pitanguy, mas terminei escolhendo o Bernardinho. Ao longo dos anos, ele desenvolveu um trabalho bonito e vitorioso na área de esportes que merece o nosso reconhecimento. Se a seleção masculina e o time feminino do Rio de vôlei são as potências que são, devemos isso aos esforços dele como técnico.” – Zico, o maior artilheiro da história do Maracanã
37. “Na véspera do Natal de 1983, uma caixa-d’água se rompeu no Pavão-Pavãozinho. Na ocasião, a dona Iolanda Maltaroli acolheu famílias e deu início ao Solar Meninos de Luz, que hoje ocupa cinco casas e atende 400 crianças.
Há ex-alunos do projeto em lugares como Austrália e Canadá. Dona Iolanda é uma das muitas pessoas que fazem um trabalho pouco divulgado, mas muito importante para nossa cidade.” – Andréa Natal, diretora do Belmond Copacabana Palace
38. “O Arapuan Medeiros da Motta Netto, reitor da Unisuam, faz um trabalho muito legal em Bonsucesso, com uma consultoria que apoia startups naquela região da cidade e um curso de mestrado no qual todos os projetos finais envolvem soluções que beneficiem a comunidade. Não bastasse isso, ele ainda oferece bolsas de estudo a alunos do Complexo do Alemão,
de Nova Holanda e de outros lugares da vizinhança, o que permite que muitas famílias tenham, pela primeira vez, um integrante na universidade. Em vez de praticar o assistencialismo, ele ensina a pescar.” – Kátia Barbosa, chef do restaurante Aconchego Carioca
39. “Em 1852, em seu folhetim no jornal Correio Mercantil, depois transformado no livro Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida (1831-1961) mapeou de todas as maneiras o Rio do “tempo do rei”. O rei, claro, era o príncipe regente dom João. Tudo o que aprendemos sobre aquela época pós-chegada da corte partiu dele. Maneco, como era chamado, tinha então 20 anos, acredita? Seu livro antecipou inclusive o realismo, em plena ditadura romântica. E ainda foi ele quem deu o primeiro emprego ao menino Machado de Assis, em 1858, na Tipografia Nacional, que dirigia.” – Ruy Castro, jornalista e escritor
40. “A chegada de Dom João VI (1785-1826) ao Rio, em 1808, é um dos acontecimentos históricos mais importantes do Brasil. A cidade, que era a capital do vice-reino, torna-se o centro do Império português. Com isso, ele nos conferiu um conceito de nacionalidade.” – Milton Teixeira, pesquisador e guia turístico
41. “Nelson Rodrigues (1912-1980) registrou um Rio muito importante para a formação da nossa identidade cultural. Foi um repórter do cotidiano carioca, um poeta da crônica, alguém que retratou com a maior crueza a nossa alma. Trouxe o que acontecia nos bondes, nos Fla-Flus e em outros ambientes para dentro da nossa literatura. Apesar de ser pernambucano, foi eternizado pelo Rio.” – Fernando Blower, presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro
42. “O Instituto Reação existe desde o ano 2000, sob o comando do Geraldo Bernardes. A oportunidade que ele dá a várias crianças e jovens da Cidade de Deus com seu projeto é o motivo que me leva a indicá-lo. O trabalho dele transforma a vida de muitos alunos e, graças a isso, faz diferença na cidade. A minha história é o maior exemplo disso. Sempre que posso, vou até lá treinar com os garotos. Sei como isso é importante, e fico muito feliz em poder ajudar.” – Rafaela Silva, judoca, medalha de ouro na Rio 2016
43. “Com sua genialidade, Vinicius de Moraes (1913-1980) eternizou o desejo do mundo pelo Rio de Janeiro. A beleza da cidade estará guardada para sempre nas músicas que ele compôs e nos poemas que escreveu, assim como seu encanto com as mulheres cariocas. Até hoje, o Poetinha é uma inspiração para o trabalho que eu e outros artistas daqui nos esforçamos para desenvolver.” – Lenny Niemeyer, estilista
44. “O autor Manoel Carlos é um grande carioca. Com suas novelas, os brasileiros ficaram cada vez mais íntimos e próximos de uma cidade que ele retratou tão bem nas tramas. O Rio era mais do que apenas um cenário, era também um personagem.” – Patricia Poeta, jornalista e apresentadora
45. “Criador da Company, Mauro Taubman (1950-1994) trouxe autoestima para o Rio way of life. Sua grife inovou em termos de identidade e estilo, e ele instituiu a referência dos desejos de todo adolescente da década de 80. Seu trabalho revolucionou o jeito de se vestir do carioca. O Mauro não dava a mínima para as tendências da moda. Ele criava a própria moda. Farm, Foxton e muitas outras marcas são herdeiras desse estilo cool que ele lançou.” – Kátia Barros, estilista e fundadora da Farm
46. “Manuel Francisco dos Santos, o Garrinha (1933-1983), tornou o Rio de Janeiro um lugar melhor ao fazer a alegria de torcedores cariocas de todos os times com seus dribles e fintas no Maracanã e em outros estádios da cidade. Como seu brilho não ficou restrito aos nossos gramados, o craque se transformou numa estrela mundial e deixou seu nome na galeria dos grandes do futebol. O glorioso Mané não poderia ficar de fora.” – David Zylberstain, empresário e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo
47. “Susanna Lira é uma cineasta que abordou a questão do feminismo antes que isso se tornasse uma pauta tão urgente. Em todos os seus trabalhos, ela tenta quebrar barreiras e levantar a autoestima das mulheres, seja falando da batalha que é ser policial no Rio, seja tratando de casos de esposas que foram infectadas pelo marido com o HIV. São trabalhos de enorme importância.” – Zeh Pretim, DJ
48. “Depois do Carnaval deste ano, com todas as discussões polêmicas levantadas pelas escolas, é impossível não lembrar
de Joãosinho Trinta. Lá em 1989, ele já tinha causado um impacto muito grande na Sapucaí ao apresentar Jesus Cristo como um mendigo em cima de um dos carros alegóricos. Fora que mexeu de forma muito positiva com a estética dos desfiles, que são um cartão de visitas muito forte para a cidade do Rio. Um homem revolucionário!” – Adriana Falcão, roteirista e escritora
49. “Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, Machado de Assis (1839-1908) foi um grande cronista da história do Rio e da complexidade do carioca. Ele captou muito bem a alma do nosso povo e a transportou para a literatura de maneira sublime e acertada. Além de tudo isso, era mulato, nasceu numa família pobre no Morro do Livramento e não cursou faculdade. Com sua inteligência absurda e uma sensibilidade enorme, destacou-se com uma obra que se mantém atual, quase 200 anos depois da publicação.” – Cello Camolese, empresário
50. “Infelizmente, a violência é um lado triste presente na vida carioca há muitos anos. Mas o espírito de solidariedade fez com que muitos parentes de vítimas fossem à luta para que outras pessoas não passassem pela mesma dor. Um exemplo foi a Cleyde Prado (1957-2008). Ela era mãe da jovem Gabriela, morta num tiroteio na Estação Saens Peña do metrô, em 2004, e dedicou sua vida a consolar outras mães.” – Antônio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz