Imagem Blog

Vinoteca Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
Continua após publicidade

Vinho & Afrodisíacos

AS bebidas alcoólicas desde a Antigüidade ocupam um lugar de destaque no hall dos afrodisíacos

Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 nov 2020, 09h00

Texto Marcelo Copello, ilustração Marcelo Marchese

 

Afrodite ou Vênus, deusa da beleza e do amor, nascida da espuma do mar, imagem magnificamente retratada por Boticelli em “O nascimento de Vênus”, originou a palavra afrodisíaco, definida como “tudo aquilo que produz desejo erótico”. Os afrodisíacos podem ser classificados em dois grupos: psicofisiológicos (visuais, táteis e olfativos) e internos (alimentos, bebidas e drogas). Os psicofisiológicos são tão sutis quanto a reação do organismo humano a uma bem preparada refeição. A combinação das várias reações sensoriais – a satisfação visual da comida, o estímulo olfativo dos agradáveis aromas e a gratificação tátil proporcionada pelo sabor do prato – tende a trazer um estado de euforia que pode conduzir à expressão do desejo sexual. Já os internos são mais conhecidos. Os mais populares são peixes e frutos do mar, vegetais e especiarias. Além destes, um pouco de tudo: de raízes, como o ginseng, a drogas como o Viagra. Entre os brasileiros, conhecemos bem o guaraná, a catuaba, o muira puama. Um dos mais antigos tônicos é a cantárida (Cantharis vesicatoria), um besouro que era ressecado, moído e diluído em bebidas. Sade foi preso por administrar doses letais de cantárida em mulheres. As bebidas alcoólicas, por sua vez, desde a Antigüidade ocupam um lugar de destaque no hall dos afrodisíacos. Entretanto, também foi notado que o consumo excessivo pode atrapalhar em vez de ajudar: “Macduf: Quais as três coisas que o beber especificamente provoca?

Porter: Nariz vermelho, sono e urina. Luxúria, senhor, ele provoca e não provoca; provoca o desejo, mas impede o desempenho”

Shakespeare (Macbeth, ato II, cena III).

Continua após a publicidade

Uma quantidade moderada de bebida reduz a ansiedade e a inibição. Cerca de meio grama de álcool puro por quilograma de peso do indivíduo é a quantidade mais aceita como limite. Ou seja, para uma pessoa de 75 kg, meia garrafa de vinho seriam o máximo a se consumir antes do ato.

Em 1994, um estudo publicado na revista científica inglesa “Nature” afirmava que a ingestão de álcool aumentaria sensivelmente o nível de testosterona nas mulheres, acentuando a libido. Normalmente, a mulher produz cerca de 1/10 do hormônio masculino. Acredita-se que algumas bebidas sejam muito potentes. O absinto foi muito utilizado nos fins do século XIX na Europa. A mistura da planta absinto (Artemísia absinthium) com anis, ervas e álcool era narcótica e tida como altamente afrodisíaca. A fada verde, como era conhecida, foi proibida em 1915. Hoje é comercializada sem a substância ativa, a thujone, óleo extraído da planta absinto. A alguns licores de ervas, como o Benedictine e o Chartreuse, criados por monges, atribuem-se os mesmos efeitos. O licor Opal Nera é à base de anis (Pimpinella anisim, grão afrodisíaco natural do Egito). Sua misteriosa cor negra é obtida a partir da casca dos sabugos da amora-preta, planta selvagem que cresce na Itália, seu país de origem. Não poderia deixar de citar o vinho, que além de ser um estimulante faz parte de incontáveis poções de amor. Desde a Antiguidade o nobre fermentado é associado ao sexo e à fertilidade. Durante muito tempo nosso fermentado foi proibido às mulheres, pois achava-se que, após consumir a bebida, elas estariam mais propensas ao adultério. Rabelais, em sua obra “Gargantua e Pantagruel”, recomenda Borgonha tinto com canela, gengibre, cravo, baunilha e açúcar. A Aqua Mirabilis, um tônico usado na Europa no século XVII, era preparado com canela, gengibre, salsa, timo, noz-moscada e vinho tinto. Uma versão moderna, criada pela sabedoria popular, é vinho quente das festas juninas, que combina tinto, frutas e especiarias. Vivemos em busca de sensações cada vez mais fortes, um arrebatamento extremo, que pode chegar às drogas ou à pornografia, ao invés de valorizar uma carícia suave ou o prazer de compartilhar uma taça de nossa bebida predileta. Portanto, nenhuma receita funcionará se não se levar em conta as palavras do sábio romano Seneca: “Vou lhe mostrar um afrodisíaco sem poções. Sem ervas, sem nenhuma feitiçaria. Se você quiser ser amado: ame”.

 

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.