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Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Conheça a Pinot Noir, sua história, curiosidades e os melhores vinhos

Ela é uma das uvas (castas viníferas) mais antigas, cultivada há mais de 2 000 anos

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Atualizado em 19 ago 2021, 13h03 - Publicado em 19 ago 2021, 09h36

“Champagne para damas, Bordeaux para cavalheiros e Borgonha para reis.” (Provérbio  Francês)

A Pinot Noir é uma das uvas (castas viníferas) mais antigas, cultivada há mais de 2 000 anos. Sua origem é a região da Borgonha, no leste da França. Há indicações que comprovam seu cultivo nesta região desde o século 4 d.C. A família das Pinots (Pinot Noir, Pinot Blanc, Pinot Gris, Pinot Meunier), que compartilham o mesmo DNA, tem como característica sofrer facilmente mutações e geneticamente se adaptar a novos terroirs. Isso para os vinhos nem sempre é bom, pois o sabor da Pinot Noir muda incrivelmente conforme o local onde ela é cultivada.

Poucas castas têm sua imagem e qualidade tão ligadas a uma região como a Pinot Noir à Borgoha (um outro caso seria a Nebbiolo no Piemonte-Itália). Os grandes tintos (e brancos) da Borgonha são um capítulo à parte na enologia mundial. Os grandes borgonhas são os maiores vinhos do mundo e uma espécie de “cálice sagrado”, que todos procuram, mas poucos acham. Por quê?

– Primeiro porque a Pinot Noir é uma casta difícil. Ao mesmo tempo em que faz grandes vinhos pode também gerar líquidos insípidos.

– Segundo, pois a Borgoha é um mosaico de uma infinidade de produtores muito pequenos – às vezes em uma mesma região da Borgonha, sob um mesmo nome, um produtor pode fazer um grande vinho e o outro uma zurrapa.

– Terceiro porque as produções são pequenas e a fama é grande, de modo que toda o vinho da Borgonha, bom ou ruim, nunca é barato.

– E finalmente porque os vinhos de produtores consagrados em boas safras custam sempre preços exorbitantes.

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Viticultura

A Pinot Noir (PN) é uma uva que prefere o frio, como na Borgonha e na Champagne, embora se adapte (nem sempre bem) a climas um pouco mais quentes, mas nunca quentes demais. A PN é muito sensível a variações do terroir, gerando vinho totalmente diferentes conforme o clima e o solo.

Não podemos esquecer que a PN vinificada “em branco” (sem suas cascas), é a alma do Champagne, que dá corpo e acidez ao famoso espumante francês. Nos espumantes elaborados em outros países e regiões, a PN é também muito utilizada.

Outro fator fundamental para a PN é o controle do rendimento (a quantidade de quilos de uvas produzidas por hectare). Se a produtividade for alta, a PN facilmente cai no vinho insípido. Os grandes PN são todos de rendimentos muito baixos.

Vinificação

A PN é uma uva delicada, pode se dar bem com pré-macerações a frio, macerações carbônicas. A maceração fermentativa geralmente não é longa, de uma a três semanas. Raramente usa-se maceração pós-fermentativa, que amacia os taninos, pois a PN já não tem muitos taninos. As barricas da Borgonha geralmente são ligeiramente pouco maiores que as de Bordeaux (passando assim um pouco menos de gosto de carvalho), e geralmente um pouco mais tostadas que as de Bordeaux, transferindo um pouco mais aromas de torrefação, como café.

Cor:

O padrão dos vinhos de PN é serem claros ou de cor entre clara e escura, raramente muito escuros. São rubi violáceos quando jovem, mas logo (com poucos anos) atingem a coloração granada e depois alaranjada. Os Pinots de regiões frias da Europa quase sempre seguem este padrão de vinhos mais claros. Os do novo mundo geralmente são mais escuros e mais violáceos.

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Aroma:

Frutas – PN geralmente é associada mais a frutas vermelhas que negras, como framboesa, cereja e morango.

Flores – violeta, rosa

Vegetais/ervas – tabaco, musgo

Especiarias – baunilha (do carvalho)

Animais – É bem típico dos PN com mais idade ganhar aromas de couro, caça, defumados

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Madeiras – carvalho

Tostados – café (do carvalho)

Mineral: É bem típico dos PN com alguma idade o aroma de terra molhada, que é chamado pelos franceses de sous bois e pelos italianos de sottobosco – que significa literalmente “debaixo do bosque” ou o cheiro que vem ao passear em um bosque depois da chuva no outono e levantarmos as folhas caídas no chão.

Outros: o aroma de cogumelo secos ou funghi secchi é também bem típico dos PN com alguma idade

Sabor

Doçura: quase sempre os PN estarão na categoria “seco”, com poucos gramas de açúcar residual (1 a 5), é o mais comum no mercado.

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Acidez: geralmente de média a alta, dependendo muito do clima (quanto mais frio o local, mais acidez), da colheita (quanto mais cedo se colhe, mais acidez),

Corpo: geralmente são de leves a de médio corpo, raramente muito encorpados

Álcool: geralmente são de teor alcoólico mediano, entre 13 e 14

Taninos: ao contrário da Cabernet Sauvignon por exemplo, esta não é uma casta de muitos taninos, geralmente possui poucos a médios taninos.

Pinot Noir no mundo

Em termos de VOLUME, o maior produtor de PN do mundo é de longe a França. Outros países com áreas relevantes de PN são Alemanha, Moldavia, EUA, Suíça, Itália, África do Sul, Romênia e Nova Zelândia

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Os países com produção de PN de maior QUALIDADE são: França (Borgonha, Loire, Champagne), Nova Zelândia (Martinborough, Walkerbay), Chile (leia abaixo), EUA (Oregon, Los Carneros, Russian River Valley), Austrália (Yarra Valley e Tasmânia), Suíça (Grisons, Graubünden), África do Sul (Elgin), Alemanha (Baden, Rheingau, Rheinhessen), Itália (Friuli e Alto Ádige), se não podemos esquecer o Brasil (leia abaixo).

O nirvana da Pinot Noir é a Borgonha, cuja tradição no cultivo desta uva é milenar e tomou grande impulso ao longo dos século graças aos monges, principalmente os beneditinos e cistercienses e franciscanos. É da Borgonha o vinho que talvez goze do maior prestígio do mundo, o Romanée-Conti.

Embora todo filho de Deus (e discípulo de Baco) mereça um dia provar um Grand Cru da Borgonha, pela proximidade, qualidade e preço, o PN que mais vai nos interessar são os do Brasil e os do Chile. O Brasil evoluiu muito nos últimos anos na produção de PN. Até pouco tempo as melhores uvas de PN iam para os espumantes, nos últimos tempos felizmente os produtores resolveram dar mais atençao aos tintos e temos ótimos exemplares em várias regiões, como serra catarinense, Campos de Cima da Serra, Serra Gaúcha e Campanha Gaúcha.

Outra boa opção são os PN do Chile. Este pequeno país sul-americano faz Pinot Noir de alta qualidade, com preço acessível e em estilo fácil de agradar. Os pinots do Chile são frutados, com cor mais intensa que os da Borgonha, com presença bem notável da madeira e com álcool mais alto que os congêneres franceses, em torno de 14-14,5%. As melhores regiões do Chile para a PN são as regiões mais frias, mais próximas ao oceano Pacífico e mais ao norte, como Casablanca, San Antonio, Leyda, Limari, Elqui, e ao sul, Bío-Bío. No Brasil, embora as melhores uvas de PN sejam usadas para espumantes, alguns bons tintos já começam a surgir.

Curiosidade: o sucesso do filme “Sideways”  (em portugues “Sideways – entre umas e outras”, de 2004), cujo personagem principal adorava Pinot Noir e detestava Merlot, fez com que as vendas de Pinot Noir disparassem nos EUA enquanto as vendas de Merlot caíram.

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