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Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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O mundo do vinho em ebulição

    O mapa mundial do vinho está em movimento. E desta vez, como nunca. O planeta assiste a um pipocar de fatos novos no universo vitivinícola. Entre eles, o crescimento da atividade em países e regiões não tradicionais; o emprego e valorização de castas autóctones, antes ofuscadas pelo brilho das uvas internacionais ou tradicionais, […]

Por marcelo
Atualizado em 25 fev 2017, 17h40 - Publicado em 26 jan 2016, 11h00

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O mapa mundial do vinho está em movimento. E desta vez, como nunca. O planeta assiste a um pipocar de fatos novos no universo vitivinícola. Entre eles, o crescimento da atividade em países e regiões não tradicionais; o emprego e valorização de castas autóctones, antes ofuscadas pelo brilho das uvas internacionais ou tradicionais, e a ascensão de estilos de vinhos que, num passado recente, não tinham o reconhecimento e consumo atuais.

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A Europa foi e continua sendo o epicentro da produção vinícola global. Mas o estilo europeu de vinhos ganha novos contornos. Novas e tradicionais áreas vitícolas crescem na América do Sul, Oceania e Ásia. E os vinhos desses continentes ganham cada dia mais espaço nas críticas e guias internacionais. Atenta a essa ebulição, entrevistei uma série de especialistas internacionais, nomes de peso, para ouvir as opiniões deles sobre as mudanças atuais e perspectivas futuras na vitivinicultura mundial. Falei com Jancis Robinson (colunista de vinhos do Financial Times – que citou suas considerações para a introdução da última edição do Atlas Mundial do Vinho), Roberto Joseph (editor chefe da Meiningers Wine Business International), Steven Spurrier (consultor da revista Decanter) e Dave McIntyre (editor de vinhos do Washington Post). As opiniões convergiram em muitos pontos. E, a partir delas, é possível imaginar uma nova realidade, um novo mapa vitivinícola mundial para as próximas décadas.

As mudanças podem ser vistas, por exemplo, através das seis edições do Atlas Mundial do Vinho, de autoria de Jancis Robinson e Hugh Johnson. “Este mundo é muito diferente do mundo do vinho de 2006, quando a última, a sexta edição, foi publicada. E é completamente irreconhecível em tamanho e no panorama do que víamos no mundo do vinho, digamos, em 1985, quando a terceira edição foi publicada”, observa Robinson. Na última edição, cresceram as páginas dedicadas à América do Sul e Nova Zelândia. E Jancins observou, com relação à Ásia, acreditar que o continente “jamais iria sucumbir aos encantos do suco de uva fermentado”.

O mapa do futuro

A crítica, escritora e colunista do Finantial Times, com relação à Europa, afirma haver mudanças em diversos países, entre eles a Itália, Espanha, Portugal e Alemanha. Por exemplo, a valorização dos produtos da região dos Vinhos Verdes e dos brancos frescos e minerais de Alvarinho. A Geórgia, pela primeira vez, entrou na publicação. A emergente indústria vinícola da Turquia é motivo de atenções, assim como as positivas mudanças na vinicultura alemã. Steven Spurrier fala do Chile e Argentina como países que estão na vanguarda da vitivinicultura de qualidade do Cone Sul. “Mas Uruguai e Brasil começarão a ser falados”, afirma, para alegria dos vitivinicultores nacionais.

Entre as mudanças já em curso, o consultor da Decanter observa que a vitivinicultura da Nova Zelândia não está mais baseada na Sauvignon Blanc. E que a Austrália passa por uma grande revolução, que está tornando mais elegantes os vinhos do país. A Califórnia continuará sendo o principal produtor americano de vinhos. “Mas eu escolheria o Estado de Washington, na Costa Oeste, e a Virgínia, na Costa Leste, como regiões para ficarmos de olho”, desafiou Spurrier. “A China , obviamente, vem à mente como um potencial grande produtor de vinho. O vinho torna-se cada vez mais popular por lá e mais vinhedos são plantados.”, afirma Dave McIntyre, do Washington Post.

No entanto, ele levanta algumas questões sobre o futuro da vitivinicultura do país asiático. “Será que a China vai se tornar um exportador de vinhos ou seu mercado interno irá consumir tudo? Será que os vinhos chineses serão premium, novidades de alto preço, ou será que a China inundará o mercado mundial com vinho barato? As respostas virão, provavelmente, muitos anos à frente”, prevê. McIntyre acredita que, em breve, os vinhos uruguaios e brasileiros chegarão ao mercado americano. Ele também aposta no renascimento e modernização da vitivinicultura dos países da Europa Oriental.

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Portugal e Espanha irão se destacar por vinhos de excelente relação custo x benefício e vinhos de alta gama. Na Itália, a Sicília ganhará (e já ganha) destaque com seus vinhos quentes. Nos Estados, a qualidade dos vinhos Californianos continuará a melhorar, afirma o editor. Robert Joseph, editor chefe da Meiningers Wine Business International, aposta na vitivinicultura de altitudes e de regiões ao norte e ao sul para o desenvolvimento de uma vitivinicultura de qualidade. “Já estamos vendo cada vez mais a importância da Tasmânia, na Austrália, e eu tenho certeza de que o sul da Nova Zelândia, Chile, Argentina e África do Sul se tornarão mais importantes, junto com partes surpreendentes do Norte da Europa, como o Reino Unido, Dinamarca, Holanda e Bélgica”, declarou. A alta qualidade dos vinhos alemães, segundo ele, já é reflexo das mudanças no mundo do vinho. “E espero ver um maior interesse no Loire”. Joseph disse também querer ver vinhos mais interessantes, de baixo custo, do Norte do Brasil (Vale do São Francisco), devido ao potencial da região para produzir mais de uma safra por ano. “Eu ainda estou impressionado”, revelou.

Eu, pessoalmente aposto, em regiões como a Tasmânia, na Austrália, em países produtores do Leste Europeu, incluindo Eslovênia, Croácia e Grécia, na China e no Brasil. Ao visitar a Tasmânia me encantei com a natureza exuberante e tão propícia a elaboração espumantes, brancos e tintos leves e frescos. O Leste Europeu, è medida que se reintegra cultural e economicamente à Europa Ocidental, retoma sua entiga tradição em vinhos.

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A China é grande bicho papão do mercado e o Brasil, espero, a surpresa no futuro próximo. As variedades e estilos do futuro Jancis Robinson lembra que, não faz muito tempo, os produtores utilizavam fórmulas e umas poucas castas internacionais para fazer, de maneira notável, seus vinhos. Hoje, segundo ela, a grande alegria é ver a recuperação e exploração de castas autóctones, em regiões tradicionais, e castas novas em áreas igualmente novas.

Essa mudança deixa o consumidor mais motivado. Steven Spurrier cita as castas Cabernet Franc e Vermentino como potenciais na vitivinicultura chinesa. A branca Semillon e a tinta Petit Verdot também. Dave McIntyre considera difícil prever o futuro quando o assunto são castas. “Quem teria pensado, há três anos, que os vinhos tintos doces seriam tão populares?”, pergunta. Ele comenta que apreciar vinhos de Moscato faz sentido, porque as pessoas gostam de bebidas frizantes. No entanto, relutam com a Riesling, por acharem seus vinhos muito doces. “Eu nunca vou entender isso”, declara. “Se eu tivesse resposta para isso estaria rico”, afirmou Robert Joseph, a propósito da pergunta sobre as castas do futuro. “Mas o meu palpite é Moscato – uma boa notícia para o Brasil -, Pinot Noir e Syrah / Shiraz (que eu espero ver ultrapassar a Cabernet Sauvignon em países emergentes como China e Índia)”, disse. A Grenache e a Malbec também são apostas de Joseph para o futuro. Em minha opinião pessoal, também vejo um bom futuro para uvas como Cabernet Franc e na Gamay, por gerarem vinhos mais frescos, o que o mundo busca. Apesar de haver muitas candidatas no departamento das uvas brancas, cito a Sémillon australiana, como uma casta a ser descoberta no futuro. Aposto ainda em vinhos com alguma doçura (off-dry ou demi-sec). Não apenas em vinhos brancos de Moscatéis, mas também em tintos finos com alguma doçura. Mudanças no Clima Steven Spurrier afirma que as mudanças no clima do planeta (popularmente chamada de aquecimento global), é “um fato real e preocupante”. Mas não a curto prazo. Até agora, o que se assistiu foi ao aumento, para até 15o C, do teor alcoólico dos vinhos de Bordeaux nas safras de 2009 e 2010. Mas os produtores afirmam que não querem excesso de maturação nas uvas, porque isso gera vinhos sem equilíbrio, comenta Spurrier. Na safra de 2013, os vitivinicultores tiveram que colher as uvas mais cedo, para evitar podridões. E o teor alcóolico dos vinhos não superou os 13o C.

O consultor da revista Decanter afirma que, à medida em que sobe a temperatura global, as videiras vão subindo, sendo “plantadas em altitudes mais elevadas, em encostas voltadas para o norte e assim por diante”. Spurrier observa que há adaptações que ainda podem ser feitas para driblar as mudanças climáticas. Ele vê avanços no manejo das vinhas, em função do problema. “Certamente a Inglaterra tem visto o plantio de uma grande quantidade de vinhas ao longo da última década. Mas quase todas são destinadas à produção de vinho espumante”, comenta. Para Spurrier, se o vinho vier a ser feito na Escócia, isso será por causa do aquecimento global. “Mas não será dentro do meu tempo de vida”, observa.

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As mudanças climáticas já provocaram efeitos na vitivinicultura, disse Dave McIntyre. “Os efeitos mais imediatos foram safras mais quentes, o que é bom em lugares como Bordeaux ou o Vale do Loire”. Ele ouviu de um enólogo bordalês, há alguns anos, a seguinte frase; “Eu amo o aquecimento global, mas quero que ele pare agora. Caso Contrário, eu irei fazer Claret na Inglaterra”. Para Robert Joseph “algumas regiões podem tornar-se mais frias e estamos vendo o tempo muito mais imprevisível”, observa. Para ele, essas mudanças são um desafio para os vitivinicultores e para o mapa do vinho. No entanto, ele coloca uma dose de otimismo nas mudanças, um fator que levará à ampliação do mapa vinícola: “Os benefícios potenciais para novas regiões (como indicado acima) são claros”.

Minha opinião não difere da dos especialistas de outros países. O aumento no teor alcoólico dos vinhos é fato. Em algumas regiões, como Napa e Sonoma na Califória, vinhos que tinham 12% de álcool 20 anos atrás hoje podem chegar a 15%”. No entanto, destes 3% a mais, atribuo apenas 1% às mundanças no clima. Os demais 2% são consequência da viticultura e enologia. Isso se deve à vontade e a capacidade tecnológica dos produtores (que não existia 20 anos atrás) em fazer vinhos mais concentrados e macios. Nas últimas décadas o mercado pediu vinhos mais alcoólicos e a indústria os fez. Hoje a tendência é oposta, cada vez mais os consumidores preferem vinhos menos alcoólicos.

Mais em www.marcelocopello.com

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