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Blog da Thalita Rebouças
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Alfinetadas de uma costureira

Em São Paulo por conta de um evento, precisei fazer um ajuste no vestido que usaria à noite, num jantar com amigos. Fui a uma costureira a jato recomendada pelo hotel. Enquanto ela marcava a bainha, comentou: – O seu rosto não me é estranho. Você não é aquela menina… – Obrigada pelo ‘menina’. A […]

Por fernanda
Atualizado em 25 fev 2017, 18h41 - Publicado em 21 abr 2014, 23h33

Em São Paulo por conta de um evento, precisei fazer um ajuste no vestido que usaria à noite, num jantar com amigos. Fui a uma costureira a jato recomendada pelo hotel. Enquanto ela marcava a bainha, comentou:

– O seu rosto não me é estranho. Você não é aquela menina…

– Obrigada pelo ‘menina’.

A gentil costureira sorriu e prosseguiu:

– Aquela menina que escreve e faz programa?

– Bruna Surfistinha?

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Ah! Não resisti.

– Não! Escreve para adolescentes e faz programa de televisão. Aquele Bola Redonda.

–  Bolsa Redonda!

– Isso! No Globo Esporte!

– Esporte Espetacular.

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– Isso! Isso! – vibrou antes de decretar: – Você é tão diferente na televisão!

Ô-ou…

Sempre morro de medo de “diferente”. Mas ok, não podia deixar o assunto esgotar, ela estava visivelmente doida pra levar o papo adiante.

– Diferente como?

– Ah… Diferente.

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Diferente ponto. Ou seja, era bem diferente mesmo. Sei que ela queria falar mas estava um pouco encabulada. Anos de terapia me fizeram entender um pouco melhor a mente humana. Instiguei:

– Diferente bom ou diferente ruim?

– Diferente diferente.

Fiz a pergunta que não queria calar.

– Diferente gorda?

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– Isso! Diferente G-O-R-D-A! – exclamou, felicíssima. – G-O-R-D-A! – repetiu para enfatizar. – É isso que você é na televisão: GOR-DA! – disse mais uma vez. Não custava dar mais uma frisadinha, né?

Se eu fosse diferente Angelina Jolie duvido que ela demonstrasse tamanha empolgação.

Fiquei muda.

Tudo bem, ela preencheu o silêncio por mim.

– E você é tão miúda, braço fininho, cinturinha… Como é que pode, meu Deus? Tevê engorda mesmo!

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– Mas eu fico muito gorda?

– Fica.

Nada contra ser gorda, mas há uns anos entrei de cabeça na corrida, no treino funcional e na boa alimentação e nunca pesei tão pouco!

– E dizem que lá no Rio é melhor ser ladrão do que gordo hoje em dia, né?

– Que absurdo! Se a pessoa estiver saudável e feliz, qual o problema de uns quilos a mais? – rebati.

– Nenhum problema. Mas é que você é magra na vida real e na tevê parece uma troglodita de academia, dessas que tomam bomba, sabe?

– Ah, não pareço mesmo!

– Parece sim. Sabe Mulher Fruta?

– Sei.

– É você no vídeo.

Estava piorando! Mulher Fruta? Eu?

– Você fica com bração, pernão, bundão.

Tive vontade de saber como ela repara na minha bunda se passo o quadro inteiro sentada. Resolvi perguntar outra coisa.

– Vem cá: eu fico gorda ou Mulher Fruta?

– Fica mulherão. Toda grande. Parece altíssima!

– Mulherão é diferente de mulher fruta, que é diferente de gorda. A senhora está me confundindo.

– Ai, meu Deus, como é que vou dizer? Você não me leva a mal, mas acho você… você é feia na televisão. Pronto, falei, não aguentei, sou sincera.

Ah, tá.

– Independentemente do corpo, sua cara no vídeo não faz jus a você – alfinetou. – Fica feia mesmo. Cara de travesti pobre, sabe?

– Não, não sei – disse. – A senhora consegue me entregar o vestido até as sete? – consegui mudar de assunto. Ufa!

– Claro.

Na saída, depois que paguei, a costureira arrematou:

– Você está tão calada… Ficou chateada comigo? Não fica!

– Imagina! Nada chateada.

É sempre uma delícia ouvir que sou feia, quis acrescentar.

Mas não acrescentei. Preferi elogiar a rapidez do serviço e sair logo dali.

– Muito bom contar com um serviç…

– Não perde seu tempo se preocupando com o que eu falei, o problema no Bola Redonda não é você – cortou ela. – É a comparação.

Gente! A mulher não parava! Alguém podia cerzir a boca daquela tagarela!

– Comparação?

– É! A gente vê você e compara com as outras três, aí ferrou! Elas são tão bonitas e tão elegantes… Você some do lado delas.

Feia, grande, cafona e apagada. Costureira bacana.

O vestido chegou na hora marcada ao hotel. Pelo menos isso.

Já de volta ao Rio, no elevador do meu prédio, uma vizinha entra e pergunta:

– Você é a Thalita? Nossa! Tão mais magra e tão mais novinha do que a gente vê nas fotos!

Nem sei que fotos, mas lavou minha alma.

Por mais clichê que isso pareça, se você está feliz e se sentindo bem, não importa a opinião dos outros.

Mas cara de travesti pobre tem a sua mãe!

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