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Uma conversa com o ator Leonardo Netto sobre Para os que Estão em Casa, seu primeiro trabalho como autor

Ator com mais de quarenta espetáculos no currículo, Leonardo Netto já havia se arriscado na direção em quatro montagens, mas demorou 25 anos de carreira para estrear como dramaturgo. Seu début veio em janeiro, quando estreou Para os que Estão em Casa, no Espaço Sesc. Também diretor da montagem, o autor se inspirou no mote de Denise […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h20 - Publicado em 30 jan 2015, 14h22

Leonardo Netto (crédito: Vicente de Mello)

Ator com mais de quarenta espetáculos no currículo, Leonardo Netto já havia se arriscado na direção em quatro montagens, mas demorou 25 anos de carreira para estrear como dramaturgo. Seu début veio em janeiro, quando estreou Para os que Estão em Casa, no Espaço Sesc. Também diretor da montagem, o autor se inspirou no mote de Denise Está Chamando, filme algo profético: em 1995, já mostrava um grupo de amigos que só se comunicava por meio de gadgets. Aqui, o entrosado septeto é vivido por Adassa Martins, Ana Abbott, Beatriz Bertu, Cirillo Luna, Isabel Lobo, João Velho e Renato Livera.

O blog conversou com Leonardo sobre a peça e, claro, sobre a influência da tecnologia sobre a comunicação, assunto do texto. Confira:

Você tem uma trajetória muito consistente como ator e algumas experiências como diretor. Por que a investida na dramaturgia demorou tanto?

Porque não me achava capaz. Já tinha colaborado na dramaturgia de alguns espetáculos que fiz como ator, como Corte Seco, com direção de Christiane Jatahy, e Apropriação, com direção de Bel Garcia, mas nunca tinha escrito uma texto de maior fôlego. Antes de tentar escrever Para os que Estão em Casa propus a ideia para alguns dramaturgos, mas acabou não rolando. Foi quando resolvi tentar eu mesmo.

O que o fato de ser ator ajuda ou atrapalha no seu trabalho como diretor e, agora, como autor? 

Acho que só ajuda, nos dois casos. Como diretor porque conheço atores e dirigi-los é a parte mais difícil e delicada do trabalho. Cuido deles como gostaria que cuidassem de mim. Estimulando criativamente, trabalhando com o “sim”, em vez de só apontar os problemas. Como autor eu buscava a perfeita embocadura das falas, lia as frases em voz alta pra ver se estavam naturais, se cabiam na boca. O texto tem uma coloquialidade proposital e arduamente buscada. Ser ator me ajudou a encontrar esse tom.

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Quando e como surgiu a ideia de escrever uma peça baseada em Denise Está Chamando?

Quando percebi que o filme, de 1995, tinha sido visionário em relação ao que vivemos hoje. Ele anuncia, antes da internet e da telefonia móvel se popularizarem, uma situação que atualmente começa a tomar a proporção de um efeito colateral na vida das pessoas. Nesse sentido, ele é profético. Eu não achava que o filme, por si só, daria uma boa peça, por conta de seu caráter seco e fragmentário. Mas seria um excelente ponto de partida.

Você viu o filme na época do lançamento ou só depois? Quais são suas lembranças do impacto que o filme lhe causou?

Vi na época, no cinema, e fiquei apaixonado. Era uma ideia genial os atores não contracenarem ao vivo, apenas por telefone. E isso é mantido na peça, apesar dos atores estarem em cena o tempo todo, o que na minha opinião, deixa tudo mais aflitivo para quem assiste. Sete atores no mesmo espaço, simultaneamente, e ninguém se olha.

Você acabou apostando em um esquema de crowdfunding para levantar a peça. Como foi isso?

A ideia do crowdfunding surgiu como uma alternativa para a produção do espetáculo. Durante dois anos coloquei o projeto em todos os editais que você possa imaginar e não ganhei nenhum. Mas eu só tinha duas opções: fazer a peça ou fazer peça. Já tinha colaborado em ações desse tipo doando dinheiro para projetos de amigos. Então pensei: “Agora é a minha vez”. Foi linda a quantidade de pessoas que colaboraram.

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Como foi a escolha do elenco?

Eu achava que os personagens deveriam estar na faixa dos 20 e tantos a 30 e poucos, porque seriam pessoas que teriam crescido junto com a evolução tecnológica da comunicação, que transitassem com desenvoltura nessa área. Pessoas da minha idade são mais resistentes ou mais lentas para acompanhar esses avanços. Fui buscar atores que eu admirasse, nessa faixa etária. Alguns eu não conhecia pessoalmente, mas já tinha tido o prazer de assistir a todos eles atuando. E eles aceitaram o convite, o que foi sorte minha. O elenco dessa peça é a minha menina dos olhos e o meu orgulho.

Como é, pessoalmente, a sua relação com a comunicação eletrônica, via gadgets? É usuário frequente ou tenta ficar longe? 

Minha relação é bem simplória. Parei no Facebook. O resto é um pouco demais pra mim. Não tenho Instagram, Twitter, Whatsapp, nada disso. Não me interesso. Às vezes fico pensando o que as pessoas tanto tem pra mostrar e dizer aos outros, que ficam o dia inteiro agarradas no celular? O elenco brinca que sou “tiozão da internet”. Eles estão absolutamente certos.

Que tipo de situação envolvendo essa comunicação virtual mais o incomoda?

Quando estou com um amigo sentado à minha frente, de cabeça baixa, passando o dedinho pra cima pra baixo na tela do celular. E eu esperando para trocar algumas frases. Acho falta de educação. Tenho vontade de levantar e ir embora.

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