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Espetáculos, personagens, bastidores e tudo mais sobre o que acontece na cena teatral carioca, pelo olhar do crítico da Veja Rio
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Uma conversa com Felipe de Carolis, idealizador, produtor e ator do drama Incêndios, sucesso de 2013 que volta ao circuito, no Teatro Carlos Gomes

Um dos maiores sucessos da temporada teatral do Rio em 2013, Incêndios está de volta ao circuito carioca: após uma turnê por dez cidades, chega para uma temporada curta, somente até 3 de maio, no Teatro Carlos Gomes (quinta e a sábado, 19h30; domingo, 19h. R$ 40,00 no balcão e R$ 60,00 na plateia). Escrito pelo libanês […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h08 - Publicado em 17 abr 2015, 22h59

Marieta Severo, Felipe de Carolis e Keli Freitas (arquivo pessoal)

Um dos maiores sucessos da temporada teatral do Rio em 2013, Incêndios está de volta ao circuito carioca: após uma turnê por dez cidades, chega para uma temporada curta, somente até 3 de maio, no Teatro Carlos Gomes (quinta e a sábado, 19h30; domingo, 19h. R$ 40,00 no balcão e R$ 60,00 na plateia). Escrito pelo libanês Wajdi Mouawad, radicado no Canadá desde o início dos anos 80, o texto é a segunda parte de uma tetralogia que inclui as peças Litoral (1997), Florestas (2006) e Céus (2009). Das quatro, Incêndios é a mais conhecida, graças ao longa-metragem homônimo de 2010, dirigido pelo canadense Denis Villeneuve, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Encenado originalmente em 2003, com direção do próprio Mouawad, o espetáculo conquistou uma série de prêmios importantes e foi montado em mais de quinze países, êxito ancorado em um poderoso enredo sobre a tragicidade da condição humana. Na história, Nawal (na montagem brasileira vivida por Marieta Severo), mulher cuja vida foi atravessada pela guerra em seu país, passa seus últimos cinco anos de vida em estado próximo da catatonia, sem razão aparente. Em todo esse tempo, ela não pronuncia uma única palavra, a não ser uma frase enigmática, dita certa vez a uma enfermeira. Após a sua morte, o testamento impõe uma desnorteante missão aos filhos, a matemática Jeanne, vivida por Keli Freitas, e o boxeador Simon, papel de Felipe de Carolis. A ela é dada uma carta, que deve ser entregue ao pai dos dois, que se acreditava estivesse morto havia anos. O rapaz recebe outra correspondência, destinada ao irmão de ambos, que eles jamais souberam que existia. As missivas são o ponto de partida para uma busca que levará os irmãos à terra onde nasceu Nawal, que, a julgar pela biografia do autor, presume-se que seja o Líbano.

A ideia original de encenar o texto por aqui foi do próprio Felipe, que conheceu a história em 2011 ao assistir ao filme canadense e percebeu, nos créditos finais, que se tratava originalmente de uma obra teatral. Obstinado pela ideia de montar o espetáculo, ele comprou os direitos, se converteu em produtor e também está em cena no espetáculo, dirigido por Aderbal Freire-Filho.

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Confira a entrevista com Felipe:

Depois de uma temporada de enorme sucesso no Teatro Poeira, por que vocês decidiram voltar para mais algumas semanas no Rio? 

Quando eu idealizei o projeto, lá em 2010, sozinho, sempre pensava grande, mas fui aconselhado por produtores mais experientes: “Se a sua tragédia ficar em cartaz por três semanas, comemore.” Mesmo assim, insisti e fiz um projeto para dez semanas. Logo na primeira, sentimos que se tratava de um fenômeno. Acabamos fazendo dez meses de Rio de Janeiro, com ingressos esgotados com três meses de antecedência . A procura e fila de espera eram inesgotáveis diariamente. Eu não podia ignorar isso. Precisava trazer Incêndios de volta.

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Por que a escolha pelo Carlos Gomes, que é um teatro tão diferente do Poeira?

Percebemos, principalmente quando viajamos, o alcance que a peça tinha junto ao público, o quanto ela comunicava e emocionava, mesmo em teatros maiores. A minha  vontade era de mostrar para o mundo inteiro e proporcionar as sensações que a peça causa, em cada canto possível. O Rio de Janeiro merece nossa volta. Fizemos um levantamento de quais teatros poderiam nos receber em caráter de preços populares, para dar chance de todos assistirem, e acabamos optando pelo Carlos Gomes.

É verdade que, para essa nova temporada carioca, vocês estão sem patrocínio? Por que vocês tomaram essa decisão de reestrear mesmo assim?

Eu nasci, artisticamente, no teatro. Amador, aos 8 anos. Profissional aos 12 anos. Marieta nasceu no teatro. Maria (Siman, produtora) também.  Dentro de respectivas e tamanhas proporções, passamos por alguns vários trabalhos no palco. Tenho, temos, plena consciência do que acontece em Incêndios é extraordinário. Desde as críticas aos prêmios, passando pela atenção e comoção do público. Precisamos agradecer. Ao público, aos deuses do teatro, por ter nos agraciado com uma tragédia contemporânea que toca todas as noites o coração de tanta gente. Eu não encostaria a cabeça no travesseiro se não tivesse feito esta escolha. É um desejo, que a gente vai cumprir, por conta da nossa produção. A gente fez viagens e agora estamos bancando esta. Patrocinadores alegam preferir suas marcas atreladas à comédias e musicais, que eu também adoro e faço. Os departamentos de marketing tem medo de terem seus nomes atrelados a uma tragédia. Eu serei feliz no dia que as empresas tiverem um departamento especializado, com pessoas capacitadas a avaliar a qualidade do projeto cultural a ser aportado.

Como foi a turnê de Incêndios

Foi incrível. Ao todo, Incêndios passou por dez cidades, entre micro, pequenas, médias e gigantes temporadas: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, esta duas vezes, Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte, Vitória, Uberlândia e Recife.

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Incêndios foi gestado e nasceu no Poeira. Como foi a adaptação para teatros tão grandes com aqueles pelos quais vocês passaram na turnê?

Na turnê a gente fica pouco tempo em cada cidade, e sempre com a vontade de mostrar a peça para o máximo de pessoas. Aqui no Rio, estreamos no Poeira, e em seguida tínhamos patrocínio. Sem ele o espetáculo não sobreviveria. Esta é outra razão para a necessidade de uma sala maior. Não acho que o espetáculo perde, não acho, mesmo. Muito pelo contrário. Depois de seis meses na FAAP, em São Paulo, acredito que a força do teatro épico, a tragédia, ficam ainda mais latentes em espaços destas dimensões.

Voltando um pouco no tempo: você pode relembrar como foi a gênese de Incêndios?

Incêndios nasce no momento em que a vida me deu um susto chamado linfoma. Eu tinha 20 anos, havia trabalhado com diretores que eu admirava muito, do Bernardo Jablonski ao Amir Hadad, feito musicais com o Charles Möeller e o Claudio Botelho, que são os maiores e melhores do país, no que diz respeito ao gênero.  A minha necessidade era sobreviver àquele turbilhão, com a certeza de que, se meu tratamento não desse certo, eu deixaria para mundo algum legado, devolveria o mínimo que ganhei, passaria o muito, ou pouco, que aprendi,  feito alguma coisa pelo avanço da cena cultural do meu país. Não só como ator ou roteirista. Fui para a prática, daquele sonho de mudar a realidade, que na maioria das vezes não passa de um caderno de rascunhos.  Eu sou assim, na minha profissão, desde pequeno. Minha família tradicional sempre foi contra uma carreira artística. Ventos soprando a favor eram raros, então precisava provar sozinho que conseguiria. Fui atrás dos direitos, levei para a Angela Leite Lopes traduzir, e paguei a peça. Passei dois anos sozinho, levando “nãos” de todos os produtores que procurava pra me associar. Até que desisti deles, decidi ir direto na atriz que que eu queria, e no do diretor dos sonhos, Marieta e Aderbal, respectivamente, toparam quase imediatamente. Depois, a Maria Siman conseguiu uma brecha na agenda e veio conosco. Somos felizes.

A quantas anda o projeto de montar Céus, do mesmo autor de Incêndios?

Céus estreou em 2009 no Festival de Avignon, França, ano em que um dos maiores festivais de teatro do mundo escolheu Wajdi Mouawad como homenageado. A peça é a quarta parte da tetralogia Sangue das Promessas que começa com Litoral, passa por Incêndios e Florestas. Em Céus, elenco e plateia são colocados juntos, no mesmo espaço, onde especialistas escutam conversas telefônicas secretas e interceptam computadores de todo o mundo, buscando impedir uma ameaça de atentado internacional. Assim como a mãe e os gêmeos, protagonistas de Incêndios, posso começar a contar a história de Céus a partir de qualquer um dos cinco protagonistas. É o mesmo teatro fascinante do Wajdi: um convite a uma experiência teatral, ao vivo, no coração de um mistério terrível, de um mundo ultramoderno, onde poderemos agonizar se não encontrarmos o equilíbrio. Assim como fez em Incêndios, ele cria uma trama inteligente e extremamente bem amarrada, que causa sentimentos profundos e surpreendentes no espectador. A peça é fantástica.  Está em pré-produção desde o início de 2014. Mas a captação tem sido bastante difícil. Aparentemente o sucesso comprovado e os prêmios de Incêndios abririam portas para o gênero. Mas as empresas e editais cariocas ainda não se abriram tanto como eu imaginava.

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Mudando de assunto, você está se preparando para estrear na novela Verdades Secretas, da TV Globo. O que pode nos contar sobre essa preparação e sobre o seu personagem?

Eu tenho o privilégio de estrear fazendo um trabalho de composição na televisão. O que me parecia improvável está se tornando possível a partir da genialidade do autor Walcyr Carrasco e da competência de um diretor inteligentíssimo, generoso e atento, o Mauro Mendonça. Faço o Sam, um cara que sobrevive às condições que a vida impôs numa São Paulo truculenta, competitiva, avassaladora. Ele não é maquiavélico etimologicamente, mas ideologicamente, os fins sempre justificariam os meios. Tive encontros com psiquiatras e uma bela preparação de elenco. Eu e Grazi Massafera, minha companheira de elenco, temos uma parceria muito especial. Ela é incrível, está arrebentando. E, mais uma vez o destino: minha “mãe” Marieta, é uma das protagonistas, em sua volta às novelas, a mesma onde o “filho” estreia.

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