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Texto de Conselho de Classe é lançado pela Cobogó. Confira trechos

Criada em 2008, a editora Cobogó vem investindo com louvável constância na publicação de textos dramáticos, tanto nacionais quanto de autores estrangeiros — já foram lançados, entre outros, Incêndios, do libanês radicado no Canadá  Wajdi Mouawad,  A Primeira Vista e In On It, do canadense Daniel MacIvor, a Coleção Espanca, com quatro peças do grupo homônimo […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h34 - Publicado em 11 ago 2014, 17h06

Criada em 2008, a editora Cobogó vem investindo com louvável constância na publicação de textos dramáticos, tanto nacionais quanto de autores estrangeiros — já foram lançados, entre outros, Incêndios, do libanês radicado no Canadá  Wajdi Mouawad,  A Primeira Vista e In On It, do canadense Daniel MacIvor, a Coleção Espanca, com quatro peças do grupo homônimo mineiro, e a Coleção Dramaturgia, com obras de Pedro Brício, Felipe Rocha, Julia Spadaccini, Rodrigo Nogueira, Daniela Pereira de Cavalho e Jô Bilac. Deste último autor, a editora acaba de publicar sua mais recente peça, a comédia dramática Conselho de Classe. Uma das produções mais elogiadas (e premiadas) do ano passado, atualmente em cartaz no Teatro Dulcina, a montagem aborda o estado atual do sistema educacional brasileiro. Na história, quatro professoras de uma escola pública (vividas, curiosamente, por homens: por Marcelo Olinto, Thierry Trémouroux, Cesar Augusto e Leonardo Netto) se reú­nem para debater temas ligados ao colégio. Na ocasião, elas também vão conhecer o jovem substituto da diretora, interpretado por Paulo Verlings.

Nos diálogos, chama a atenção a forma como o tema é tratado — incisiva, mas sem ser panfletária. Confira alguns trechos.

“Por exemplo, você pega… sei lá… pega o Japão. Taí: pensa no japonês. Os caras inventam tudo que é coisa, é negócio dentro do olho que liga e desliga, é robô que faz isso e aquilo outro… Aí, tem um terremoto e as casas dos caras caem, a cidade inteira cai, e eles vão lá: um mês, tá tudo de pé novamente. Quer dizer, precisa de quê? Tecnologia, estrutura, planejamento, mas também de consciência ecológica, respeito, bom senso, coletivo. Mas tem que estudar pra isso, né, gente?! Precisa se educar.”

“Tanto se fala em educação, a bandeira da educação, salve a educação brasileira, mas não chega nem na hora… [indica o relógio de pulso] Educa-
ção não é só “dois mais dois”, não. É bom dia, boa tarde, é chegar na hora.”

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“Aqui… Olha a desgrama… [pega uma prova de um aluno, entre suas coisas. Lê em voz alta] Rafael, da 602. Como as enzimas se reproduzem? Olha a resposta, presta atenção: “As enzimas se reproduzem facilmente e de forma hábil, pois é só ficar uma enzima da outra.” Olha essa outra: “Qual é a função do esqueleto? Invadir o Castelo de Greyskull.” Tá vendo? Você acha? Eles pensam que a gente é palhaço, faz graça. Você acha que eu me aborreço? É isso que eles querem…”

“E você acredita? Do fundo do coração. Fala. Acredita nessa escola parada no século passado? Nesse sistema de ensino do tempo do ronca? Você acredita nisso, Mabel? A escola não cumpre mais a sua função faz muito tempo… O mundo  lá fora tá muito mais interessante, tem muito mais informação útil, direta.”

“E o que você quer que faça? Que eu salve o Brasil com um toco de giz na mão? Que eu seja a responsável… como foi que você falou? Pelo… Pelo “futuro do país? Com essas salas superlotadas, você quer que eu decore o nome de todo mundo, e ainda dê conta daquilo que nem mesmo a família deles consegue dar? Jura? Você tá me cobrando isso? Não tenho condições. Físicas, mentais.”

“Me engana que eu gosto, Mabel. Você quer o quê? Que a gente coloque uma mesa de sinuca, um fliperama, um traficante, um MC pra melhorar o apreço deles pela escola?”

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“João Rodrigo, eu ensino pra quem quer aprender. Quem não quer aprender, só lamento. Não tem cabimento obrigar uma criatura a estudar.”

“Do jeito que vocês falam parece que todo mundo foi educado num campo de concentração à base do chicote. Gente! Eu segui regras. Eu, você, todo mundo é criado assim… Todo mundo  aqui teve que usar uniforme, saber tabuada, prova dos noves, essas coisas que todo mundo faz e vai continuar fazendo, mesmo sem saber por quê… é a vida”

“O uniforme é uma forma de se reconhecer como grupo também. Se reconhecer como parceiro. Coletivo. Time. Por isso tem o uniforme. Pra dizer que aqui ninguém é melhor ou pior que ninguém. E é por isso que tem as regras. Não dessa forma escrota que você descreve, mas como uma forma de acordo em conjunto.”

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