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Espetáculos, personagens, bastidores e tudo mais sobre o que acontece na cena teatral carioca, pelo olhar do crítico da Veja Rio
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Renata Mizhari, autora estreante na direção com Os Sapos, fala sobre sua carreira

Aos 17 anos, Renata Mizrahi se inscreveu em um curso de atriz e se apaixonou pelo teatro. O trabalho diante do público, no entanto, acabaria sendo trocado pela criação das peças como autora. Uma das criadoras da companhia Teatro de Nós, dramaturga prolífica com textos premiados no currículo, ela agora se arrisca como diretora, a […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 19h05 - Publicado em 14 jun 2013, 17h15

Aos 17 anos, Renata Mizrahi se inscreveu em um curso de atriz e se apaixonou pelo teatro. O trabalho diante do público, no entanto, acabaria sendo trocado pela criação das peças como autora. Uma das criadoras da companhia Teatro de Nós, dramaturga prolífica com textos premiados no currículo, ela agora se arrisca como diretora, a bordo de Os Sapos, comédia dramática que estreia no próximo dia 21, no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim. Ela conversou com o blog sobre o início de sua carreira, seus atuais projetos e futuros trabalhos. Confira:

Como começou o seu envolvimento com teatro?

Comecei com 17 anos, como atriz, num curso livre em Copacabana, e me apaixonei. Depois, entrei no Tablado, e eles faziam um festival de esquetes para os alunos. Queria me inscrever, mas não sabia com que texto. Acabei escrevendo uma cena inspirada nas poesias de Vinicius de Moraes. A cena deu supercerto, e comecei a exercitar a escrita. Em paralelo, fiz vários cursos e passei para Uni-Rio, em Interpretação. Na faculdade, eu estreei meu primeiro espetáculo, 5 Atos. Era um texto de cinco cenas curtas sobre solidão. A peça estreou no Teatro Miguel Falabella e depois fez parte do Ciclo Nova Dramaturgia Carioca, coordenado pelo Roberto Alvim, no qual se apresentou às terças e quartas, na Sala Paraíso do Teatro Carlos Gomes. Na própria faculdade, para atuar sem depender do convite de alguém, comecei a escrever outro texto com a colaboração da atriz Elisa Pinheiro, para nós duas atuarmos. Juntamos mais duas pessoas, o Diego Molina, meu parceiro até hoje, e a Leticia Medella, todas da mesma geração da faculdade. A peça se chamava Nada que Eu Disser Será Suficiente até que o Sol se Ponha, e estreou em 2006, no Espaço Sesc, na temporada mais curta do mundo: sexta, sábado e domingo. Com essa peça, formamos a companhia Teatro de Nós. Desde então, comecei a escrever para a companhia. Foram uns sete textos que estreamos, entre eles o premiado Joaquim e as Estrelas, nosso primeiro infantil. Com o tempo, passei a escrever para fora da companhia, em encomendas, projetos particulares, TV…

Por que você deixou de ser atriz para se focar no trabalho de autora?

Foi uma opção de carreira, mesmo. Me lembro exatamente o dia e o momento que essa chave virou. Em 2007, estava num ensaio de uma peça e só pensava nos textos que tinha que terminar em casa. E senti ali uma vontade enorme de estar em casa trabalhando nesses textos, em vez de estar no ensaio como atriz. Então, entendi que era hora de assumir mais a autora. E foi ótimo, porque era uma época em que eu estava em crise como atriz. Quando fiz a escolha, comecei a focar mais no realmente queria: escrever. Isso significava não escrever apenas para eu atuar, queria escrever para todo mundo atuar, para muitas pessoas dirigirem, queria escrever para os meus amigos, para os outros. Hoje em dia, me vejo como autora. Ainda amo atuar, esse amor a gente não perde. De vez em quando, dou uma pinta nos palcos e me divirto, é tudo mais leve, acho que até que sou melhor atriz hoje, porque estou mais calma. Então, me considero uma autora que atua de vez em quando, mas sou autora.

Você faz parte de uma geração de jovens e ativos autores cariocas, que inclui nomes como Pedro Brício, Rodrigo Nogueira, Julia Spadaccini, Jô Bilac, Carla Faour… Você vê algum traço comum entre os dramaturgos cariocas da sua geração?

Nós somos uma geração que aprendeu na prática. Quando começamos a escrever, não havia tantos cursos de roteiro e dramaturgia como existem hoje. Aprendemos fazendo, mesmo. Os festivais de esquetes da época foram superimportantes. O espaço que tínhamos na Sala Paraíso, e o espaço nos ciclos de leituras, um deles coordenado pelo Luciano Mazza, contribuíram para um o aperfeiçoamento dos textos. A gente se metia em tudo: leituras, festivais, eventos, ciclos, ocupações. Tínhamos que praticar, e houve parcerias fundamentais para isso acontecer. Acredito que somos uma geração que vem amadurecendo junto, e isso nos aproxima muito. Já escrevi com a Julia, com o Jô, trabalhei com o Rodrigo. A gente experimentava e ia descobrindo o que era bom, o que funcionava, o que não funcionava. Uma das coisas que tínhamos em comum nos textos era o relato de uma geração e seu mundo interior, a observação da nossa época. E depois cada um foi aperfeiçoando seu estilo, buscando novos temas, abordagens, amadurecendo, mesmo. Sou fã dos textos do Pedro, Julia, Rodrigo, Jô, Carla, dos autores da minha geração e dos autores que estão chegando com tudo também. Acho que estamos conquistando um espaço muito importante e necessário.

Você diria que os seus textos têm um estilo, uma temática comum? Qual seria o traço definidor da sua dramaturgia?

Uau! O estilo com certeza, principalmente nos diálogos, que é o que mais gosto. Mas, hoje em dia, os temas são bem diferentes. Bem, mesmo. Isso pode ser visto em julho, quando estarei em cartaz com três peças diferentes: a inédita Os Sapos, que fala sobre dependência amorosa através de uma história bem realista, a volta de Caixa de Fósforos, uma comédia romântica fragmentada, e a volta de Bette Davis e a Máquina de Coca-Cola, uma comédia bem ácida. São todas peças completamente diferentes, escritas também em épocas completamente diferentes.

Falando sobre Os Sapos, o que você pode nos contar sobre a peça, sobre a história?

É uma peça que fala de dependência amorosa, através de uma história que se passa numa casa de campo. Ou seja, a princípio parece uma propagando de margarina, tudo é tranquilo e lindo, até que chega Paula, uma mulher solteira e livre. E, só por isso, gera grandes tensões. Aos poucos, com os conflitos crescendo gradualmente, a história vai se transformando num verdadeiro pesadelo. Os personagens isolados naquela casa, por falta de transporte, são obrigados a se aturar. Há o desejo das mulheres de mudar, de se livrar de suas condições amorosas, há a catarse e… o final eu não conto. A ideia surgiu em 2009, quando eu fazia uma pesquisa sobre dependência amorosa e passei a observar pessoas com esse comportamento, o que levava alguém a ficar anos com uma pessoa sem estar realmente ser feliz, sem conseguir se separar. Então, comecei a unir os personagens que fui conhecendo e os transportei para o texto através de uma história simples, mas que possui várias camadas que vão se revelando conforme o texto flui.

Os Sapos é a sua estreia como diretora. Dirigir era uma vontade antiga ou só despertou recentemente?

Há onze anos dirijo meus alunos de interpretação, de diversas idades, de crianças a gente de 80 anos. Já montei quatro peças por anos com turmas diferentes. Dirigir aluno é um grande exercício: elencos enormes, você tem que dar conta de todas as necessidades. Então, a ideia de dirigir profissionalmente vem amadurecendo há tempos. Teve uma vez em que dirigi profissionalmente um esquete num festival grande do Rio e fui indicada a melhor direção. Isso me animou também. Resolvi assumir a direção de Os Sapos porque é uma peça que, além de ter propriedade e gostar muito dela, estou investindo financeiramente dela. A direção a princípio seria da Inez Viana. Como não conseguimos captar nesses cinco anos, desde que a convidei, resolvi montar assim mesmo, investindo do meu bolso. Conversei com a Inez e ela me estimulou a assumir essa direção. É um projeto do qual gosto tanto, pelo qual tenho tanto carinho, que resolvi assumir. Convidei para estar do meu lado na direção a Priscila Vidca, parceira de trabalho do Cesar Augusto e da Sueli Guerra. Trabalhei com a Priscila na CAL e percebi que juntas poderíamos dar certo.

É uma experiência que você quer repetir com mais frequência?

Tô achando uma experiência maravilhosa. Porque gosto de gente, gosto de ator, sei o que é estar desse lado, sou apaixonada por teatro. Para mim, o objetivo principal dessa direção é fazer com que os atores estejam muito bem nos seus personagens. Se elogiarem os atores, sinto que minha missão foi cumprida. E, sim, com a experiência de Os Sapos. percebi que posso assumir a direção dos meus projetos e de outros. É um lugar próximo da criação de um texto. Dirigir é uma segunda autoria. É uma descoberta incrível, é um jogo de criatividade e generosidade. Quero, sim, dirigir outros trabalhos.

Dirigir um texto de sua própria autoria é mais fácil ou mais difícil?

É mais fácil. Porque conheço bem os personagens. Mas sei também que é importante ter um distanciamento, até para descobrir coisas novas. Por isso, chamei a Priscila para estar do meu lado na direção. Ela tem um olhar mais de fora que é bom e saudável. Juntas, intercalamos o psicológico, as intenções dos personagens e a fisicalidade, as marcas de cenas. Surge uma linda parceria que vai perdurar.

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