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Por Rita Fernandes, jornalista
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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A ida ao mercado virou uma incrível viagem pelo bairro de Camorim

Um olhar mais atento à vizinhança nos leva a enxergar uma cidade que a gente não vê, onde estão nossos territórios geográficos e afetivos

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 mar 2020, 13h44

Meu irmão Siddharta tem uma casa no bairro de Camorim. Até o surgimento do COVID – 19, era a casa onde a família se reunia para as festas, com piscina, campinho de futebol e churrasqueira. Que eu conhecia pelo caminho de ida e de volta, da Zona Sul até lá. Hoje, é o lugar que transformamos na nossa moradia, nesse período de isolamento.

Por aqui, temos andado a pé. E, nessas pequenas caminhadas entre mercado e farmácia, acabei descobrindo o bairro e a vizinhança, apenas porque mudei o meu olhar. É incrível como a gente não enxerga o entorno e a cidade nessa rotina maluca da vida urbana. Com tantos compromissos, parece que nos desacostumamos a um olhar mais atento e afetivo com os vizinhos e as coisas da cidade.

Nesses dias, chamou a minha atenção como a nossa relação com o território muda quando a gente passa a fazer parte do lugar. Agora acordo todos os dias nessa casa e não estou aqui mais pela festa. Olho os espaços de uma forma diferente, a mata e a montanha em volta, e me reoriento em relação à própria casa, que meus olhos passaram a enxergar como um lar. Me reoriento também em relação à minha própria vida.

Vizinho ao Parque Estadual da Pedra Branca, o bairro tem trilhas e cachoeiras ao redor (Foto Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

Nas minhas pequenas saídas necessárias, fui descobrindo os recantos de Camorim. É possível que muita gente nunca tenha ouvido falar, mas é o bairro onde fica o Riocentro e a Cidade do Rock, um pouco mais à frente do Projac. Pertence à região administrativa da Barra da Tijuca e está encostado ao Parque Estadual da Pedra Branca, na Zona Oeste do Rio. Um lugar de mata verde com trilhas e cachoeiras, e diversas curiosidades como em uma pequena cidade de interior.

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Na rua da nossa casa tem o Beco do Frango. Um cantinho que uma família local transformou há 14 anos em um restaurante a céu aberto, embaixo de uma mangueira. Frango assado feito na máquina, com batatinhas assadas na gordura que vai caindo, arroz, feijão, salada e farofa. Agora tem andado fechado, por conta do vírus, mas estão fazendo entregas em domicílio. A cerveja é gelada, o refrigerante é de litro e a comida é caseira, deliciosa e muito farta.

Mais adiante tem uma pracinha chamada Inominda, que é um charme, com aparelhos de ginástica, parquinho para crianças, pista de caminhada e campo de futebol. Tudo vazio, mas com certeza um lugar que as pessoas devem frequentar bastante em tempos normais.

Fechado por causa do Coronavírus, o horto existe desde 1949 (Foto Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

Mais adiante, encontro o Horto das Acácias, que existe desde 1949, como diz a placa grande vista pelo lado de fora. Não sei como não havia ido antes até lá. Na mesma rua, o Restaurante da Ponte, uma casinha verde de esquina, num dos recantos mais bucólicos por onde passei. E, a essa altura com a curiosidade para lá de aguçada, avisto o Quilombo de Camorim. Nunca imaginei que existisse um quilombo por ali! Meu irmão me conta que fazem oficinas de dança e capoeira, feijoadas, eventos culturais, como a festa de Dandara e Zumbi, em novembro, caminhadas históricas, passeios e visitas ao sítio arqueológico. Quero muito visitar, quando tudo isso passar.

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No final da rua, a surpresa de avistar a pequena igreja de São Gonçalo do Amarante, onde meu irmão se casou há 19 anos e que eu nem lembrava mais. A pequena igreja de fachada branca e porta azul surpreende pela total simplicidade.

Pintura no muro do Quilombo de Camorim retrata igreja colonial construída por escravos em 1625 (Associação Cultural Quilombo do Camorim/Arquivo pessoal)

No meio desse relato, me lembro que num dos caminhos veio em nossa direção uma enorme borboleta azul. Me assusto, aguço os sentidos e fico em silêncio. Borboletas simbolizam metamorfose, transformação, renovação. Lembro da relação da borboleta com Oyá, a dona da minha cabeça. Borboletas representam as várias faces de Oyá, o sinal da alma, o sopro vital. “Oyá laba laba laba ô, o aféfé… (ela é uma borboleta que voa, que voa ela é o vento…)”

Nesse meu ir e vir, entendo que os nossos territórios, geográficos e afetivos, estão aqui mesmo, no nosso cotidiano. E precisam ser visitados, conhecidos, valorizados. Nos caminhos de Camorim, percebo que os sentidos da vida estão sempre na nossa cara, bem diante de nós.

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