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Por Rafael Mattoso, historiador
Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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Educando para transformar a realidade suburbana

O ensino segue num jogo entre reivindicações, resistências e ações

Por Rafael Mattoso Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
14 jul 2021, 16h50

O vírus da Covid-19 segue há mais de um ano afetado a vida dos cariocas, a pandemia vem impondo mudanças severas para todos nós. Infelizmente, ao longo deste percurso, constatamos que os moradores das áreas carentes de investimento público sofrem ainda mais esses impactos negativos.

Não há dúvidas de que entre os principais campos afetados está a educação, onde certamente teremos sequelas a longo prazo, numa dimensão que ainda não conseguimos mensurar. As consequências se tornam mais drásticas nos subúrbios, baixadas, favelas e regiões rurais.

Prestes à chegada do recesso de meio de ano, período que marca o início do segundo semestre escolar, mesmo com altos índices de contaminação, os governos estaduais e municipais já anunciam a volta das aulas presenciais. Todo esse cenário evidencia a necessidade de repensarmos os modelos e práticas educacionais que temos adotado.

Como professor, sei que muitos dos profissionais da rede pública e particular de ensino têm vivenciado, cotidianamente, duras contradições e frustrações. As preocupações vão muito além de como estamos conseguindo ensinar e aprender, mas também como vamos enfrentar a chegada de uma nova variante do vírus. Está tudo muito incerto no momento em que a maioria de nós ainda não tomou a segunda dose e as crianças e adolescentes, principal público da educação básica, sequer se vacinaram.

Os problemas não param por aí. A falta de condições tecnológicas e a crise econômica tornam o desafio ainda mais gigantesco, agravando todo o processo de ensino e de aprendizagem. É muito doloroso ouvir o relato de uma mãe e se sentir impotente enquanto ela fala emocionada que não consegue ajudar os filhos a estudar. Ainda mais sabendo que ela está desempregada, vivendo em uma comunidade sem serviço regular de internet e que ainda precisa tentar administrar o tempo compartilhado do único aparelho antigo de celular que a família dispõe.

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Recentemente, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro apresentou dados que indicam que 54% dos alunos da rede estadual têm dificuldades de acesso à internet. O IBGE apontou que mais de 4 milhões e estudantes da rede pública do país não possuem acesso à internet ou aparelho eletrônico compatível com as plataformas de ensino. Já o Unicef levantou que mais de 5,5 milhões de crianças brasileiras não conseguiram acompanhar as atividades escolares no ano passado. Esses dados precisam servir tanto para pautar ações emergenciais como para gerar uma reflexão profunda sobre de que forma estamos lidando com esse situação.

Existem várias maneiras de educar, de transmitir conhecimentos, experiências e saberes, mas historicamente esses processos pressupõem contato, troca, inter-relações que foram afetadas pela pandemia e por uma preocupante crescente do individualismo. A própria origem da palavra educação vem do latim “educare”, que significa preparar para o mundo exterior, guiar o sujeito para fora de si mesmo, sentido que devemos resgatar o mais rápido possível.

Felizmente não nos faltam exemplos de profissionalismo, paixão e militância pela educação.

Neste mês fui surpreendido ao receber o convite dos alunos da Escola Cidadã Integral Monsenhor José da Silva Coutinho, do município de Esperança, na Paraíba, para falar sobre a educação brasileira no contexto da pandemia. Como fique feliz em ajudar e participar do excelente trabalho de pesquisa feito pelos alunos da professora Kelly Emanuelly, de Sociologia. Da mesma forma que me emocionei ao ler uma bela mensagem da professora Rosane Nery, uma das minha primeiras referências de educação lecionando no extinto Colégio Nossa Senhora da Piedade.

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Outra curiosidade foi receber, na segunda (12), um texto do professor Waldeck Carneiro em celebração ao aniversário de Anísio Teixeira, que completaria 121 anos. Sem esquecer que em setembro comemoramos o centenário do grande Paulo Freire.
Feire já nos alertava, desde sua obra “Pedagogia da Autonomia”: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”

Fota na sala de aula da Turma do Pré-Vestibular Social da Portela
Turma do Pré-Vestibular Social da Portela (Portela/Divulgação)

Os subúrbios estão cheios de projetos voluntários, clubes de leitura, turmas de alfabetização de jovens e adultos, aulas de música, esportes, pré-vestibulares comunitários, entre outras ações que podemos apontar como transformadoras.

Vale destacar que desde a década de 1990, a partir de São João de Meriti, o Frei David Raimundo dos Santos deu início à Educafro. Essa experiência de sucesso motivou uma onda de preparatórios. O pioneirismo na implantação da política de cotas feita pela Uerj, desde 2000, também foi fundamental para possibilitar a maior entrada de pessoas negras e de baixa renda nas universidades públicas.

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Outro belo exemplo é o Centro Comunitário de Capacitação Profissional Paulo da Portela, que vem desde 1998 atuando junto a formação cidadã de crianças, jovens e adultos em seu núcleo de Oswaldo Cruz. No mesmo bairro temos o Departamento de Cidadania da Portela Cultural, onde o amigo e professor Luiz Espírito Santo coordena o Pré-Vestibular Social.

Aproveitamos para avisar que nesta quarta (14) enceram as inscrições para o Pré-vestibular social Dona Zica. Essa bela iniciativa do Museu do Samba, na Mangueira, vai atender a 70 alunos e terá atividades tanto na modalidade presencial como virtual. A novidade fica por conta das aulas sobre a história do samba, com curadoria de Luiz Antônio Simas e Vinícius Natal. O projeto também conta com a atriz Fernanda Montenegro, como madrinha, e Pipa Brasey, como embaixadora. As aulas terão início no dia 9 de agosto e acontecem sempre de segunda a sexta, das 18h30min às 21h30min.

Cartaz de convocação para inscrição do Pré-vestibular Social Dona Zica
Pré-vestibular Social Dona Zica (Museu do samba/Divulgação)

Segundo Nilcemar Nogueira, fundadora do Museu do Samba e coordenadora de projetos da instituição esta “é mais uma oportunidade de cumprir nossa missão e realizar mais um sonho que é de abrir portas para que jovens da favela possam se tornar agentes transformadores de suas próprias vidas”.

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Para Carlos Ferrão, também responsável pelo projeto, “tudo só foi possível porque somos apaixonados pelo samba e pela educação. Pessoas conscientes do nosso sentido comunitário, vamos trabalhar muito para proporcionar oportunidades de estudo e de emprego aos jovens das favelas”.

Já Ygor Lioi, que completa o time responsável pelo EducaSamba, afirma que o projeto “é uma ação organizada da sociedade civil disponibilizando mecanismos que facilitem a mobilidade social para os que mais necessitam, levando cidadania através de cursos profissionalizantes e da possibilidade de um estudo de qualidade que facilite o acesso à universidade pública”.

O edital e formulário de inscrição estarão disponíveis nas redes sociais do Museu do Samba, @museudosamba, e do pré-vestibular social Dona Zica, @pvsdonazica, com informações detalhadas sobre o processo seletivo, incluindo requisitos e os documentos necessários para a inscrição.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfXRLv1hcNEstWhjVp2KD86yGw7V5Rm4z9EA_4UUbdUlxD4Ww/closedform

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