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Por Rafael Mattoso, historiador
Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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Os cinemas de rua suburbanos pedem socorro há décadas

Agora é a vez de ajudarmos o Cine Guaraci para essa patrimônio não ser desconfigurado virando apenas mais um comércio

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Atualizado em 20 jul 2021, 15h39 - Publicado em 19 jul 2021, 16h35

Ano passado, no início da pandemia, convidamos o historiador Luiz Antônio Simas para dar um depoimento ao canal Papo de Subúrbio, no YouTube. Pedimos que o mestre escolhesse abordar algum assunto que lhe chamava a atenção no cotidiano suburbano. Logo, ele resolveu falar sobre a decadência dos cinemas de rua.
Segundo Simas, alguns importantes espaços de convívio comunitário, importantes elementos de sociabilidade da cidade, tal como: barbearias, quitandas, açougues, botequins, livrarias, pequenos comércios, clubes e cinemas de bairro vem agonizando há décadas. Lendo a crônica “Cinema de Rua”, do seu livro “Coisas Nossas”, Luiz Antônio Simas apresenta uma lista enorme com alguns importantes equipamentos que infelizmente perderam sua função original ou foram abandonados.

“Cito só alguns: Bandeirantes, Brasília, Ridan, Abolição (Abolição); Rosário e Mauá (Ramos); Ideal, Jovial, Bruni Piedade, Padre Nóbrega (Piedade); Caiçara (Bento Ribeiro); Paraíso (Bonsucesso); Hermida (Bangu); Brás de Pina (Brás de Pina); Palácio Campo Grande (Campo Grande); Monte Castelo (Cascadura); Real e Santa Alice (Engenho Novo); Irajá e Lamar (Irajá); Alfa, Coliseu, Beija-Flor e Madureira (Madureira); Bruni, Eskye, Paratodos (Méier); Baronesa (Praça Seca); Guaracy (Rocha Miranda); Roulien, Cine Todos os Santos (Todos os Santos); Vista Alegre (Vista Alegre); Realengo (Realengo); Lux (Marechal Hermes); Cisne (Freguesia); Santa Alice (Engenho Novo); Tijuquinha, América, Carioca, Bruni, Olinda, Metro, Art-Palácio, Britânia, Eskye Tijuca (Tijuca).”

Quem acredita que este problema não é atual ou que já não há mais nada a ser feito está muito enganado. Em 2009, o projeto de construção da Transcarioca ameaçava destruir o histórico Cine Vaz Lobo, frente ao claro risco uma forte mobilização se constituiu e conseguiu salvar o prédio. A luta dos moradores e pesquisadores pela preservação do cinema continua e até virou um documentário, dirigido por Luiz Claudio Lima, do Subúrbio em Transe. O curta-metragem acabou sendo contemplado pelo prêmio Curta Rio e mostra como a articulação pela transformação do Cine Vaz Lobo em um Centro Cultural teve início.
Atualmente os moradores se reuniram mais uma vez para também pedir que o Cine Guaraci se transforme em Centro Cultural. Vale destacar que o prédio acaba de ser destombado e o vereador Jair da Mendes Gomes deseja transformar o espaço em uma loja de departamento, sem realizar antes uma consulta pública. O bairro não possui nenhum aparelho de cultura e esperava, desde 2012, que o projeto CineCarioca, do então prefeitura Eduardo Paes, realmente revitaliza-se os cinemas de rua abandonados na Zona Norte carioca. No entanto, apenas o Imperator – hoje Centro Cultural João Nogueira – foi efetivamente restaurado.
Em seu texto Luiz Antônio Simas também segue rememorando: “Lembro-me do meu avô contando da impressão que teve, quando chegou do Recife para morar no Rio, ao entrar no Cine Guaracy, na Rua dos Topázios, em Rocha Miranda. Projetado por Alcides Torres da Rocha Miranda, membro da família em cujas terras o bairro surgiu, o cinema foi inaugurado em 1954 com todas as pompas.
Na época da inauguração o Guaracy foi um estouro: escadas em mármore carrara com corrimão de bronze, colunas gregas, sala de espera espelhada, mais de 1.300 lugares e o escambau. E aí me bate uma tristeza tamanha com o desencantamento da cidade: meu filho terá que se contentar com a neutralidade higiênica das salas de shoppings e suas arquiteturas uniformes. Ele apenas me ouvirá contar, como se fosse um conto da carochinha, do deslumbramento do meu avô.”

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Foto em preto e branco de uma grande quantidade de pessoas na porta do Cine Guaraci, em 1953, para sua inauguração
Inauguração do Cine Guaraci, em 1953 (Internet/Divulgação)

Nesta semana o Movimento Cine Guaraci Vive – composto de moradores de Rocha Miranda e bairros próximos; profissionais do cinema e produtores culturais – retoma uma reivindicação latente, há décadas, na região. Desde o dia 12 de Julho, o movimento firma parcerias com organizações da sociedade civil e apoios parlamentares para que, em acordo com a prefeitura, para que o projeto de um Centro Cultural saia do papel.
O Movimento Pró Cine Guaraci surge em 2012, unindo a Associação de Moradores de Honório Gurgel, Coelho Neto e Rocha Miranda; o Centro Cultural de Coelho Neto; o Movimento Cine Vaz Lobo; Ponto Cine Guadalupe; a Associação Comercial de Madureira e outras organizações da sociedade civil na “Caminhada Pela Paz e Cultura”, onde foi pautada a restauração do cinema.
Este mês começou uma obra, aparentemente irregular, uma vez que o imóvel continua parcialmente tombado e qualquer intervenção não poderia ocorrer sem respaldo técnico ou acompanhamento de restaurador. A reforma prevê utilizar o espaço para fins privados com objetivo de instalar uma loja de departamento no espaço.
Com a notícia da obra, Tainá Andrade – moradora de Rocha Miranda – se uniu a Alexandre Veiga e João Magalhães e tem conquistado grande adesão popular para o Movimento Cine Guaraci. Nas redes e nas ruas, moradores, produtores culturais, cineastas e comerciantes aderiram à causa, além da integração de participantes dos antigos movimentos pala preservação do cinema, entre eles os protagonistas do Movimento Pró Cine Guaraci, do coletivo Fábrica Suburbana e do Cine Clube Subúrbio em Transe.
O grupo utilizou as suas redes sociais no Facebook e no Instagram, além de ir para as ruas no último sábado, 17 de julho, colhendo assinaturas tanto no Parque Madureira como em frente ao Cinema Guaraci.
Nessa próxima terça-feira, dia 20 de julho, o grupo convoca todos para mais um ato público, às 15h, em frente ao próprio cinema na rua dos Topázios, 52, em Rocha Miranda.

Cartaz de convocação para defesa do Cine Guaraci
(Divulgação/Arquivo pessoal)
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