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Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga
Educação
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O skate traz a esperança para o mundo

As crianças e os jovens alegres e amorosos do skate vieram mostrar ao mundo que é bom cultivar amor, amizade e admiração mútua

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Atualizado em 12 ago 2021, 20h43 - Publicado em 12 ago 2021, 19h46

Assistir aos Jogos Olímpicos foi a pausa de prazer que tivemos nesses tempos nublados da vida real. Por que não temos esse prazer das Olimpíadas na vida cotidiana? Em 1938, o historiador holandês Johan Huizinga, no livro Homo Ludens, afirmou que nossa inclinação para brincar/jogar é uma característica principal dos humanos e que esta é anterior à cultura, que, afinal, é o próprio fenômeno humano. A tese de que brincar é condição necessária (embora não suficiente) para a geração de culturas é acalentadora, assim como também a ideia de que as culturas surgem na brincadeira e como brincadeira, e que brincar e jogar são funções civilizatórias.

O objetivo no livro é integrar o conceito de jogo ao de cultura. Para seus críticos, o problema é que a definição de jogo de Huizinga ignora explicitamente as raízes biológicas e a natureza do jogo humano. Na opinião humanista de Huizinga, o jogo tem um significado subjetivo para os jogadores e também uma qualidade ou beleza estéticas. Já a biologia não explica por que o bebê canta de prazer ou por que o jogador se perde em sua paixão. Afinal, a natureza poderia ter dado à espécie humana funções biológicas na forma de exercícios puramente mecânicos. “Mas não, ela nos deu brincadeira, com sua tensão, sua alegria e sua diversão.”

Homo Ludens é um tratado humanista em que “(…)brincar deve ser entendido não como um fenômeno biológico, mas como um fenômeno cultural. É abordado historicamente, não cientificamente.” O jogo é um fenômeno estritamente cultural e não biológico, porque o brincar humano não tem um propósito biológico intrínseco. Mas numa sociedade dominada pela ciência e tecnologia, o jogo e a brincadeira, tão importantes para a humanidade, parecem trivialidades frívolas.

O Homo Ludens apareceu aqui por causa das Olimpíadas, da diversão e do prazer dos jogos para o público e, espera-se, também para os competidores. Afinal, a vida não precisa ser a angústia apressada e pesada a que temos nos submetido, com ou sem pandemia. A vida pode e deve ser divertida. Nossa curiosidade é uma forma de divertimento, que leva a procurar saber das coisas, analisar o que vemos e ouvimos, conversar com os outros, amar amplamente, desde a plantinha que nasce na fresta da janela às pessoas que entram e saem e reentram no nosso caminho.

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Brincar e jogar são parte importante da nossa vida. Temos esquecido da alegria, do prazer e da criatividade de que somos capazes. Entramos no século 21 mal humorados e ressentidos com um sistema que criou profunda desigualdade entre os humanos, que não trouxe o que desejávamos, que frustrou sonhos de construção de um mundo melhor. E passadas duas décadas dentro do século, continuamos a entristecer. Para muitos, hoje, a grande ansiedade ainda é a difícil tarefa de assegurar alimentação diária para tantos que precisam. Para outros é ter mais coisas do que o vizinho.

O trabalho nunca remunera o suficiente para o quanto desejamos possuir, mesmo sem precisar. Nosso valor se mede pelo que produzimos, e acaba consumindo nossos desejos e divertimentos. Será que a humanidade ainda consegue reconstruir uma cultura com base na brincadeira? Um mundo mais divertido? A escola tem tudo para recuperar essa leveza da vida ao propor um aprender desafiador, em que o próprio desafio é divertido.

Mesmo nas Olimpíadas, nos jogos que são parte de nossa cultura, assistimos a atletas denunciando um ritmo de treinos absurdo, voltado para o tormento de ganhar competições. Treinos severos, desde a mais tenra idade, sem descanso, sem alegria, que chegam a provocar depressões. O objetivo oposto ao da competição como divertimento.

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Os Jogos Olímpicos de 2021 tiveram um início estranho por causa da pandemia, da falta de plateia para evitar o risco de contágio. Mas eis que nos últimos dias surge uma turma diferente de todas, que se destaca na alegria dos gestos e brilho no olhar, que chega para brincar na melhor tradição do homo ludens.

Crianças e jovens risonhos e irreverentes invadem a pista de skate, surpreendem as plateias do mundo inteiro com seu comportamento amoroso e solidário com os adversários. Com abraços e desejos de sorte, festejam o encontro, torcem uns pelos outros e vibram com os resultados de todos.

Tomara que tenham vindo para nos ensinar uma nova mentalidade; que tenham vindo mostrar ao mundo que é bom cultivar amor, amizade e admiração mutua. Ninguém de cara feia, triste, cada um faz o que consegue e aceita sucessos e insucessos acreditando que acertará na próxima. E se divertem a valer! Essa meninada encantou o mundo e trouxe a esperança de que estamos precisando. Bem-vinda, galera do skate! Que vocês continuem se divertindo muito e que semeiem essa vibe afável e carinhosa mundo afora.

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